XXIII

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Enrico

Eu nunca havia sentido nada parecido com o que sinto agora ao ver Aline conversando com Antônio e ele certamente gostando até mesmo das cortadas que estava levando da mesma.

Após ela perguntar se ele era jornalista e explicar que achou que ele fosse por conta de tantas perguntas, ele calou-se por segundos e aproximou-se do bebê conforto de Liz, onde a mesma ao vê-lo, fez um bico ameaçando chorar.

— Vem com o titio pequena. - ele ofereceu os braços e Liz não o quis.

Boa menina.

— Eu gosto muito de criança. - disse a Aline. — Posso leva-la para brincar na varanda?

— Minha filha está muito bem onde está. - respondeu secamente.

— Desculpe, não queria irritá-la.

Ele ainda tentou por alguns minutos pegar a menina que logo começou a chorar.

Sabendo que Aline não teria como parar de fazer o que estava fazendo, eu a peguei e em segundos minha bonequinha parou de chorar.

— Me surpreende o fato dela não se assustar com sua deformação, Enrico. - ele soltou.

Eu não esperava ouvir aquilo, respirei fundo, fingi não ter sido afetado.

— Pois é, ela não sente. - digo dando de ombros e balanço Liz levemente de um lado para o outro.

— Mas então, o que faz durante a noite Aline? - perguntou curioso.

— Não é óbvio? Cuido da minha filha. - sorriu forçado.

— Não tira um tempo para você?

— Eu não preciso de tempo.

— Vai ver é por isso que está solteira. - soou rude.

— Não que você deva saber algo, mas, estou solteira porque eu quero e não porque me falta tempo.

— Toma distraído, podia ter ido dormir sem essa. - Catarina solta.

Vejo que Aline fica envergonhada.

— Desculpe, em nenhum momento quis soar ou parecer rude, queria chama-la para um passeio apenas.

— Não precisa se desculpar e não, eu não aceito o passeio.

Após ela dizer isso, senti uma breve alegria por dentro, essa era a moça que eu havia conhecido e tenho sentido coisas que pra mim, são desconexas.

Antônio então sabendo que não iria convencê-la de nada, decidiu retirar-se da sala, deixando apenas nós quatro contando com Liz.

Aline terminou de tirar o borrado de uma mão e quando pegou a outra de Catarina a mesma disse.

— Preciso tomar uma água, eu já volto.

Sem deixar com que sua manicure respondesse, ela saiu, praticamente correndo deixando-nos a sós.

— Desculpe-me pelo Antônio.

— Tudo bem. - respondeu ela colocando um algodão dentro da sua maleta de unhas.

— Achei que fosse aceitar o pedido dele. - digo sem graça.

— Tenho muitos motivos para não aceitar Enrico. - disse encarando-me.

— Cite dois. - peço.

— Primeiro: Não gostei dele. Segundo: Tenho uma filha, não preciso sair com ninguém.

Achei que ela diria que o motivo para não aceitar sair com ele, fosse eu, mas não, talvez eu esteja me sentindo o rei da cocada preta sendo que não valho nem um pé de moleque.

— Entendo. - respondo apenas e noto que Liz está quase pegando no sono. — Vou leva-la para o meu quarto, posso?

Ela pareceu pensar por alguns segundos, até que disse:

— Não. Ela vai ficar bem no bebê conforto, aliás, se puder deixa-la ali já será melhor.

— Porque acha que será melhor?

— Assim ela não se apega em você novamente, pois nunca se sabe quando você vai sumir do mapa, né?

Toma distraído.

— Não sei do que você está falando. - digo sabendo sim o que ela queria dizer.

Respirou fundo.

— Você sumiu por um mês, sendo que vive dizendo para as pessoas daqui que adora minha filha. Você sumiu porque nos beijamos, porque quis me evitar, mas não pensou se Liz ficaria feliz ou não com a sua ausência, porque pra você, é muito fácil vir, fazer com que minha filha se apegue em você e simplesmente suma depois.

— Sua filha ou você? - pergunto secamente.

Ela fica vermelha, porém acaba dizendo:

— As duas, por quê? Achou mesmo que eu não me encantaria por você pelo jeito que você demonstrava gostar dela? Acha mesmo que eu não pensei nenhuma vez em como seria ter você em nossas vidas todos os dias? Aconteceu, ok? Eu não sabia que poderia me apegar a você e tampouco me apaixonar, porque é isso, eu me apaixonei por você Enrico, mas não há nada a se fazer nesses casos, não é recíproco e pronto.

Ela havia se apaixonado por mim e isso era tudo o que eu conseguia entender entre tantas palavras.

— É, não é recíproco. - foi o que eu consegui dizer.

Vejo seus olhos cheios de lágrimas.

— Suspeitei desde o princípio. - diz pegando Liz do meu colo e indo para a cozinha, fui atrás dela, Catarina já não estava mais ali.

— Mas podemos tentar fazer ser, caso você queira. - digo.

Ela vira pra mim secando uma única lágrima que havia caído dos seus olhos.

— Não quero, obrigada.

ENRICOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora