32_ Salvação.

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Heaven Quinn

... e nem quando olhos azuis e verdes me encararam.

James.

Era como se todo o pouco ar restante do meu corpo fugisse de mim, odiando ser parte do meu ser.

Eu entendia. Eu também odiava o meu ser.

Odiava o que eu me tornei.

O meu corpo queimou sob o olhar preocupado do James, porque pela primeira vez, era como se ele não me enxergasse.

Ele não via os meus olhos, apenas o desespero neles e as lágrimas que caiam. Ele não via as minhas mãos, apenas o pânico que fazia elas tremerem. Ele não via as minhas coxas que ele adorava tocar, apenas os cortes e o sangue escorrendo por elas.

E pela primeira vez, ele me enxergou.

Ele viu, finalmente, o caos que eu sou.

Ele sabe, por fim, que eu sou uma confusão.

Eu esperei que ele fugisse, como todos da minha vida fizeram, porque era isso que acontecia quando eles finalmente percebiam a confusão que eu sou.

Não importava o quanto eles me amassem, pois o momento que eles me viam, eles iam embora. Quer fosse por escolha, pelas circunstâncias ou pela morte.

Mas o olhar do James apenas se afundou na preocupação, as suas mãos pulando para os meus braços, me segurando como se ele tivesse medo que eu estivesse prestes a quebrar.

O meu corpo tremeu, engasgando no ar que tentava passar por mim, e esse ato só fez o James colocar as mãos no meu rosto, não se importando com as minhas lágrimas molhando as suas mãos.

Ele não parecia se importar que algo tão impuro como as minhas lágrimas tocava as suas mãos puras.

- O que aconteceu? - Ele perguntou, a sua voz fraca com a incerteza.

Ele não sabia o que dizer, ou o que fazer, então ele apenas me segurou, mesmo quando eu tentei empurrar ele.

Em completo desespero por ar, eu agarrei os seus braços, cravando as minhas unhas na sua pele e tentando tirar as suas mãos de mim.

Eu tinha mais medo por ele do que por mim.

Eu tinha medo que as suas mãos se tornassem impuras me tocando.

Que eu quebrasse ele para além de reparo.

O ar passou pela minha garganta e pulmões como se fosse agulhas, me fazendo sentir falta de quando o oxigênio se recusava a me encontrar.

Os dedos do James fizeram carinho no meu rosto, limpando as minhas lágrimas.

O seu olhar em mim se tornava cada vez mais preocupado a cada segundo que passava, como se ele não conseguisse suportar o que via.

- Me deixe te ajudar. Me diga o que aconteceu. - Implorou.

Ele é a única pessoa que olha pra mim como se eu fosse algo bom. Como se eu não merecesse todas as coisas horríveis que eu passei. Como se eu não merecesse todas as coisas horríveis que qualquer pessoa já disse pra mim, ou as coisas terríveis que eu já disse pra mim mesma. Ele me olha como se eu merecesse alguma coisa. Como se eu valesse o esforço.

Como se eu ainda tivesse salvação.

E eu sabia que eu estava prestes a arruinar isso.

continua...

O Inocente Aluno NovoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora