Capítulo 38 - Assumindo riscos

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Frankfurt, Alemanha

Henry

- Henry! Henry! É a sua deixa. - Angie sussurra, me chamando atenção no ensaio, na intenção de que mais ninguém percebesse a minha terceira distração no dia. A equipe já está se preparando para filmar, enquanto ensaiamos uma última vez já no local da cena.

Peço desculpas, tentando pegar a espada na bainha, mas desisto em seguida.

- Pessoal, podemos ter um intervalo? - pergunto já me retirando do set. Dirijo-me à mesa de bebidas e lanches, pego uma garrafa d'água e me sento.

- Está tudo bem, Henry? - Angie me acompanha e senta ao meu lado.

- Sim. Só não estou em um bom dia.

- Acho que você não tem tido bons dias ultimamente. Sei como é trabalhar com você e... - tenta escolher as palavras, para não ser indelicada. - Na maior parte do tempo você se entrega e é incrível, mas em alguns momentos parece que sua mente não está aqui. Não sei o que está acontecendo, mas às vezes é bom conversar com alguém.

Abro a boca para pedir que não se preocupe comigo, mas Angie continua.

- Sei que você é um cara reservado e eu respeito isso. Só acho que, às vezes, conversar é bom, pôr para fora. Talvez com alguém que você se sinta mais confortável. - termina a frase olhando para Chuck, que se aproxima, e em seguida olha para mim.

- E aí, cara? A Kate, da produção, disse que você não está se sentindo bem. - Angie dá um sorriso para nós dois e se afasta em direção ao set.

- Estou bem, só precisava de um tempo.

- Você vai ficar nessa... - O celular de Chuck toca. - Eu tenho que atender essa ligação. Mas precisamos conversar.. Você vai me contar o que aconteceu nessa ida para casa para deixar você assim. Vou fingir não saber que foi com a Amber. Alô! - Ele coloca a mão no microfone do celular. - Enquanto isso, vamos trabalhar! Estamos atrasados com a cena!

Termino minha água, respiro fundo algumas vezes e olho para o céu. Nos últimos dias tem feito sol, mas hoje ele não aparece. Vejo algumas nuvens se aproximarem, incorporando outras e tirando a chance de ele voltar a aparecer. Me sinto frustrado. Em um pensamento absurdo, sinto que o sol brilhando no céu teria o poder de me fazer sentir melhor, pelo menos 1%. Jogo a garrafa no lixo, afasto esses pensamentos e volto com a equipe à minha espera.

Seguimos com a rotina de filmagens mais intensa ao longo da semana, pois temos alguns atrasos em razão de alguns figurinos e itens do novo cenário que levaram mais tempo para serem finalizados. Apesar dos efeitos especiais utilizados na série, Chuck faz questão que o set de filmagens seja composto por cenários realistas.

Fico com a sensação recorrente de estar aquém na interpretação, na entrega e na força que pede meu personagem. Chuck tenta me tranquilizar dizendo que eu faço o meu papel com maestria quando a câmera começa a gravar. Vendo minha incredulidade, ele me convida para assistir às cenas no monitor. Saem melhores do que imagino. Ainda assim, não consigo deixar de pensar que poderia ser melhor se estivesse inteiro e não me sentisse tão ferido por dentro.

***

Na semana seguinte, a produção muda a locação para uma área externa há duas horas de distância. Gravamos as cenas de guerra com a participação de centenas de figurantes, além das filmagens com o cavalo e um toque de computação gráfica.

Cameron é o treinador nas cenas com cavalos, com enorme sensibilidade para adaptar a montaria à interpretação, com trejeitos e postura para o personagem, detalhes que fazem diferença na câmera. Angie e eu fazemos alguns de nossos treinamentos juntos, pois teremos uma cena de perseguição cavalgando em alta velocidade. Ela faz equitação desde pequena e é praticamente uma amazona, já eu tive aulas de montaria para trabalhos antigos, mas preciso me aperfeiçoar.

Thanks, KalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora