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ENRICO

Há um ano tudo era diferente. 

Eu era feliz, adorava pousar para fotos, esbanjar meu corpo sarado que era resultado de treinos pesados nas academias que eu costumava frequentar, amava ir ao meu trabalho e exercer minha profissão, hoje eu me odeio.

Odeio porque tenho quarenta por cento do meu corpo queimado, minhas pernas já não são mais as mesmas, minha barriga e braços ficaram com cicatrizes horrorosas que eu evito ao máximo deixar aparecerem e a única coisa que aparece com frequência, é a cicatriz não muito escura em meu queixo que também foi atingido pelo fogo. Odeio os olhares de pena que as pessoas que pouco me encontro acabam jogando em cima de mim como se eu fosse um coitado, um retardado inválido.

Odeio ver minha família andando de um lado para o outro, atrás de médicos, remédios, pomadas que possam fazer com que meu corpo volte ao normal.

Detesto sentir o peso dentro do meu coração, chorar por sentir um pouco das dores quando o tempo muda de calor para o frio, vice-versa.

Hoje sou um homem infeliz. Sinto que perdi uma parte de mim naquele incêndio no qual além de tudo, me fez perder o meu melhor amigo.

Foi no ano passado, eu e Fred havíamos combinado de sair durante a noite para comemorar uma de suas conquistas, ele havia aberto a sua própria empresa no ramo de comunicação, assim como eu tinha a minha, era nosso sonho desde crianças.

Fomos à um clube fechado, onde estava rolando um open-bar de cerveja, vodka, corotes e afins. Lembro-me de que a primeira coisa que peguei foi um copo de cerveja e Fred um de vodka. Dançávamos ao som da música eletrônica que tocava e por volta das duas da manhã, quando já estávamos um tanto quanto embriagados, ouvimos o barulho da explosão.

Próximo ao bar, alguns rapazes tentando em vão apagarem o fogo que ali tinham se instalado, até hoje, não sei qual foi o motivo daquele incêndio.

Vi o fogo domando todo o lugar e minhas pernas não saiam do lugar, Fred por sinal, ao ver o fogo, conseguiu correr e logo alguém muito alto me empurrou fazendo com que eu caísse no chão e fosse pisoteado por pessoas que tentavam se salvar.

Lembrei-me então do acidente daquela boate, eu estava passando por algo parecido e pedia à Deus para que ao contrário de todos aqueles jovens, eu e Fred sobrevivêssemos.

Lembro com clareza o acordar no hospital, com minha mãe e irmãs chorando no pé da minha cama, meu corpo ligado a fios e coberto com uma espécie de manta branca que não me esquentava.

- Que bom que você acordou filho. - minha mãe dizia derramando suas lágrimas.

- E Fred, onde está mãe? - perguntei.

E então, minha irmã mais velha que era apaixonada por ele começou a chorar, lágrimas descompassadas que fazia com que meu coração doesse.

- Fred não pôde sobreviver, filho. Encontraram o corpo dele carbonizado próximo ao bar. A perícia afirma de que é possível que ele tenha tentado apagar o fogo juntamente com as pessoas que se arriscaram. Ele tinha fé de que iria sair vivo, mas não foi isso o que aconteceu.

E a partir daquela notícia, o meu mundo virou de cabeça para baixo.

ENRICOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora