Capítulo 36 - Se beber, não beije

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Amber

Eu sabia que aquela cara de poucos amigos tinha a ver com a visita de Gabriel. Ao vê-lo saindo, Henry me olhou como se esperasse uma explicação, um motivo razoável para ter um desconhecido saindo da minha casa. Mesmo prevendo qual seria sua fala, resolvi agir como se não tivesse entendido.

- Vamos entrar? - perguntei, com um sorriso modesto e forçado.

- Obrigado. - respondeu, sério, passando por mim.

- Não sabia que você viria. Quer beber alguma coisa? - perguntei, na tentativa de desfazer aquele clima. Aquela cerimônia era estranha com alguém que era íntimo.

- Acho que deveria ter avisado que vinha.

Fiquei intrigada pelo tom ácido de seu comentário.

- Henry, o que você está tentando dizer?

Seu olhar me penetrava, porém, me mantive firme e o encarei sem sentir obrigação de me explicar.

- Eu quis fazer uma surpresa e acabei sendo surpreendido. - ele comentou e apontou para o lado de fora da casa.

- Toda essa ironia é sobre Gabriel? Henry, ele veio me trazer um material para testar. Vamos disponibilizar uma linha especial de cafés na loja e ele trouxe...

Henry não pareceu estar sendo convencido, se recostando no sofá, enquanto eu falava.

Parei, respirei fundo e prossegui.

- Gabriel é meu funcionário e estava aqui fazendo uma gentileza.

- Eu imagino o quanto ele pode ser gentil. - disse, com sarcasmo.

- Ser ciumento e debochado não combina com você, Henry. Está tirando conclusões e parece não querer me ouvir. - disse, irritada.

Ele riu e com isso fez minha cabeça ferver de raiva.

- Não é isso que você faz? Não importa o quanto eu tente explicar, você sempre prefere acreditar no que não é verdade.

Ele rebateu de forma tão serena e calculada que me pegou desprevenida. Aquilo doeu. Como se ele tivesse planejado há muito tempo dizer aquilo e finalmente estava tendo a oportunidade.

Olhei pela janela, evitando contato visual, na tentativa de engolir o nó que me apertava a garganta.

Eu não podia ser tão molenga!

Respirei fundo novamente, o som do ar entrando e saindo era audível. Pressionei os lábios, porque não queria brigar de novo, mas precisei quebrar o silêncio desconfortável que pesava naquela sala.

- Fui procurá-la no café ontem e não a encontrei. Sabe quem encontrei? Esse Gabriel, o seu funcionário, falando ao telefone com alguém. Elogiando você e dizendo o quanto foi bom te conhecer, que está disposto a tentar. Tentar o quê, Amber? Estou perdendo alguma coisa?

O relato me pegou de surpresa, diferente do que ele parecia pensar. Nunca olhei para Gabriel daquela forma e imaginei que, se fosse verdade, ele poderia ter confundido minha amizade.

- Ele disse isso? Mas... Deve ser algum mal entendido, ele não... - falei.

- Eu sei o que eu ouvi, Ambs. - Henry me interrompeu, com voz calma e segura. - Ele mencionou uma coisa. Vocês fizeram uma viagem juntos e você quer me dizer que não houve nada? - indagou, com olhar de decepção.

- Fomos a um seminário, sim, mas... - desisti de argumentar. - É nisso que você quer acreditar? Olha, eu estava disposta a pedir desculpas, dizer que senti sua falta, que poderíamos ficar bem, mas parece que você veio sem intenção de reconciliação. Eu não sei qual o seu objetivo em ter vindo aqui, Henry. - ele franziu as sobrancelhas. Aparentemente, com remorso pelo que presumiu.

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