Capítulo 4 - Pleasure delayer

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Amber

A decisão de sair do país onde sempre vivi e me aventurar não tinha começado com a mudança para o Reino Unido. Há quatro anos, cansada do meu ritmo de trabalho e de estar imersa no ramo de tecnologia, tive um ano sabático com uma mochila nas costas e muitos tíquetes para fazer minha primeira eurotrip. Motivada por minha amiga Diana,que foi vizinha por alguns anos quando morou nos Estados Unidos acompanhando o marido, comecei a viagem por Londres e a cada mês viajava para um país diferente para experimentar a comida, os costumes, etc. Viver como uma local para mim durante aqueles períodos foi mais enriquecedor do que passar toda a viagem visitando apenas pontos turísticos.

Voltei para São Francisco renovada e sedenta por mais conhecimento de vida, vontade de correr mais riscos e experimentar. Não me encaixava mais naquela rotina corporativa. Queria viver mais com menos. Também sentia muita saudade de Diana e de nossas conversas até tarde da noite esvaziando garrafas de vinho e enchendo o ambiente de risadas. Conversando com ela, ouvi sobre sua vontade de ter o próprio café em um lugar próximo de casa, depois de trabalhar por anos em restaurantes e cafeterias. Diana era uma excelente confeiteira e havia se especializado em café tanto para ter mais oportunidades de trabalho como para se preparar para seu futuro negócio.

Antes de pedir demissão do meu cargo na companhia, fiz economias para investir no nosso negócio, o que me fez permanecer por mais um tempo naquela rotina que não me trazia tanta satisfação. Foi um pequeno sacrifício por um bem maior.

Quando me senti pronta espiritual e financeiramente, comuniquei minha saída com responsabilidade, para que encontrassem outro profissional para o cargo e usei esse tempo para vender a casa e parte dos meus pertences. Aqueles recursos me permitiriam começar a vida nova minimamente suprida. Encontrei uma casa antiga recém-reformada em Kensington em uma boa vizinhança e com um valor que cabia no meu orçamento. O passo seguinte seria me mudar e começar a procurar a loja ideal.

Fico feliz por ter tido um bom começo no nosso empreendimento. Diana era uma pessoa engraçada, alto astral, descontraída e agradável, além de muito comprometida com o trabalho. Era uma verdadeira inspiração aos seus quarenta anos como profissional, mãe, esposa e excelente amiga, acima de tudo. Sentia que tinha muito a aprender com ela sobre a vida. Diana e o marido eram companheiros desde a época da faculdade e pareciam eternos namorados.

Admiro romances longos, aqueles relacionamentos para a vida, embora nunca tenha tido tal experiência. O mais próximo que cheguei foi durante o namoro com Frank, que durou três anos. Jackie foi o que ficou de mais importante depois de tudo terminado, então não podia reclamar por ele ter feito parte da minha vida. Sua infidelidade não permitiu que tivéssemos uma história como a de Diana e o marido. Depositei esperanças demais na relação e só tive decepção em troca, ficando descrente de encontrar um cara bacana, que se importasse comigo, acompanhasse o ritmo de vida mais tranquilo que eu queria ter. Depois de Frank, o melhor era não me apegar para não correr o risco de me machucar de novo.

O fato de Henry pedir desculpas pelo beijo soou totalmente incomum. Pelos primeiros dias, achei que tinha feito errado em demonstrar meu interesse com um beijo no primeiro encontro. Depois de certa idade, alguns receios deixam de existir, principalmente se você for solteira e tiver mais de trinta anos. Henry é um cara bonito, encantador e educado. Justificativas plausíveis para me deixar envolver sem pudores. Mas ele era um homem diferente, parecia querer apreciar o momento, saborear a conquista e eu, apesar de desajustada com seu ritmo particular, estava disposta a curtir o seu jogo. A forma como falou comigo no café, sua linguagem corporal, seu toque... Eu queria mais daquilo.

***

Antes que Henry deixasse o país para retomar as gravações em Moscou, Henry resolveu passar na minha casa para dar um oi. Foi quando sugeri que me apresentasse algum bar interessante em Londres. Ele não só gostou da ideia, como propôs fazermos um pub crawl. Disse que tinha muitos bares bacanas e seria divertido parar em alguns deles para uma cerveja ou um drink.

- Ora, ora. Você não tem cara de que curte esse tipo de programa. - ele pareceu surpreso com a minha conclusão.

- Mas eu bebo. Você sabe disso. - disse, levando a mão ao peito.

Não chegou a entrar. Ficamos conversando como dois adolescentes na porta da minha garagem e não consegui avaliar se era cedo demais convidá-lo para entrar, desde a noite do beijo. Na hora, fiquei bloqueada, mas pensando melhor depois, pensei que éramos dois adultos com mais de trinta anos que pagam suas próprias contas. Era melhor que ele entrasse e ficássemos confortáveis - ou sem roupa - no meu sofá do que conversando em pé na rua, como se minha mãe tivesse proibido o candidato a namoradinho de entrar em casa. Apesar de todos os meus pensamentos, ele não se alongou muito na conversa e no dia seguinte teríamos um encontro.

Novo dia, nova chance de dar mais um passo naquela aproximação. Precisava conversar com alguém sobre minha real expectativa para aquela noite. Então amolei Diana durante o dia no café, contando o status da nossa amizade e o que ele havia dito sobre o beijo que demos.

- Amigável demais... e príncipe demais... ai... - disse Diana criticando e, em seguida, suspirando.

- Ei, estou aqui. - protestei.

- O que é? Estou apenas comentando. - Diana mudou o tom para me aconselhar. - Amber, se ele quer ir devagar e está tomando algumas atitudes, ainda que mínimas, aproveite. Ele pode ser um pleasure delayer.

- O que você está falando? Parece o nome de um brinquedo sexual.

- Você nunca ouviu falar sobre isso? São aquelas pessoas que gostam de adiar algo para apreciar com mais intensidade adiante.

- Nunca ouvi falar. Não brinque com minhas expectativas, Diana Turner! - adverti.

- Entre no ritmo dele, ainda que te cause certa aflição. Você pode usar alguns aceleradores de interesse.

- Por que estou achando que tudo nessa sua conversa leva para o lado sexual? - eu disse, caindo na risada.

- É claro que leva. É disso que estamos falando afinal.

- Ok. Que tipo de aceleradores? - perguntei curiosa.

- Vocês vão sair para um pub crawl, certo?

Tivemos a conversa interrompida por uma cliente indecisa diante da vitrine de sobremesas.

- Bom dia! O que posso lhe servir? - perguntei.

Fiquei aflita com a demora da cliente para escolher e sugeri algumas opções, imaginando que seria ideal algo com pouco açúcar.

- Vai muito bem com café. - falei sorrindo, torcendo para que aceitasse minha dica.


- Acho que vou pedir este. Não posso abusar do doce.

Lucca preparou o pedido e levou à mesa, nos deixando prosseguir com o bate papo.

- Sim. - suspeitei onde Diana queria chegar.

- Use isso a seu favor. Muitos homens ficam mais soltos depois que bebem. Vamos ver até onde ele sustenta essa postura de certinho.

- Diana, sua danada!

- Ser mais experiente serve para alguma coisa, não? - disse, convencida com seus conselhos.

Depois de enxotada mais cedo do café por minha sócia, fui para casa passar por aquele processo de aflição e ansiedade que era me arrumar para um encontro. Peguei na gaveta uma calça que imitava couro e uma blusa leve e solta com um grande decote em v nas costas. Eu não estava pra boa coisa! Queria que me olhasse de um jeito diferente. Decidida a parte mais difícil deslizei os pés dentro de um par de sandálias de salto alto e prendi o cabelo em um rabo de cavalo, já que não teria tempo suficiente para lavar, secar, etc.

Quando abri a porta para Henry, foi totalmente esperada - por mim - a reação.

- Caramba! - exclamou.

- O que foi?

- Não estava pronto para isso. - balançou a cabeça em negação e sorrindo. Score! - Está pronta?

- Prontíssima. Vamos? - tranquei a porta e esperei sinceramente que ainda fosse capaz de abri-la com a mesma agilidade na volta.

Thanks, KalWhere stories live. Discover now