03_ Cu calvo.

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Heaven Quinn

O escritório do diretor tinha tudo pra ser confortável.

Tons castanhos por todo lugar. Livros antigos e recentes nas estantes atrás da sua mesa. Cadeiras de couro que eram ótimas para fazer piadas. Tinha até sofá e uma mesa de centro que ele botava chá, ótima para fofocar e falar mal de todo mundo.

Mas a única coisa que tornava essa sala nada confortável era o homem sentado na minha frente.

- Você sabe porque eu te chamei. - Ele começou, girando o anel do seu mindinho.

- Não, na verdade, eu não sei. - Inclinei a cabeça para o lado.

Se ele espera que eu me entregue tão fácil, ele tá enganado, porque o nome do meu demônio é Katia.

- Não brinque comigo, Heaven. - Ele falou entre dentes.

- Por que eu faria isso? - Fingi estar ofendida.

O diretor me observou por longos segundos, semicerrando o olhar quando chegou aos meus olhos.

- Existem várias semelhanças entre você e a sua mãe, na aparência, claro. - Soltou, parando finalmente de brincar com aquele ridículo anel e descansando na cadeira.

- Não fale sobre a minha mãe. - Fechei a cara instantaneamente, sentindo o meu corpo todo ficar duro.

Seria um péssimo dia para ter pau.

- Por que eu não falaria da minha própria irmã? - Ele ergueu a sua sobrancelha e eu ergui o meu queixo. Era sempre assim.

- Você sabe o porquê.

- Porque ela está morta? - Ele perguntou simples e eu senti a raiva me preencher.

- Não. - Determinei. - Você não vai usar a minha mãe para me fazer arrepender dos meus erros.

- Você admite então que são erros? - Ele permaneceu quieto na cadeira enquanto eu me controlava para não levantar.

- Eu admito que eles são meus, e não algo que o "diabo" me obrigou a fazer. - Cuspi com ódio.

- O que o seu pai acharia disso? Ele foi o homem que me inspirou a abrir este colégio interno católico. - Semicerrou os olhos pra mim e a minha garganta queimou antes de começar a se fechar.

- Não fale sobre o meu pai. - Cortei. - Você não sabe nada sobre ele.

- Eu sei que ele matou a minha irmã.

- Foi um acidente! - Levantei da cadeira desacreditada. - Que matou ele também. - Apontei o dedo para o diretor com ódio.

- Heaven, sente. - Mandou.

- Eu não vou ficar aqui ouvindo você falar mal dos meus pais e usar eles em sua vantagem para qualquer argumento ridículo que você tenha. - Respirei fundo, não me permitindo chorar. - Você não tem esse direito. Eles eram meus pais. Meus!

Era sufocante estar perto dele. Estar perto de qualquer coisa que me lembrasse da minha família morta e de como a ausência deles ainda me afetava.

- E o que você vai fazer então? Vai sair daqui e transar com qualquer aluno ou aluna em um armário? - Apoiou os cotovelos na mesa enquanto gesticulava.

Eu permaneci em silêncio.

- Ou será na biblioteca? No seu dormitório? Em uma sala de aula? - Me deu um sorriso forçado. - Ou talvez você prefira correr dos seguranças, fugir do colégio de madrugada, vender e consumir drogas?

O diretor abriu uma gaveta e puxou o que pareciam ser imagens de câmeras de seguranças onde eu aparecia fazendo várias coisas, em várias posições, em vários locais.

Eu não vou entrar no céu, de certeza, mas ninguém merece essa humilhação.

A primeira imagem que ele jogou na minha frente era uma em que eu cavalgava um garoto.

Eu nem tinha me depilado nesse dia...

- Sem resposta? - Provocou e eu cerrei a minha mandíbula assim como os meus punhos.

- Me expulse, então. - Olhei no fundo dos olhos dele e vi o ódio quase saltar dos seus olhos azuis para me estrangular.

- Você sabe muito bem que eu não posso! - Ele se levantou da cadeira e eu recuei. - O que as pessoas falariam?!

É sempre "o que as pessoas falariam?" e nunca "o que a minha sobrinha sente?".

- Assim como as pessoas falaram de você quando a minha mãe morreu? Ou como quando você teve que me acolher aqui porque nenhum membro da família dela me queria? Da sua família. - Cuspi, me aproximando dele, apesar da mesa ainda nos separar.

- Não use sua mãe. - Ele apertou os olhos recuando.

- Claro, porque tá tudo bem você usar ela, mas quando eu toco no nome dela, eu sou um monstro?

- Você está se tornando um monstro, Heaven! Fazendo coisas inacreditáveis e horríveis no nome de Deus. O que você vai fazer em seguida? Matar?

- Eu estou considerando me matar, sim. - Sorri falsa pra esconder o quão fundo as suas palavras me atingiram.

- Você não é nada como a sua mãe. - Falou, começando a arrumar os papéis na sua mesa, assim como ele fazia toda vez que ficava nervoso ou confuso.

- Não diga isso como se esperasse me machucar. - Semicerrei os olhos franzindo as sobrancelhas. - Ainda bem que eu não me pareço nada com ela. Seria uma tragédia pra você ter que olhar pra mim e não ver apenas a aparência dela, mas também a personalidade.

- Você não se parece nada com o seu pai também. - Levantou o rosto dos papéis para me encarar. Os seus olhos brilharam com algo que parecia ser mágoa.

Agora essa machucou.

- O que mais você vai dizer? "O seu pai estaria decepcionado com você, os seus pais não te criaram assim, você está desperdiçando a sua vida, o que aconteceu com a pequena garota angelical que eu conheci?" - Coloquei as mãos na mesa dele e ele imitou o gesto.

- Você realmente não liga para o que acontece com você, liga? - Percebeu e eu prendi a respiração. - Mas você liga para o que acontece com os seus amigos, os gêmeos Frost, Niani e Nolan, certo?

Eu não sei que tipo de expressão eu tinha no meu rosto, mas qualquer que seja, ela fez o diretor sorrir com orgulho.

- Heaven, se você não parar com esse comportamento doentio, você vai sentir as consequências. Não apenas em você, mas também nos seus amigos. - Ameaçou e eu ergui o queixo. - Você andará com uma assistente conselheira do comitê do colégio, terá todas as suas aulas e intervalos observados atentamente, as suas janelas e portas serão trancadas a uma certa hora, e a mesma assistente que te acompanha revistará o seu dormitório semanalmente, começando hoje. - Declarou tudo com as mãos nos bolsos.

Eu permaneci em silêncio, apenas encarando o homem na minha frente que achava com as suas duas cabeças que tudo isso me pararia.

A única parte das suas ameaças que me preocupava era a Niani e o Nolan.

De resto, ele podia tomar bem no meio do cu calvo dele.

continua...

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muita calma nessa hora, porque sim, piora.

O Inocente Aluno NovoWhere stories live. Discover now