57_ Foi um prazer te conhecer, Heaven.

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Heaven Quinn

Eu estava observando a competição de natação da Niani de longe. Ela parecia tensa, perturbada. A Niani nunca ficava assim, nem mesmo em competições.

Alguém ficou do meu lado e eu observei a pessoa pelo canto do meu olho.

Jacques Rousseau.

Com a minha pintura da floresta em suas mãos.

- Você roubou a minha pintura? - Soltei indignada, apesar de ainda prestar atenção na competição de natação da Niani.

- Eu comprei ela. - Ele corrigiu rindo suavemente.

- Ela não estava à venda. - Apontei cerrando a minha mandíbula.

- Tudo tem um preço. - Ele deu de ombros e eu lancei um pequeno olhar de canto para o homem. Ele também observava a competição de natação.

Eu sabia que não foi o meu tio que vendeu a pintura. Ele odeia o homem.

- Até mesmo amor. - O homem murmurou baixinho, o seu olhar caindo em mim.

- E qual seria o preço do amor? - Perguntei aborrecida, mantendo o contato visual.

- Destruição. - Soltou, a sua voz calma.

Eu pisquei, me perguntando porquê o homem que o meu tio odiava estava me falando aquilo.

- Você é extremamente talentosa, Heaven. - Elogiou e eu não respondi, esperando que ele continuasse. - Os seus quadros deixaram todos naquele labirinto apaixonados e afogando na sua perturbação, como se fosse a deles.

- Coitados. - Soltei aborrecida. - Alguém chegou a salvar eles?

- Não são eles que precisam de salvação. - O homem murmurou, inclinando a cabeça pra mim.

Eu franzi as sobrancelhas.

- Para qual universidade você vai? - Ele perguntou.

- Eu não entendo como isso seria da sua conta. - Desprezei e o homem me lançou um sorriso atencioso.

- Eu gostaria de te oferecer uma bolsa. - O homem que o meu tio odeia admitiu. - Para a minha universidade.

Jacques tirou um pequeno cartão do seu bolso e o estendeu na minha direção. Eu encarei o cartão azul e branco por longos segundos antes de descruzar os meus braços e pegar o mesmo.

Os meus olhos perceberam um detalhe antes que eu me virasse para encarar o homem. A universidade dele é em Paris.

O homem não esperou que eu aceitasse ou negasse, ele apenas colocou a sua mão que não segurava o meu quadro no seu bolso da calça.

- Você é extremamente parecida com a sua mãe. - Voltou a comentar, observando os meus olhos, apesar da sua boca estar em uma linha fina e a mandíbula cerrada.

- Eu não escolhi ter os olhos da minha mãe. - Soltei. Os olhos da minha família.

- Não. - Jacques negou. - Não apenas os olhos. Você podia ser a sua mãe.

Eu fiquei em silêncio. Ninguém nunca me disse exatamente isso.

- Mas a sua mãe não tinha e nunca poderia ter o que você tem. - Terminou e eu prendi a respiração.

- E o que isso seria? - Perguntei, a minha voz saindo com mais desespero do que eu pretendia.

Eu passei a vida ouvindo o quão igual a minha mãe e eu éramos. Cada detalhe meu que era na verdade dela. Como era difícil as pessoas olharem pra mim sem ver ela.

As pessoas mal conseguiam me olhar nos olhos sem chorar durante o funeral.

Mas ninguém nunca me disse um detalhe, apenas um, que a minha mãe não tinha e eu tinha.

Algo meu e apenas meu.

- Você vai descobrir. - Ele sorriu suavemente e o ar forçou a sua entrada nos meu pulmões, descendo como se fossem agulhas.

O homem se virou para ir embora, me deixando sozinha com o meu desespero e a minha necessidade de saber a única coisa que poderia me salvar.

Antes que ele fosse embora, ele murmurou um pequeno "L'âme" e eu franzi as sobrancelhas em pânico.

Porra de francês. Eu não tinha o James aqui pra traduzir.

- Heaven. - Se virou depois de alguns passos. Eu mantive o contato visual com o homem, a minha mandíbula cerrada. - Quantas pessoas notaram a corda?

O meu coração pulou uma batida e eu desprendi a minha mandíbula, me virando completamente para o homem, os meus olhos se arregalando levemente.

Eu nem consegui responder antes que o homem sorrisse suavemente para mim e assentisse em despedida.

- Foi um prazer te conhecer, Heaven.

Jacques se aproximou de uma mulher.

A minha mãe sorrindo pra mim.

Eu pisquei em desespero, o meu coração parando e o meu corpo ficando mole.

Quando eu voltei a abrir os olhos, a mulher que estava lá não era a minha mãe, mas sim uma senhora de cabelos brancos que nem me encarava.

continua...

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quando tiver 5.555 comentários eu posto o próximo capítulo :3

O Inocente Aluno NovoWhere stories live. Discover now