Capítulo 32 - Deus, porque me abandonou? ❤

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­Eu estava na psicóloga. Minha avó tinha me recomendado muito ela depois que eu decidi voltar para o Brasil, eu só não tinha tido a coragem de vir aqui antes. Talvez o medo de ouvir uma verdade dolorosa, não sei.

A lembrança dolorosa de quando eu saí daqui e fiquei um ano internada pode ter haver com isso. Eu nunca vou me esquecer o dia que fui internada, ainda considero o pior acontecimento dos meus dezoito anos de idade.

Flash back on - 6 anos atrás.

Portugal. Eu nunca vi um país Europeu parecer tão triste como agora. Depois de muito sofrer eu me vejo presa neste lugar apenas pelo fato de estar fugindo do meu cruel e insensível irmão. Eu nem consigo expressar em palavras o que isso tudo significa. ­­

Pensei que, ao chegar, ia me sentir livre de tudo e todos, mas não. Agora eu me sinto mais presa do que antes. Mesmo minha avó olhando para mim e alisando minha perna repetindo "você está segura agora" eu realmente não me sinto assim.

- Querida, você se sente melhor? - A enfermeira trocava meus curativos.

Continuei sem responder. Eu não conseguia falar nada. Meu coração está em um vazio infinito. Eu só consigo repassar milhares de vezes a cena na minha cabeça, os xingamentos e o tamanho ódio do meu irmão. Eu jamais imaginei que ele sentia algo tão ruim por mim.

Eu não quero falar.

Eu não consigo falar.

- Já faz um mês que chegamos e você continua sem dizer nada Alana, precisa colocar para fora sua dor. Não pode guardar tanta mágoa para si. - Minha avó alisou o topo do meu cabelo, eu continuei olhando para um infinito vazio no chão. - Ao contrário do que as pessoas dizem, cristãos podem sentir raiva, mágoa, angustia, sentir-se deprimido, só não podemos deixar tais sentimentos nos consumir de tal forma que esquecemos que temos o Deus da cura ao nosso favor.

- Senhora, desculpa me meter, mas eu não acho que ela está fazendo de propósito. Eu não sei bem o que está acontecendo, mas pelo jeito ela sofreu um trauma grande e isso pode causar muitas doenças, principalmente a depressão e catatonia*, eu recomendo leva-la há um médico especializado. - A enfermeira disse.

Meus pensamentos estavam desordenados, mas eu ainda sabia o que eram certas doenças. Ela tinha razão, eu estava assim. Deprimida e catatônica.

Queria muito falar com a minha avó tudo que eu ando pensando e sentindo, mas mesmo querendo muito isso eu não consigo. Meu corpo fica estagnado num só lugar e eu apenas respiro com se eu apenas precisasse disso para continuar minha vida. Obvio que o ar nos pulmões é uma das coisas mais importantes, porém viver sem comunicação é quase uma tortura.

- Seria bom leva-la a uma clínica também... - Continuou a enfermeira.

Eu não sei se isso seria bom para mim. Estou assustada, eu não quero, de forma alguma sair do lado da minha avó.

- Hum... - Choraminguei. Eu não queria sair de perto dela.

Tentei ao máximo me mover, mas só minhas pálpebras se mexiam e apenas gemidos saiam de dentro de mim. Acho que ela não percebeu as lágrimas falando por mim, pois eu as sentia tão quentes como o sol que chega ao Rio de Janeiro no verão. Eu estava fervendo como nunca.

Por favor, vovó. Não me leve.

Orei tanto internamente.

- Meu amor se acalme. A enfermeira está certa, isso vai ser bom para você. - Ela esfregou meus braços.

- Senhorita Sanchez, eu conheço uma clínica ótima com pessoas incríveis que podem fazer você se sentir muito melhor. - A enfermeira se agachou na minha frente.

O preço de amar a CristoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora