A Trigésima Nona Carta

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Campos Verde, novembro de 2019

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Campos Verde, novembro de 2019

Querido, Moabe.

Fiz uma descoberta fenomenal. Minhas cartas para você começaram a escassear quando eu tive forças novamente para orar, foi onde compreendi. Escrevi por todo esse tempo para você não apenas para responder a pergunta quem é Moabe, mas principalmente porque eu queria falar com Deus e simplesmente não sabia como fazer isso, escrevendo para você eu falava com Deus, você foi meu intermediário e foi a melhor desculpa para falar com Ele sem saber como fazer.

Acho que foi por isso que nunca foi estranho escrever para você, porque eu nunca estive de fato escrevendo para um desconhecido, eu escrevia para meu melhor amigo, para meu grande amor, para Jesus Cristo.

E foi por isso que descobrir quem é você foi um choque. 

No fim, você não era fruto da minha mente. Era real. Continua sendo real e até onde Miquéias conseguiu descobrir morava em São Paulo e fez acompanhamento médico direitinho até vinte meses atrás. A história como descobri quem é Moabe é engraçada e me mostra que realmente não me esforcei para descobrir quem era você.

Mimi ainda estava aqui no sítio (ela está no Lar Philadelphia se preparando para ir ao vale do Jequitinhonha para uma missão de dois meses) e foi me ajudar a arrumar minhas coisas, porque eu também passaria alguns dias em São Paulo fazendo um cursinho de extensão de duas semanas… Enfim, ela estava me ajudando a arrumar a mala quando fui receber o Lucas, que terminou com a Rebecca (e ela voltou a ser a Antártida comigo), pois Deus não confirmou o relacionamento deles. Ele estava triste, porque gosta dela e ao mesmo tempo feliz, porque Deus falou com ele antes de usar os seus profetas; passamos algum tempo conversando -- até deu tempo de fazer cookie -- e quando ele foi embora encontrei Mimi lendo um papel com linhas verdes, que reconheci imediatamente como do caderno que usei para te escrever. 

-- Eu não sabia que você ainda tinha contato com o Moabe -- disse assim que me viu parada a porta. Minha expressão deve ter sido da mais pura confusão e, não era de se admirar, ela falou como  se realmente soubesse quem era você, pois completou. -- Achei essa carta e fui ver se era lixo, já que estava perdida e amassada no meio das suas blusas e me desculpa, quando percebi que era uma carta para o Moabe, não resisti a curiosidade e li. E como ele está?

-- Mimi, você está me deixando confusa. Como você conhece o Moabe?

-- Você falou tanto dele, que é impossível não sentir como se o conhecesse, mesmo que eu nunca o tenha conhecido de fato.

-- Eu falei?

-- Tá tudo bem, Lala? Eu não estou entendendo muito bem…

E foi assim que respirei fundo e contei para ela, tudo o que eu sabia era um bilhete que você me enviou e como comecei a escrever cartas-diário à Moabe. Mimi riu e me contou a história mais doida, nos conhecemos quando eu tinha dezoito anos e doei medula óssea para você, e juro que mal me lembrava disso, talvez porque voltei a doar medula óssea aos vinte e um e continuo cadastrada para uma nova doação, ou talvez, porque bloqueei boa parte daquele ano... Foi um ano difícil, Moabe, foi o ano que saí da igreja e toda a minha vida parecia conflituosa ou muito sonsa… Enfim, eu havia me esquecido que durante alguns meses troquei bilhetes com você. Já deu para ver minha memória é terrível, certo?!

Ainda no hospital, você me mandou um bilhete através de uma enfermeira, eu respondi e assim iniciamos a troca mais estranha de correspondência. Depois que a Mimi me contou, eu procurei nos meus diários (sim eu mantive diários até os meus dezoito anos) e de fato relatei várias vezes a nossa troca de bilhetes. Por isso que eu disse que não havia me esforçado o suficiente para te encontrar. 

Lendo os meus diários me lembrei vagamente desta troca de bilhetes e até achei alguns colados nos cadernos. Achei fofo. Também me descobri lendo os diários que paramos de nos escrever quando seu quadro teve complicações e você precisou ficar em isolamento absoluto por causa de uma infecção generalizada. Foi por isso que pedi para o Miquéias ser antiético e pesquisar você no sistema do hospital, bom, a Ruth pediu e depois de muito insistir ele coletou as informações que o hospital de oncologia de Cosme* tem nos arquivos. Você recebeu alta há quase dois anos depois de entrar em remissão em dois mil e dezesseis e com exceção de um quadro de  alergia simples há vinte meses não ficou mais doente. Ele também me disse seu nome completo.

Eu não resisti e joguei no Google. Fui direcionada para seu perfil no Facebook e também para os dois artigos sobre a quarta geração da informação que você escreveu, por sinal achei os artigos muito interessantes. E o seu perfil no Facebook me contou que você é contra testes em animais, tem uma paixão estranha por lagartos e mora em Tehra há algum tempo, na parte grega da ilha, pelo menos foi o que minha stalker favorita, Bel, falou, já que a maioria das suas localizações são ou em Cosalva ou em Poseidon ou ainda no vale dos Titãs (eu nem mesmo sabia que esse lugar era real, para mim era só o nome daquele filme do Zac Aaron!), mas a sua última foto foi no museu de arqueologia da Cidade de Tehra e isso foi há um mês. 

Enfim, agora que eu tenho absoluta certeza que você é real e acho particularmente estranho continuar lhe escrevendo. Eu nem sei explicar, só é estranho imaginar você em uma ilha paradisíaca vivendo uma aventura atrás da outra e o quanto seria desestimulante receber minhas cartas, por isso que depois de refletir (e concluir o que falei no começo desta carta, eu posso falar diretamente com Deus novamente) decidi que não vou continuar te escrevendo. Talvez até escreva uma ou outra carta em momentos pontuais, porém, não está nos meus planos persistir neste hobbie por mais que eu goste de escrever cartas à Moabe, eu prefiro falar com Deus. 

Espero que você viva o mais feliz possível, pois é isto que farei daqui para frente agora que voltei para a casa do meu Pai. Também quero que você saiba, Moabe, que continuarei te esperando nos meus sonhos, idealizando o você que criei na minha imaginação nos últimos meses.


Com todo meu amor,
Laura Matias 

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Oie.

É o fim. Oficial. Real. Mas sexta tem epílogo.

Obrigada por ter acompanhado CAM até o fim.

O que você achou da história da Laura?

Amei conhecer a família Matias e na minha história nova tem crossover... porque crossover 💕🥰

Falando de história vou demor a voltar aqui no Laranjinha mais amado de todos, mas deixo o convite para você ler uma das minhas outras histórias, tenho dois romances e dois contos aqui no meu perfil. É só isso mesmo, mais uma vez obrigada.

Beijos e chocolates, até sexta.
Juliane Patrícia, 09/10/2019

[CONCLUÍDO] CARTAS À MOABE - O Encontro de Uma Mulher Com Seu DeusWhere stories live. Discover now