A Vigésima Sétima Carta

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Campos Verde, maio, 2019

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Campos Verde, maio, 2019

Querido Moabe,

O mais novo cliente da Toy Games é um machista idiota, ele teve o disparate de dizer que como mulher não entendo de vídeo-games, depois de quinze minutos tentando explicar que sim, eu entendo de vídeo-game, afinal, é meu trabalho e já estive envolvida na criação de seis projetos e assinei outros dois, desisti de explicar qualquer coisa, virei-me para Eliseu, o antigo estagiário recém efetivado, e para Eli e disse as exatas  seguintes palavras.

-- Não vou me envolver em um projeto onde não serei respeitada como designer, eu não estou fazendo anotações porque sou a assistente, estou fazendo porque sou a designer. 

Fechei meu notebook e deixei o restaurante caro que estávamos há mais de duas horas e neste tempo todo o babaca do Filemon Rodrigues em momento algum me respeitou como designer, para ele eu estava ali apenas para fazer anotações para Eli e Eliseu e se estivessemos no escritório provavelmente ele teria me pedido café. Assim que cheguei no carro meu celular tocou e Eli me mandou voltar para o restaurante, porém, eu apenas afirmei mais uma vez, Moabe, não iria voltar para ouvir absurdos tão grandes, disse que se o tal do Filemon queria uma design competente que ele marcasse um horário com a nossa assistente. 

Eu sei que deixar uma reunião assim é imaturidade, mas aprendi uma coisa nos últimos dois anos e meio, babacas como Filemon que enxergam nós mulheres apenas como objeto de ornamentação precisam de medidas extremas para nos respeitar. E se eu perdesse a conta dele estaria tudo bem, tem uma pilha de projetos entediantes me esperando. Porém, não perdi a conta do Filemon, ele marcou uma reunião comigo para a próxima sexta no pior horário possível, às dezessete e meia e ouvi de Eli que é bom eu deixar nosso cliente mega feliz e contente ou vou ter que começar a enviar currículos, foi a primeira vez que Eli ameaçou me demitir, nem mesmo naquela reunião super tensa onde tiraram O Projeto das minhas mãos ele foi tão direto e foi levemente assustador. Eu não tenho medo de ser demitida, esse medo não me pertence, Moabe, eu tenho medo é de não conseguir um emprego novo na minha área, porque a Toy Games foi meu primeiro emprego como estagiária e fui efetivada, ou seja, tenho uma única experiência e neste mercado de trabalho maluco isso é muitas das vezes considerado pouco. 

Resumindo: tenho que me esforçar para fazer um excelente projeto para um machista que pode determinar meu futuro dentro da Toy Games.

Aff.

Outra reunião que me deixou irritada e assustada, principalmente assustada, foi a que tive com a mestre doutora Ana de Jesus Teixeira, minha nova orientadora da pós, o meu medo quando Ezequiel era meu orientador (e quando me abandonou) era pedir extensão de prazo por falta de orientação, agora meu medo é pedir extensão de prazo por orientação demais. A mestre doutora Ana de Jesus Teixeira me mandou dois emails nos últimos dois dias questionando sobre meu rendimento na dissertação e depois devolvendo meu texto com cinquenta e cinco por cento grifado em laranja que significa: refaça; e cinco por cento em vermelho: apague. Esse artigo está sendo muito pior que a monografia que eu escrevi e eu achei que nada pudesse ser pior que aquele pesadelo. 

Tanto é que não visitei Ruth e Sarah nestes dois dias e indo contra todas as possibilidades, estou com saudades. Tenho conversado bastante com a Ruth e por mais maluco que isso possa parecer, temos bastante afinidade. Ela  fala bastante da filha, mas nosso principal assunto é Deus, principalmente agora que me reconciliei, ou seguinte a Ruth, finalmente aceitei Jesus, porque para ela eu nunca fui verdadeiramente conciliada a igreja, já que não tinha levantado a mão, apenas crescido no berço. 

Levando em consideração esse ponto de vista ela está certa e isso engrandece ainda minha atitude de aceitar Cristo como meu Salvador. A Becca concorda com ela, porém minha mãe discorda, nisso eu simplesmente sigo " o baile", porque o que realmente conta é eu estar andando cem por cento com Cristo, inclusive me senti muito desconfortável ontem quando coloquei uma calça jeans, dez minutos depois a tirei e falei para minha mãe doar.

Contei para a Ruth o episódio da calça, ela riu e me disse que está louca para Sarah receber alta porque vai surpreender todo mundo, quer ir na igreja, está com saudades dos cultos. Isso por si só já é bastante surpreendente, uma vez que ela declarou há mais ou menos quatro anos que era agnóstica; porém, afirmou que não é essa surpresa que tem para nós, mas manteve silêncio de qual é a surpresa verdadeira.

E estou contando isso porque minha mãe acabou de  chegar do hospital e adivinha? Se Sarah continuar apresentando as melhoras significativas que têm apresentado (finalmente começou a ganhar peso, está com quase três quilos) dentro de no máximo dez dias ganha alta, porque o seu problema cardíaco é sério, mas não precisa de cirurgia imediata, apenas acompanhamento médico e remédios, obviamente, querem esperar até pelo menos um ano de idade para falarem mais uma vez sobre cirurgia. 

E esse pequeno milagre da Sarah já é motivo mais que suficiente para estarmos todos no mais puro êxtase, aliado a essa surpresa da Ruth, a expectativa pela alta é gigantesca!

Bom, é isso. Preciso voltar para a frente do computador, ainda não atingi a meta de seiscentas palavras diárias do artigo e só posso parar depois de atingir a meta, caso queira escrevê-la no prazo certo.

Com amor,
Laura

[CONCLUÍDO] CARTAS À MOABE - O Encontro de Uma Mulher Com Seu Deusحيث تعيش القصص. اكتشف الآن