Capítulo 32 - Contra o tempo

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Henry

Kensington

Saio da casa de Amber com a visão embaçada. Encosto em sua porta do lado de fora, respiro fundo algumas vezes, até sentir meus batimentos voltarem ao ritmo normal.

Pego um Uber até em casa, com a mala que trouxe da viagem. O motorista me reconhece da série e, mesmo com algum esforço, não dou atenção ou sou simpático como deveria. Solto alguns "hum's" ou "sim" durante sua fala e quando me dou conta, chego em casa. Deixo a bagagem na sala e vou para o quarto me jogar na cama.

Sinto-me sem forças para fazer qualquer coisa, além de uma dor latejante nas têmporas. Não consigo entender como, depois de tudo o que vivemos, chegamos àquele ponto do nosso relacionamento. Mesmo com todo o cansaço da viagem, depois de tantas horas de voo, não consigo pregar os olhos. Preciso estar de pé às 6h da manhã para outro compromisso, tendo conseguido dormir ou não. Agradeço por não precisar embarcar em outro avião em um período tão curto de tempo.

Entro no carro, coloco uma pequena mochila no banco do passageiro e pego a estrada. Ultimamente, sempre tem alguém para me levar aos lugares e sinto falta de dirigir por longas distâncias. Seguro firmemente o volante, ligo o som do carro e tento esvaziar minha mente. No entanto, só consigo pensar em Amber e na noite passada.

Cheguei a sua casa ontem sem a certeza de que ela teria assistido ao vídeo. Juro que estava pronto para contar. Não apenas sobre o vídeo, mas também sobre Karen. Queria ter me aberto e falado antes sobre relacionamentos passados, mas por não ver tanta relevância nisso, deixei pra lá. Todas as outras relações foram superficiais e breves que era como se não tivessem existido, de fato. Eu tinha Amber! Ela sim, é o meu presente e desejo de futuro.

Conheci Karen Miller nas gravações de "Contra o tempo", o primeiro filme americano que fiz. Éramos o casal principal e gravamos juntos a maior parte das cenas, algumas delas bem picantes. Desde o início da minha carreira, tive facilidade de me desligar de mim mesmo e concentrar apenas no personagem.

O que nos aproximou na época não foram as cenas, foi o tempo fora das gravações. Eu a achava muito bonita, mas não me sentia atraído. Karen tentava parecer sensual o tempo todo e isso me deixava um pouco entediado. No início, eu não queria me envolver, por não parecer correto do ponto de vista profissional e por ser minha primeira oportunidade nos Estados Unidos. Por isso, só ficamos juntos quando as gravações já estavam no fim. Eu não dei o primeiro passo. Era Karen que me ligava, marcava saídas e acabou acontecendo. Estava sozinho há algum tempo e era conveniente estar com alguém outra vez, ainda mais tão longe de casa.

Após o término das filmagens, passei alguns meses em um pequeno apartamento em Nova Iorque, fiz cursos e nosso namoro foi até onde deu. Nossas diferenças ficaram cada vez maiores, pequenas coisas nela me incomodavam, sem falar do ciúme doentio que ela sentia. Eu não consegui levar adiante e acabei terminando. Contudo, Karen levou um tempo para aceitar. Me procurava no apartamento,, me esperava sair das aulas de atuação e se me visse conversando com outra mulher, fazia cena. Foi preciso muita paciência e jogo de cintura para fazê-la entender que não daríamos certo.

Karen foi a última namorada que tive. Me senti tão preso durante os meses que ficamos juntos que não quis passar por aquela experiência de novo. Depois dela, tive encontros casuais e nunca mais me envolvi com nenhuma colega de elenco. Entendi que não tinha como dar certo a mistura de trabalho e prazer.

Em "Contra o tempo", fiz amizade com o diretor Mark Johnson, que me ajudou muito a ampliar minha rede de contatos; facilitando o acesso a trabalhos que fiz posteriormente e me fizeram chegar em Knights of Honor.

Eu estava há mais de uma semana em LA cumprindo uma agenda de trabalhos e nos preparativos para as gravações da segunda temporada da série. Mark sabia que eu estava na cidade e me convidou para ir ao evento. Tentei dar uma desculpa, mas ele insistiu e acabei cedendo. Cheguei em cima da hora decidido a ficar por pouco tempo e tinha em mente uma desculpa qualquer para justificar minha saída. Prestigiá-lo foi o único motivo que me levou à premiere de "A acompanhante", nunca foi por Karen. Porém, encontrá-la seria inevitável, uma vez que ela era a atriz principal.

Thanks, KalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora