31_ A dor ensina.

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Heaven Quinn

O anfiteatro onde as missas aconteciam é um lugar completamente diferente quando não tem ninguém mais dentro.

O espaço é gigante e assustadoramente silencioso.

- Heaven. - Uma voz atrás de mim chamou.

O padre percebendo o meu susto, deu um pequeno sorriso acolhedor, que não fez diferença nenhuma.

- Você não deveria estar em uma de suas aulas? - Questionou dando um passo na minha direção.

Ele realmente não deve me conhecer.

- Eu só queria um lugar silencioso. - Confessei, parte de mim em surpresa que eu contei a verdade.

Ir para a minha sala abandonada durante o dia era imprudente.

Qualquer um poderia me seguir e eu não estava disposta a arriscar o meu espaço por alguns minutos de silêncio.

- Entendo. - Ofereceu um sorriso conhecedor.

O que esse véi acha que sabe?

- Eu estarei no confessionário. - Avisou amigavelmente.

- Eu não quero me confessar. - Soltei me sentindo levemente atacada.

- Não estou insinuando que você queira se confessar. - Piscou um olho pra mim e eu fiquei ainda mais confusa.

Será que ele tá tendo um derrame?

- Eu realmente não quero me confessar. - Esclareci.

O padre apenas me lançou outro sorriso conhecedor, que me fez erguer uma sobrancelha, antes que ele entrasse no confessionário.

Abracei o meu corpo, soltando o ar que eu nem sabia que estava prendendo.

- Eu espero que o senhor saiba que isso não significa nada. - Declarei enquanto caminhava até o confessionário. - Eu realmente não quero me confessar. - Me sentei no banco dentro da cabine.

Esperei pela voz do padre, me perguntando porque eu estava ali sentada então, se eu não queria me confessar.

Mas a pergunta não chegou.

Era como se eu estivesse sozinha.

Mexendo nervosamente na minha saia, a minha respiração falhou e o meu batimento cardíaco acelerou. Olhei em volta, não conseguindo identificar muita coisa pelo escuro, apesar da pouca luz que penetrava pelos buracos na porta.

Tem tanto que eu quero dizer, mas eu não sei por onde começar.

- Eu sei que eu deveria me sentir mal... por ter esquecido. - Falei com a voz baixa. - Eu sei que eu provavelmente deveria estar no meu dormitório chorando. Passando pelo luto. Honrando a memória deles.

A minha garganta se fechou e eu semicerrei os olhos, não conseguindo parar de puxar uma linha solta da minha saia.

- Mas eu estou tão cansada. Tão cansada de passar pela dor, de precisar passar pelo luto. - Soltei fechando os olhos. - E quando ficamos cansados, nós ficamos com raiva.

O Inocente Aluno NovoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora