XIX

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Aline

Na padaria eu tentava em vão agir normalmente, procurava me entreter com as graças de Liz enquanto Enrico intercalava seu olhar para ela e pra mim.

Ela estava sorridente, graças a Deus ela não aparentava estar sentindo dor por conta da pequena cirurgia.

Descobrimos que ela havia adorado o suco de laranja, já que Enrico colocara um pouco do que estava em seu copo, dentro da mamadeira de água e ela tomou tudo, deliciando-se e ao acabar ainda mexeu os bracinhos como se quisesse mais.

— Você quer mais minha pequena?

Ela soltou um gritinho.

— Pelo visto sim. - sorrio.

Coloquei um pouco do líquido que estava em meu copo e ajudei minha mocinha independente a beber.

— Em relação a ontem... - Enrico começa a dizer.

— Esqueça o que aconteceu. - soei rude.

— Não tem como esquecer porque eu não paro de lembrar.

Uau.

— Eu já esqueci, sugiro que faça o mesmo ou ao menos tente. - minto descaradamente e olho para Liz para que ele não perceba em meus olhos o quanto estou mentindo.

— Olha pra mim, vamos conversar como dois adultos. - pediu.

— Não temos o que conversar Enrico. Nos beijamos, você me deu um fora e foi isso, acabou.

O vejo passar a mão no rosto como se estivesse prestes a perder a paciência.

— Você tem que entender que é novo pra mim.

— O que é novo pra você, um beijo? Poupe-me Enrico. - sou irônica.

—  Acredite se quiser, mas é. Eu nunca beijei sentindo nada.

Coloco a mamadeira em cima da mesa, e Liz grita querendo por mais.

— E agora você sente? - pergunto.

— Não. - bufou. — Quer dizer, é difícil. Eu sinto algo, tenho certeza que sim, mas não quero nada sério agora, não quero ter que me entregar a nenhum sentimento porque todos são ruins e de ruim já basta a minha vida.

— Ok.

Voltei toda minha atenção a minha filha que nos olhava com um sorriso banguelo nos lábios, sorri de volta.

— Não precisa soar tão grossa.

— Eu não estou sendo. - digo dando de ombros.

— Eu gostei do teu beijo.

— Devo agradecer por isso? Se sim, obrigada.

Eu havia perdido a fome que mal existia em mim, tomei todo o meu suco comendo alguns pães de queijo em silêncio.

*

*

Após toda tensão no café, ele nos convidou para irmos até um playground que ficava ali por perto.

— Obrigada pelo convite, mas quero voltar para casa, Liz ainda é pequena e não irá entender nada dos brinquedos.

— Está fugindo de mim? - perguntou parando em minha frente, a única coisa que nos afastava em uma distância considerável era o bebê-conforto que Liz estava mexendo de um lado para o outro.

— Eu não tenho o porquê de fugir, quero apenas ir para minha casa.

— Então vamos, podemos assistir a um filme.

Respiro fundo.

— Olha Enrico eu não sei qual é a tua, mas seja qual for não vai rolar. Quando eu disse que quero ir para minha casa, é porque eu quero ir somente eu e a minha filha, obrigada.

Ando alguns passos com o bebê conforto e quando olho para trás, ele está vindo atrás de nós.

— Só quero ficar perto da Liz, ela é meu bem maior, você também pode acabar sendo, mas ela é muito importante pra mim. Por favor, Aline, não me negue isso.

Fico em silêncio.

O meu coração era um pobre idiota, pois ele pedindo daquela forma foi impossível dizer não.

Entrei em seu carro no banco de trás com Liz e fomos ao nosso costumeiro silêncio.

Durante o caminho a mesma foi dormindo, mas, assim que Enrico parou o carro em frente de casa seus olhinhos arregalaram-se em seguida, um sorriso.

— Espertinha, só dorme quando te movimentam. - digo fazendo carinho em sua bochecha.

Ele abriu a porta de casa pra mim e de longe, quem nos visse, era capaz de achar que éramos uma verdadeira família.

Ledo engano.

O dia estava nublado, meio frio para falar a verdade, com a ajuda de Enrico jogamos dois colchões no chão da sala, colocamos cobertas, alguns brinquedos que Liz gostava de ''morder'' e ligamos um filme de animação da Disney.

Era incrível a capacidade que Liz tinha, ainda tão pequena de prestar atenção na televisão, aparentava entender tudo e tentava em vão ficar sentada sozinha.

Independente desde sempre.

Eu estava quase pegando no sono quando senti a mão de Enrico fazer carinho em meu rosto, assustei e sentei-me em um pulo, bocejando em seguida.

— Desculpe, não queria despertá-la. - disse envergonhado, ele estava bem próximo de mim, até mais do que Liz que agora estava com a cabeça em minha barriga.

— Tá bom. - respondi meio grogue, porém sabendo do que estava prestes a acontecer.

Enrico tocou meu queixo fazendo com que eu olhasse dentro dos seus olhos.

— Meu coração está acelerado. - sussurrou.

Respirei fundo e fechei meus olhos.

E seus lábios não demoraram a encontrar-se com os meus.

ENRICOWhere stories live. Discover now