O Inocente Aluno Novo

21_ Incapaz de ser amada.

Heaven Quinn

- Eu mordo. - Confessei e os seus olhos se arregalaram.

Puxei o seu pulso mais pra perto de mim, de forma que eu conseguisse colocar o garfo confortavelmente na minha boca.

Fazendo contato visual com o James, o sabor do bacon se espalhou pela minha boca, a manteiga se desfazendo cada vez mais na minha língua enquanto eu mastigava o pedaço suave.

- Você parece saber o que está fazendo. - Semicerrei os olhos pra ele sobre forma de provocação.

- Sim, sim. - Ele deu de ombros, indo desligar o fogão. - Eu só não entrei no MasterChef porque eu não gostei das cores do uniform-

A comida começou a pegar fogo.

Eu me levantei do banco em um salto, mas quando eu cheguei perto, o James já tinha apagado o fogo, colocando uma tampa em cima da frigideira.

Ainda bem que eu provei a maravilha daquele bacon antes dele virar carvão.

- Então... - Ele sussurrou, o seu olhar pulando da frigideira pra mim várias vezes. - Você vai querer macarrão com carvão ou carvão com macarrão? - Ele ofereceu com um sorriso amarelo sem dentes.

- Será que dá tempo de eu te ensinar o meu chá aguado? - Fiz a proposta, colocando um sorriso amarelo na minha boca também.

- Eu acho que isso é mais uma competição com o seu ovo queimado. - Tirou a tampa da frigideira.

O fogo não transformou o bacon em pedaços de carvão.

Sorri aliviada e o meu olhar subiu para o James que agora pegava um prato pra me servir. Ele colocou uma porção tão cuidadosa, enrolada e bonitinha de macarrão no meu prato e eu neguei a cabeça com pena.

- Vai aumentando, meu filho. - Avisei e ele nem piscou enquanto colocava mais no meu prato. - Mais. Mais. Mais... Só coloca, parceiro. - Continuei. - Mais um pouquinho. Não, só mais um pouquinho. To quase arrancando esse negócio da tua mão, coloca direito!

Quando ele tinha colocado quase toda panela de carbonara e do bacon eu peguei o meu prato com um sorriso de criança animada.

Me sentei e os olhos arregalados do James permaneceram sobre mim.

- Você tem certeza que não vai passar mal? - Questionou, genuinamente preocupado.

- Eu tenho que me alimentar por dois. - Avisei e os olhos do James se arregalaram ainda mais. - Jesus vive em mim.

- Amém...? - Ele concordou confuso.

Eu soltei uma risada alta, enrolando a comida no meu garfo e erguendo o mesmo até a minha boca avermelhada.

O James soltou o seu prato do meu lado e se abaixou, o cotovelo na bancada e a mão no queixo. Me observando. Ele estava me observando tão atentamente. Desde o meu cabelo que rebeldemente caia na testa, as sobrancelhas franzidas pela atenção inesperada, o nariz empinado pra combinar com a minha bunda, e os lábios entreabertos, já preparados para receber a comida.

Ele esperou em silêncio pela minha aprovação quando a comida passou pelos meus lábios.

Eu não sabia o jeito mais educado de pedir pelo prato dele também, porque do jeito que a comida dele tava boa, o que estava no meu prato não seria suficiente.

O James soltou uma risada gentil quando notou o meu olhar no prato dele.

- Acho que é uma ótima hora pra te avisar, o Satanás também vive em mim. - Soltei. - Vou precisar de mais um prato.

- Achei que você era o próprio diabo. - Ele começou a enrolar o macarrão no seu garfo.

- Eu sou, mas os meus pequenos filhos demoníacos precisam de uma casinha pra morar. - Justifiquei.

- A minha mãe me ensinou essa receita quando eu era bem pequeno. Foi a primeira coisa que eu cozinhei pra ela. - Contou. - Eu lembro de queimar a comida, mas ela comeu com um sorriso no rosto e pediu pelo meu prato, para que eu não tivesse que comer aquele carvão.

Nesse exato momento, eu só consigo me perguntar o porquê da minha mãe não ter conseguido me ensinar a cozinhar e comer minha comida queimada.

Eu me pergunto se eu apenas fui criada sem amor ou se eu nasci incapaz de ser amada.

Porque ele parece ter sido criado de um jeito tão certo, e eu fui criada de um jeito tão errado.

Os seus olhos se ergueram e estavam sobre mim, puro amor derramando dos seus olhos.

Ele é feito de amor.

E eu quero o coração dele na palma da minha mão.

continua...