Como explicar a maneira com que começamos a nos falar? Às vezes, o destino opera de maneiras misteriosas.
Desde o primeiro ano do ensino médio estudávamos na mesma turma, mas sempre tivemos amigos e interesses muito distintos para termos motivo para conversar. E nunca o fizemos, até o dia do acidente.
Voltávamos para casa depois de um longo dia na escola, e estávamos preocupados demais com nossos próprios problemas para sermos cautelosos no trânsito. Por um instante, esquecemos do volante, e foi o suficiente para nossos carros se chocarem.
Acordei deitada na cama do hospital. Sentei-me devagar e toquei a atadura que cobria parte da minha cabeça, como não senti dor, deduzi que fosse um bom sinal. Ele estava deitado na cama ao lado, o braço esquerdo engessado. Estávamos a sós no quarto, com uma televisão ligada em algum desenho animado, mas ele encarava o teto branco.
- Jonathan? – chamei.
Ele levou alguns segundos para virar seu rosto na minha direção. Apesar da expressão cansada, sorriu para mim.
- Olá, Elizabeth. – ele respondeu.
- Faz tempo que está acordado? – perguntei. – Desmaiei depois que nossos carros colidiram. Que dia é hoje? O que aconteceu desde então?
Jonathan abaixou o volume da televisão.
- Calma. – disse, soltando um riso. – Você ficou desacordada durante algumas horas, não dias.
Isso queria dizer que era madrugada de sábado, então não perdi nenhum dia de aula. Perfeito.
- Depois do acidente, fui até o seu carro e te vi desacordada. Tentei te ajudar, mas dois caras que passavam me impediram e falaram que eu deveria ficar parado esperando a ambulância. – ele contou. – Ainda bem que você acordou. Fiquei com medo de ter te matado.
- Bem, se isso é a morte, então é bem chato.
Trocamos um sorriso.
- Desculpe. – ele pediu. – Depois que perdi o jogo, fiquei tão irritado que não prestei atenção na curva e bati no seu carro.
- Ei, não é só culpa sua. – garanti. – Eu estava com a cabeça nas provas finais.
Encostei a cabeça no travesseiro, em silêncio. Ficamos assim durante algum tempo.
- Meus pais vão me matar. – comentei, de repente. – Eu provavelmente detonei meu carro, e eles sempre me mandam ser cuidadosa.
- Nem fala. – Jonathan suspirou. – Estamos ferrados.
Na manhã de sábado, uma enfermeira apareceu para nos medicar e trocar nossos curativos.
- Como você está? – perguntei, depois que ela saiu do quarto.
- Acho que meu braço vai me impedir de jogar. – Jonathan comentou triste.
- Talvez melhore em alguns dias. – tentei animá-lo, mas ambos sabíamos que não.
Ele suspirou.
- Espero que isso não atrapalhe meu treinamento na base militar.
Fiquei surpresa ao ouvir aquilo. Não fazia ideia que que Jonathan gostaria de fazer parte do exército.
- Você já se alistou? – perguntei, tentando não parecer espantada.
Ele sorriu ao ver minha expressão.
- Assim que atingi a idade mínima para isso.
- Achei que quisesse jogar hóquei. – comentei. Já assisti a alguns jogos do time da escola, e Jonathan patina no gelo como ninguém.
KAMU SEDANG MEMBACA
Arte & Guerra
RomansaElizabeth é uma aspirante a artista e pretende ingressar na faculdade de artes junto com sua melhor amiga. Jonathan joga no time de hóquei da escola e sonha em servir ao exército. Duas pessoas que aparentemente não tinham nada em comum, começam a se...