XXXVII

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ALINE

Eu não tinha mais forças para gritar, sentia as mãos de um dos meus vizinhos tocarem os meus ombros, como se de alguma forma quisesse me confortar.

Eu nunca seria capaz de me confortar, a minha filha estava nas mãos daquele cretino.

Outro vizinho, por sorte chamou a polícia que não demorou a chegar e já foi logo acionando os demais carros, detetives e afins, prometendo-me de que traria Liz sã e salva.

Como se pudesse sentir ao longe o tamanho do meu sofrimento naquele momento, Enrico chegara na hora em que o delegado estava no telefone.

— Meu amor o que aconteceu? - ele pergunta passando a mão levemente em meu rosto.

As lágrimas de desespero, dor e angústia insistiam em rolar por meus olhos.

— Yan levou a nossa filha.

E após eu dizer isso ele me abraçou, pude ver seu maxilar trancado e um fio de lágrima surgiu em seus olhos.

— Tudo ficará bem, traremos Liz de volta meu anjo. - diz convicto, em seguida, beija minha cabeça.

*

*

Cerca de quatro horas depois eu ainda estava imóvel no mesmo lugar e sem nenhuma notícia do paradeiro de Liz.

Os carros que por ali passavam, desviava. Enrico tentava há horas e em vão me fazer sair dali, mas eu não conseguia, simplesmente não tinha forças.

A polícia estava se aprofundando com os passar dos minutos em suas buscas, o delegado que descobri se chamar Vilmar, já não sabia o que me dizer.

Pediam-me calma.

Calma esta que eu só seria capaz de ter quando pegasse minha filha novamente em meus braços.

— O ACHAMOS! - um policial gritou de dentro do carro e na hora, o meu coração acelerou.

Alívio ou quase isso.

YAN

E mais uma vez eu havia ganhado a luta contra Aline e me sentia feliz por tê-la causado dor ao pegar nossa filha, pois era isso que há anos ela vêm me dando, dor!

Não é de hoje que a observo.

Sei dos teus passos, por onde anda com quem anda e sei também que agora ela tem o defeituoso como seu mais novo namorado.

Eu a amo mesmo que possa soar estranho, mas a amo como nunca amei outra mulher em toda vida.

Durante o caminho incerto que fazia com minha filha, a mesma chorava como se pudesse entender o que estava acontecendo ali. Talvez, nunca tivesse ficado tanto tempo longe de sua mãe.

Andei por cerca de quatro horas e foi difícil acalmá-la.

Parei em um posto de gasolina para abastecer o carro em que estava e que por sinal não era meu. Havia uma televisão dentro da loja de conveniência e nessa televisão tinha minha foto como procurado pela polícia.

Desesperado e temendo que o frentista pudesse observar a televisão, acelerei o carro assim que o mesmo tirou a bomba, saindo sem pagar, mas correndo feito um louco temendo pela primeira vez na vida por alguém me encontrar.

Eu estaria morto.

Entre as ruas da cidade até então desconhecida, pude ver uma casa abandonada na entrada, ali eu manteria Liz e tentaria não fazê-la chorar.

*

Passado um tempo desde que chegamos, Liz já parecia estar mais acostumada comigo. Ao contrário do choro, ela sorria e eu sentia que aquela poderia ser a primeira e a última vez que veria teu sorriso.

E então, o arrependimento bateu.

Se a polícia me encontrasse, eu iria diretamente para a cadeia, mas, se por ventura um cidadão do mal, vulgo morador dessa cidade atento à jornais me encontrar, posso sair rumando à um caixão.

— Me perdoe por tudo filha! - eu disse a ela com os olhos cheios de lágrimas e suas mãozinhas tocaram meu rosto.

Respirei fundo, tentei relaxar, Liz dormiu e eu estava pronto para descansar.

Ledo engano.

Ao fechar os olhos, a luz de um giroflex fez com que eles se abrissem rapidamente.

— A casa caiu! Renda-se Yan ou você será morto.

Um policial dizia no megafone, assustando-me e fazendo de quebra Liz acordar assustada.

Eu não me renderia.

Pensei no plano B.

— Eu não vou sair daqui seus vermes! Se quiserem a criança, venha busca-la.

E então, saquei minha arma calibre trinta e oito, mirando-a para Liz, eu nunca atiraria, não seria capaz de tal coisa.

A porta tão simples foi invadida e uma arma fora apontada para mim.

Não era um policial.

Era o namorado de Aline.

— Me devolva agora a minha filha. - ele diz com a arma apontada para minha cabeça.

E eu ri.

De desespero.

— Sua filha? Não foi o teu pau que estava na hora de engravidar Aline.

— Mas sou eu com a Aline quem a cria, você quer mesmo disputar? Me devolva-a ou eu atiro.

Coloquei Liz no chão.

Rapidamente um policial entrou, pegando-a do chão.

Em um ato impensado, chutei a arma de sua mão e então começamos a lutar como dois brutamontes.

Socos, pontapés, um nariz quebrado e por fim o barulho de tiro ecoando por todo o local.

Aquela foi a minha deixa.

Aline fora minha ruína.

E o tiro, a minha morte.

ENRICOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora