37_ Monstros, não?

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Heaven Quinn

- Depois de eu ter matado ela. - Sussurrou.

Eu quebrei o abraço, me afastando do James apenas o suficiente para conseguir encarar ele.

Voltando a analisar os seus olhos, eu finalmente notei. Era tão óbvio que parecia impossível eu não ter percebido antes:

Culpa.

Não tão inocente, então.

O James, percebendo a minha expressão confusa e assustada, desviou o olhar para a lágrima que tinha acabado de rolar pela minha maçã do rosto. Eu assisti ele gentilmente limpar a lágrima com o seu dedão.

- Eu era uma criança. - Ele explicou com a voz baixa. - E o meu pai trabalhava como policial, então ele ficava fora o dia todo, me deixando apenas com a minha mãe. Isso nunca foi um problema. Eu amava a minha mãe. Ela me ensinou tudo que eu sei sobre o amor e a vida. Mas eu nunca percebi o quanto nós dependíamos da proteção do meu pai até que alguém invadiu a casa.

Ele não me encarava. Ele simplesmente não conseguia me encarar.

- A casa era tão pequena que mal tinha lugar para a minha mãe me esconder. Ela me colocou num pequeno armário que o meu pai usava. Mas ela não se escondeu. E não importava quantos minutos se passavam dentro daquele armário, eu não conseguia escutar nada além de sons abafados. Eu sabia onde o meu pai guardava a arma. - Uma pequena lágrima caiu do seu olho. - No armário que eu estava.

A sua mão continuava segurando o meu rosto, o seu polegar ainda fazendo carinho na minha maçã do rosto.

- Eu sai do armário e a primeira coisa que eu vi foi ele. Um homem que eu não conhecia em cima da minha mãe. Estuprando ela. - O seu olhar era perturbado, como se ele ainda não entendesse. - Ele nem tentou roubar nada, ele apenas entrou e começou a estuprar ela. Ela não gritou porque ela tinha medo de me assustar e me fazer sair do armário. Mas ela não percebeu que eu já estava na sala. A minha mãe estava tão ocupada tentando lutar que ela nem me viu lá.

Negou a cabeça antes de abaixar a mesma.

- Tem algo extremamente perturbador sobre ver a mulher que te ensinou tudo sobre a vida lutando pela dela. - Sussurrou.

Eu prendi a minha respiração, não sabendo como confortar o James. Não sabendo como explicar que eu entendia o desespero da mãe dele e porque ela não gritou.

- Eu sabia como usar uma arma por causa do meu pai. - Contou, a sua voz e rosto ficando neutros, completamente sem emoções, por um momento. - E eu não hesitei em atirar.

Fechei os olhos processando, uma lágrima escapando e rolando pelo meu rosto.

- Mas saber usar uma arma e ter mira são duas coisas extremamente diferentes. - Ele forçou um sorriso amargo, apesar da lágrima que rolou pelo seu rosto no segundo seguinte.

Deus...

Eu não sei o que dizer ou fazer.

- Eu matei ele. Mas eu também matei a minha mãe. A única coisa que eu consegui fazer foi tirar o homem de cima dela e segurar o corpo dela, como se aquilo pudesse prevenir que ela me deixasse. Como se abraçar ela pudesse mostrar  que eu não queria ter tirado a vida dela.

Ele fechou os olhos e eu soltei o ar que estava prendendo.

- Que não era suposto a bala ter atravessado o pescoço do homem e ter parado no pescoço dela. - Sussurrou. - A última memória que eu tenho da minha mãe é dela engasgando no seu próprio sangue e lutando pra respirar enquanto eu abraçava ela. Eu nem sei se ela percebeu que foi o filho dela que matou ela e não o homem que a estuprou.

Senti o meu coração apertar, e o desespero começar a me preencher quando o James continuou se recusando a me encarar.

- Monstro. - Ele murmurou com a voz fraca. - Era exatamente como todos me encararam quando me encontraram coberto do sangue da minha mãe. Era exatamente o que eles queriam dizer, mas não podiam. Porque era cruel demais dizer isso para uma criança de 10 anos que tinha acabado de perder a mãe. Que tinha acabado de matar a mãe. - Ele negou a cabeça e sorriu tristemente. - Sabe a pior parte? Tinha gente do lado de fora de casa, se ela tivesse gritado, eles teriam ajudado. Mas ela não gritou, porque ela queria me proteger.

A minha mão subiu para a do James que estava no meu rosto, ainda fazendo carinho na minha bochecha mesmo sem perceber.

Com o meu toque, ele estremeceu, fechando os olhos e abaixando a cabeça levemente antes de finalmente me encarar com os olhos cobertos por lágrimas.

- Todos temos nossos motivos para acharmos que somos monstros, não? - Questionou.

Eu apenas envolvi os meus braços no seu corpo, deixando as minhas mãos descansarem nas suas costas firmes.

Senti o James respirar profundamente contra o meu pescoço, os seus braços me puxando contra ele e me apertando.

- Eu sinto muito. Por tudo. - Pedi.

- J'aimerais que les gens puissent te voir de la même façon que moi, mais en même temps, je suis content que ce ne soit pas le cas. Parce que je suis sûr qu'ils tomberaient amoureux aussi. - Murmurou antes de depositar um pequeno beijo no meu pescoço.

continua...

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Tradução:

Gostaria que as pessoas pudessem ver você da mesma forma que eu, mas, ao mesmo tempo, estou feliz que não seja o caso. Porque tenho certeza que também se apaixonariam.

O Inocente Aluno NovoWhere stories live. Discover now