Capítulo 42 - Vinho, fogo e Al Green

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Amber

Três semanas depois

Henry passou dias recebendo visitas, principalmente aos finais de semana. Seus pais, um irmão com a família, depois outro irmão e mais outro. Colegas mais próximos de elenco em visitas breves também iam aparecendo um a um, mesmo que fosse só para deixar uma lembrancinha e saber como Henry estava se recuperando. Isso mostrava o quanto ele era querido e cercado de carinho, mesmo sendo alguém mais reservado.

Depois de uma sequência de visitas, decidi finalmente tirar um tempo só para mim e descansar sozinha na minha casa. Desde aquele período em que passei na Califórnia com a mamãe, vivia tensa, ativa, cuidando, cuidando e cuidando. Sentia o tempo todo que deveria estar em movimento e não me dava o direito de descansar.

Gabriel estava passando quinze dias fora da cafeteria, para atender uma demanda da distribuidora, enquanto eu ficava trabalhando da abertura ao fechamento da loja, supervisionando a nova barista que ele tinha treinado e fazendo o meu trabalho administrativo habitual.

Exausta, expliquei a Henry sobre esse tempo para descansar do ritmo frenético do café. Henry me agradeceu pelo cuidado e disse que eu não deveria me sentir na obrigação de fazer absolutamente nada, dizendo que já se sentia melhor e com autonomia para tarefas diárias.

Ainda que sua família estivesse na cidade, estava tudo bem não fazer sala para eles ou para qualquer outra visita. Só uma delas me fez interromper o sagrado momento de relaxamento.

Continuamos naquele clima de namoradinhos que se veem no final do dia, conversando um pouco no sofá e voltando para casa para dormir sozinho. Entediante, eu sei, mas não havia muito que fazer.

Em uma manhã de domingo com chuvisco intermitente, insisti em levar Jackie para uma corrida pelo bairro. Meu telefone vibrou dentro da braçadeira uma, duas, três vezes. Podia ser urgente. Talvez fosse Jessie para falar da mamãe. Resolvi atender. Jackie ficou confusa com nossa parada súbita.

- Bom dia, amor. - Henry disse, com sua voz grave deliciosa, que eu tinha o prazer de ouvir de manhã.

- Ei! Bom dia! Saí para dar uma volta com Jackie. Tudo bem por aí? - disparei a falar, combatendo o fôlego entrecortado da corrida.

- Estou bem, está tudo certo. Estava pensando se você gostaria de passar o dia aqui. Estou com saudade. - ele disse.

- Ah, eu também estou. Eu posso! Tem algum evento nessa casa agitada hoje ou vamos ficar finalmente sozinhos? - perguntei.

- Então, na verdade, tem visita sim. É a Angie. Ela disse que já estava em Londres e faria uma visita rápida.

- Ah...

Henry percebeu meu descontentamento.

Respira.

Cadê aquela Amber evoluída, paciente e não ciumenta?

- Por isso, gostaria que você viesse. Vai ser rápido e depois que ela for embora, ficaremos só nós dois. Eu prometo.

- Está bem. Eu vou tomar um banho e chego em uma hora pra chutar aquele traseiro magro daí bem rapidinho.

- Certo. Te espero. - Henry disse, rindo.

Não vou dizer que aquela adrenalina não correu de novo pelas minhas veias quando ouvi o nome dela. Foi natural. Porém, dessa vez, saí de casa decidida a não criar caso. Henry foi honesto ao me contar e convidar, tomou cuidado para que não parecesse nada além do que era: a simples visita de uma colega de trabalho, preocupada com sua recuperação. O tempo não me deixa lembrar com clareza se Angie teve atitudes que insinuavam seu interesse por Henry. Pode ter sido só um ciúme infundado? Pode ser que sim, pode ser que não. Agora, ele não iria me cegar.

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