Capítulo XXXVI

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Jonathan e eu trocamos mensagens durante a noite inteira, criando hipóteses para o que Natally quis dizer quando falou para a lápide de Seth que ela o havia matado. Dormir não era uma opção, então tentamos entender a situação. Será que ela realmente tinha feito alguma coisa contra o capitão? Depois de acompanhar todo o drama e romance deles durante esses anos, era muito difícil acreditar naquilo, todavia, era impossível ignorar o que tínhamos ouvido.

Na manhã seguinte, ela apareceu cedo na minha casa, surpreendendo-me. Ao abrir a porta, encontrei Natally com uma expressão ansiosa.

- Por favor, escute o que tenho a dizer. – seu tom era quase uma súplica.

Meus pais já tinham saído para trabalhar, então não precisamos nos preocupar com alguém ouvindo a conversa. Sentamos na sala de estar da minha casa e ela começou a explicar tudo, devagar e com a voz trêmula.

- Como o time não estava usando o domo naquele dia, Seth me chamou para nos encontrarmos às escondidas, como fazíamos de vez em quando. – não escondi minha expressão surpresa pelo fato de ela estar me contando aquilo, embora eu já soubesse por ter bisbilhotado a vida deles. – Sei que parece estranho já que tivemos muitas brigas ao longo dos anos, mas nunca paramos de nos gostar, e nos últimos meses voltamos a... Ficar juntos.

Ela parou de falar, fechou os olhos e soltou um suspiro.

- Estava tudo tão bem que até pensei que pudéssemos fazer as pazes naquele dia.

Segurei a mão dela, tentando reconfortá-la.

- Ouvimos um estrondo, como uma explosão. – ela continuou. – Corremos até o lugar de onde tinha vindo o barulho e percebemos que se tratava de um incêndio. Seth me pediu para correr e chamar ajuda, enquanto ele pegaria um extintor e começaria a apagar o fogo...

Um soluço escapou da garganta da garota.

- Eu não deveria... Não deveria ter deixado ele para trás... Se eu tivesse... Ele não teria...

Natally começou a chorar e tudo o que consegui fazer foi puxá-la para um abraço, tentando acalmá-la. Tivemos nossas desavenças no passado, mas era impossível não sentir compaixão ou empatia pela situação dela.

Ela levou alguns minutos para se recompor. Ofereci a caixa de lencinhos que mamãe sempre deixava na mesa de centro da sala e fui até a cozinha pegar um copo de água. Entreguei-o para a garota, que deu vários golinhos antes de voltar a falar.

- Eu estava indo até a escola quando percebi que a fumaça aumentava, então pensei que algo pudesse ter acontecido com ele e voltei correndo, sem chamar a ajuda. Tentei abrir a porta do domo, mas estava emperrada.

- E foi aí que Julie e eu chegamos. – deduzi.

Ela concordou com a cabeça.

- Eu me sinto tão culpada. – falou. – Gostaria tanto de voltar no tempo e impedir que ele tivesse ficado lá sozinho.

- A culpa não é sua. – garanti. – Acidentes terríveis e injustos acontecem o tempo todo.

Ela abaixou a cabeça, encarando as mãos. Parecia tão pequena e frágil, com os olhos inchados de tanto chorar e a expressão triste. Não lembrava em nada aquela megera que me irritava durante o ensino médio. Essa Natally não se importava de estar com roupas fora de moda e o cabelo todo desgrenhado. O luto mexia mesmo com as pessoas.

- Um acidente que custou a vida dele. – sua voz estava carregada de dor. – Um maldito curto circuito tirou Seth de mim.

- Sinto muito.

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