20_ Eu não mordo.

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Heaven Quinn

Eu tinha uma boa relação com os guardas do colégio.

Passei tanto tempo fugindo deles que seria impossível não ter.

Espero que os longos minutos que eu passei puxando o James e fugindo deles tenha servido como ótimas memórias que eles vão contar para os filhos.

Quando eu for ainda mais famosa, claro.

Entrando pela porta grande da cozinha, que ficava escondida em um corredor por trás de onde a comida era servida, suspirei observando.

Os fogões ficavam no centro da cozinha, protegidos nos cantos por balcões. Era uma estranha ilha de cozinha. Tinha tanta geladeira que os meus olhos brilhavam.

- Vai ser assim, tomatinho... - Encarei o James firmemente.

Ele tinha colocado a camiseta de volta, o que era uma pena.

- Eu apenas sei fazer ovo queimado e chá aguado, estou te dando opções. É pegar ou largar. - Semicerrei os olhos. - Escolha sabiamente.

Um sorriso gigante se abriu no rosto do James, as covinhas se aprofundando e os olhos fechando.

Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.

Eu podia ter ficado chateada com ele rindo de mim, se eu não estivesse tão ocupada admirando a risada dele.

Era... confortante.

Assisti os seus ombros tremerem com a intensidade da risada, enquanto as suas mãos ainda estavam presas no seu quadril. Como uma xícara. A sua cabeça que estava pendurada para trás se jogou para frente, onde eu não conseguia ver o seu sorriso.

Ele levantou o rosto finalmente e o inclinou para o lado.

- Jesus Cristo. - Negou com a cabeça, mantendo o sorriso gigante. - Eu acho que nada me agrada tanto quanto você, meu pequeno diabo.

Ele passou por mim e eu o observei com olhos semicerrados enquanto ele procurava pelas panelas médias e os utensílios. Peguei um banquinho e me sentei com os cotovelos apoiados no balcão perto do fogão. O James começou a abrir as geladeiras, pegando alguns ingredientes e eu sorri.

- O que você vai cozinhar pra mim, Jacquin? - Perguntei e o James sorriu ligando o fogo.

- Eu queria fazer uma carbonara versão francesa. - Soltou pensativo. - Você gosta? - Ergueu o olhar pra mim e eu assenti.

Carbonara é uma coisa, agora a versão do povo que não toma banho...

- Quem te ensinou a cozinhar? - Perguntei curiosa.

- A minha mãe. - Ele respondeu, o sorriso no seu rosto se tornando tão sutil que foi difícil de notar.

O James não fez contato visual, apenas se focou na sua tarefa, que era me alimentar.

Com a resposta, eu abaixei o meu rosto, escondendo parte dele com os meus braços na mesa.

- Ela me ensinou um monte de coisa. - Sussurrou.

- Depois eu agradeço ela por ter te ensinado a cozinhar pra mim. - Pisquei para o James que virou o seu rosto pra mim.

Eu não conseguia decifrar o que o olhar do James queria me dizer e muito menos o que o seu rosto indecifrável escondia. Ele apenas assentiu, tentando respirar fundo.

Quando o James voltou a se focar em cozinhar, tudo que eu podia fazer era apenas observar ele.

Eu queria que a minha mãe tivesse me ensinado a cozinhar.

Eu queria que ela tivesse me ensinado um monte de coisa.

Às vezes eu me arrependo de não ter me esforçado mais pra fazer ela me amar. Tinha que ter alguma coisa que eu podia ter feito, para que ela me amasse como filha dela e não me visse como um monstro.

E sendo sincera, seria melhor se eu fosse o monstro que ela achava que eu era.

Assim, eu não teria que sentir que eu falhei com todos. Eu não teria que me preocupar, ou me sentir mal, ou me questionar se eu sou mesmo o monstro que eles dizem que eu sou.

Eu gostaria de ser o que ela achava que eu era.

Desse jeito, eu não teria que fingir.

As mãos grandes do James cortavam o bacon com facilidade, enquanto o macarrão fervia na água. Eu assisti ele colocar o bacon na frigideira, fazendo a mesma chiar com a manteiga já derretida. Os seus adoráveis olhos pulavam de uma panela para outra, tentando administrar tudo com atenção, mas isso não impediu que o seu olhar passasse por mim algumas vezes, estranhando o meu silêncio.

O seu cabelo se mexia com cada movimento que o James fazia, os cachos leves pulando pela sua testa.

O James pegou um pedaço do bacon dourado pela manteiga com o garfo e o estendeu pra mim.

Eu hesitei, erguendo a minha cabeça dos braços e encarando o James com dúvida.

- Eu não mordo. - Ele brincou.

- Eu mordo. - Confessei e os seus olhos se arregalaram.

continua...

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quando tiver 7.777 comentários eu posto o próximo capítulo:)

O Inocente Aluno NovoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora