II

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II

Aline

Há quatro meses carrego em meus braços o fruto de um relacionamento abusivo, Liz minha filha. Uma criança dócil, sorridente que mesmo tão pequena contém sua luz própria, é esperta e dona de todo o meu ''eu'' e também a única parte boa que aquele maldito relacionamento me trouxe.

Nosso maior tempo juntas é durante a noite, pois de dia trabalho para que possamos nos sustentar, tornei-me manicure profissional há pouco mais de um ano, amo exercer a minha profissão e além de trabalhar à domicílio, consegui com muito esforço abrir o meu próprio salão onde acabo por atender uma variedade de pessoas, inclusive a família de Catarina, que é cercada por mulheres e é uma família bem conhecida aqui na cidade por causa do irmão que há um tempo foi vítima de um incêndio.

O telefone tocou cedo e meu despertador chamado Liz veio junto. Enquanto atendia ao telefone, eu terminava de preparar sua mamadeira com ela me olhando com seus olhinhos cor-de-mel, bem atentos. No telefone, era Catarina perguntando se eu poderia ir até sua casa para atendê-la, pois não iria conseguir sair se não fosse para ir ao trabalho.

Marcamos por volta das nove horas, pois após o almoço ela teria um compromisso inadiável na empresa do irmão.

Preparei Liz após dar-lhe mamadeira e fiquei me perguntando se seria hoje que eu conheceria o irmão de Catarina. Apesar de ir pouquíssimas vezes à sua casa atende-la, nas que eu fui não tive a sorte ou azar não sei de conhecê-lo, em mim, sempre houve a curiosidade.

*

*

Por sorte própria não foi necessário apertar a campainha, pois um homem atendeu-me. Ele estava com um moletom de cor preto e ainda por cima de cabeça baixa, já eu estava com Liz em um braço, suas bolsas em meus ombros, os materiais em outro braço e ela elétrica querendo ver tudo.

Ele sequer fez questão de saber quem eu era, e se eu fosse uma ladra?

Logo Catarina apareceu.

- Que ótimo poder ter um horário com você, querida. - ela diz ao me abraçar de jeito atrapalhado por conta das coisas que eu carregava. - Como Liz está linda. - beija a testa da minha filha.

- Obrigada. - sorrio. - Onde posso deixar estas coisas? Tem algum lugar específico que você queira fazer suas unhas?

- Minha mãe tem uma estufa de flores, próximo dela tem uma espécie de quiosque, acredito que Liz irá gostar de lá e a iluminação é muito boa também. - disse.

- Liz gosta de tudo. - digo com um sorriso fraco.

Carreguei tudo até próximo à estufa e o tempo automaticamente mudou para chuva, o lugar não era totalmente coberto e tivemos que imediatamente ir para a sala.

Deixei Liz no bebê conforto próxima de mim e próxima também da escada.

*

*

Liz tinha a mania de fazer barulhinhos com a boca há quase todo tempo, mas justamente hoje e naquela casa ela não estava fazendo. Pelo ao contrário, estava quieta, atenta a tudo.

Estava entretida quando vi os olhos de Catarina manejados de lágrimas.

- Está tudo bem? - perguntei preocupada. - Sente dor?

Ela secou uma lágrima rapidamente e olhou para a escada.

Sem que eu pudesse perceber, o homem que havia me atendido um pouco mais cedo estava sentado no primeiro degrau da escada com minha filha em seu colo sorrindo pra ele enquanto o mesmo fazia carinho em sua barriga.

- Sua filha é a primeira pessoa que ele tem contato mais íntimo após o incêndio. - ela sussurra baixinho para que ele não escutasse.

- Ela gostou bastante dele. - sussurrei de volta.

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