A Trigésima Sétima Carta

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Campos Verde, setembro de 2019

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Campos Verde, setembro de 2019

Querido Moabe.

Meus pais irão voltar para missões em outubro, hoje os levei para São Paulo, onde passaram as próximas três semanas em "treinamento" e depois Moçambique por sete semanas e voltam para casa. A cúpula da nossa igreja decidiu que não enviará missionários para missões seguidas, exceção a casos específicos, que não é o caso de Judá e Lia Matias, pelo menos não neste momento. Eu estou feliz, pois vamos tê-los em casa por mais tempo, ainda mais agora que minha mãe está com diabetes, mas também estou triste porque eles estão tristes com isso. Meus pais passaram os últimos treze anos vivendo o Ide do Senhor e agora terão que se adaptar a viver quase que fixados em um lugar só, não sei se meus pais conseguem lidar com a inércia, Moabe.

Eles ainda farão missões obviamente, mas com menor frequência e em lugares pontuais. Como o continente africano, a América Latina e a Europa Oriental (ainda se usa esse termo, Europa Oriental? Tô por fora da nova configuração de geopolítica). Oriente Médio e Ásia estão  fora do novo roteiro, o que os desanimou um pouco, pois estão ansiosos por uma missão no Afeganistão, isso mesmo, o sonho dos meus pais é fazer missão em um dos países mais anticristão do globo, que por sinal está imerso em uma guerra que parece não ter fim, tudo porque o grande sonho de dona Lia é estabelecer a igreja no Afeganistão. 

É um sonho bonito. 

É um sonho louco, que provavelmente custaria a sua vida.

E se eu fosse menos egoísta apoiaria cem por cento, mas como não sou imparcial e quero ver a velhice dos meus pais concordo com Davi quando ele diz que minha mãe deve ficar feliz por estabelecer a igreja em lugares de paz que não conhecem a Água da Vida ainda. Mas hoje, Moabe, quando os deixei no Lar Philadelphia (o lugar que abriga em São Paulo tanto os missionários que vem pra cá - que não são poucos - como os que estão em treinamento para ir para fora) ela parecia tão apática, até perguntei se eles não queriam ir ao Ibirapuera, que é um dos lugares preferidos da minha mãe em São Paulo, mas ela disse que  estava cansada. Minha mãe nunca diz que está cansada, Moabe. Me senti tãi mal, porque foi hoje que eles receberam a negativa sobre o Afeganistão, pelo menos ninguém irá no lugar deles, pois a cúpula optou por não enviar missionários por um tempo para o Oriente Médio, por inúmeros motivos, alguns óbvios como o clima de instabilidade de lá.

Mudando completamente de assunto, o casamento de Tito e Queila foi lindo. Foi um casamento pequeno, ou como diria Ruth, um mini weeding, tinha umas sessenta pessoas apenas (e a maioria eram parentes nossos) e resumiu tudo o que um casamento deve significar, amor, companheirismo e lealdade. Até me deu vontade de casar, o que me fez questionar se ainda vou me casar em algum momento da vida, porque eu gostaria de casar, mas não me vejo casada, entende, Moabe? Clara diz que é porque nunca amei ninguém de verdade, minha mãe diz que é porque não é tempo de pensar nessas coisas, meu pai disse que ninguém se sente casado até estar casado, e até me lembrou que tem muitos jovens disponíveis na igreja e teve o carão de convidar o Josafá para um almoço de domingo, onde deveria ser apenas a família e ainda insistiu para que fizéssemos um dueto. Meu pai é muito sem noção, as vezes, sério.

Fiz o dueto com Josafá e tive que ouvir do Lucas que fazemos um bom par, porque eu contei que cantei com o Josafá, achei que fosse só mais uma coisa rotineira, agora não passa um dia que Lucas não me pergunte sobre ele. Aff. O que acontece com os homens ao meu redor? Porque eu já disse que não tenho nenhum interesse no Josafá (ou qualquer outro rapaz) e ainda assim eles insistem em dizer que preciso de um par. 

Voltando ao casamento. Conheci a Kathleen e ela é simplesmente adorável, maravilhosa e toda sorte de adjetivos bons que tem. Ela nos passou tanta paz e tranquilidade que até agora não entendi como Marcos pode ainda não tê-la pedido em casamento, ou pelo menos em namorado para não deixá-la assustada. Kathleen é o tipo de pessoa que todo mundo quer ter por perto e eu preciso parar de criar expectativas sobre ela vir a ser da nossa família, vai que acontece dela não ser. 

Ainda sobre o casamento, Ruth comprou um vestido tão lindo para a Sarah que eu quase que pedi um igual, era de tule azul e tinha uns borbadinhos na barra, óbviamente Sarah também estava usando uma faixa da mesma cor na cabeleira castanho-escuro. Ela era a coisinha mais linda do mundo e todo mundo queria segurá-la ou apertar suas enormes bochechas (porque ela tá bem gordinha). Enfim, só queria contar de como a Sarah estava linda e como Ruth e eu temos nos tornado melhores amigas! Ela até me obrigou a me inscrever naquele programa de graduação internacional da Fundação Lolla, porque seguinte ela é uma oportunidade boa demais para se perder.

Principalmente porque  estou oficialmente desempregada e a falta de tempo não seria um problema para cumprir o requisito do trabalho voluntário em janeiro. Eu deveria estar triste por ter sido demitida da empresa onde passei os últimos quatro anos trabalhando, um ano e meio como estagiária e quase três como designer de games. Mas eu não estou, quando Eli me convocou ao escritório há duas semanas e me disse que por um corte de funcionários ele teria que me demitir, eu fiquei surpresa e depois aliviada. 

Completamente aliviada. 

Foi como tirar duzentos quilos de concreto dos meus ombros. E desde então tenho me dedicado ao artigo da minha pós (que milagrosamente está na metade e só Deus sabe como tô conseguindo fazer), a obra do Senhor e a mim mesma. Descobri coisas que eu gosto de fazer e nem  sabia que gostava como cozinhar, correr (com Mozart, claro) e escrever (mas isso é um segredo, eu tenho alimentado aquele arquivo do word, que era para ser só de ideias, quase que diariamente e já está grandinho, porém, morro de vergonha de admitir que nem sempre que passo horas na frente do computador estou fazendo meu artigo) e redescobrindo o gosto por coisas que eu costumava gostar antes de me afundar em coisas que era mais importante para os outros do que para mim, como observar as estrelas, costurar fantoches, cantar… Enfim, tenho me redescoberto e está ótima a experiência. 

Com amor,
Laura

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Amo muito esse gif da Blair, pra dizer a verdade amo muito a Queen B

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Amo muito esse gif da Blair, pra dizer a verdade amo muito a Queen B.. E achei que esse gif expressa exatamente como a Laura esta nesse momento.

Beijos e chocolates, até quarta.
Juliane Patrícia, 07/10/2019

[CONCLUÍDO] CARTAS À MOABE - O Encontro de Uma Mulher Com Seu DeusWhere stories live. Discover now