Capítulo XXIII

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Havia uma aglomeração nos fundos da sala do clube de artes. Rose estava lá. Parecia em choque, e logo entendi o motivo: encarava os nossos trabalhos - os desenhos, molduras e pinturas - rasgados e cortados como trapos, totalmente destruídos. Cocei os olhos, na esperança de que aquilo fosse um pesadelo. Mas era real.

- O que aconteceu, meninas? – a senhora Smith também estava pasma.

- Não sabemos. – respondi.

Julie e Rose estavam ao meu lado, encarando com olhares tristes nosso projeto em farrapos. Nossos colegas ofereceram palavras de solidariedade e até mesmo perguntaram se não queríamos ajuda para reconstruir tudo.

Percebi, então, um detalhe que fez meu sangue ferver. No canto de uma das molduras, havia um post-it colado com uma frase em caneta preta. "Eu também sei me vingar".

- Vejam isso. – apontei.

- Ah, não. – Julie falou, entredentes. – Eu vou matar essa idiota.

O único nome que me veio na cabeça foi o de Natally. Estava devolvendo o que fizemos com ela ontem. Olhei ao redor, procurando o rosto daquela imbecil. Ela encarava fixamente nosso grupo, inexpressiva. Sonsa.

Julie pareceu ler meus pensamentos, pois se virou e andou até Natally. Levou o dedo até perto do rosto da outra e começou a acusá-la de ter feito isso. A megera começou a discutir de volta. Nossa professora pareceu em choque por alguns segundos, antes de intervir, exigindo que as duas se acalmassem.

- Natally, você fez isso? – a senhora Smith perguntou.

- É óbvio que não! – a garota fingiu estar ofendida. Se eu não a conhecesse, até poderia acreditar em sua inocência. – Elas são do meu grupo! Por que eu sabotaria meu trabalho?

- A culpa é dela! – Julie aumentava o tom de voz a cada palavra. – Ela precisa ser punida.

- Eu não fiz nada. – Natally colocou as mãos para cima, de maneira teatral.

A senhora Smith pediu que nossos colegas voltassem para os lugares e continuassem seus projetos. Ficou no fundo da sala conversando conosco. Depois que acalmamos Julie (foi bem difícil), ela informou que não tínhamos provas para acusar a nossa colega, e que, além disso, o argumento de Natally era válido, afinal, por que ela sabotaria o próprio grupo, não é mesmo? Resumindo, a professora foi convencida pelo teatro da megera e agora estávamos sem o nosso trabalho.

- O que pretendem fazer, garotas? – a senhora Smith, por fim, perguntou.

Suspirei e tentei manter a calma.

- Daremos um jeito. – sorri, fingindo ter tudo sob controle. A verdade é que eu queria voar no pescoço de Natally e estrangulá-la.

A professora se afastou e o grupo ficou sozinho. Natally abriu um sorriso maldoso, e, antes que Julie pudesse fazer qualquer coisa, segurei-a pelo braço. Ela ignorou completamente e disse, praticamente cuspindo as palavras na megera:

- Você vai pagar por isso.

- Vou?

- Você vai continuar no grupo para evitar problemas. – Rose falou, pela primeira vez com um tom irritado. – Mas não queremos mais a sua ajuda.

Natally arqueou uma sobrancelha, como se não acreditasse que a bondosa e paciente Rose estava mesmo excluindo ela da equipe.

Um silêncio incômodo se seguiu. A megera colocou fones de ouvido e começou a nos ignorar completamente. Por sorte, a professora estava ocupada demais com os outros projetos para prestar atenção nisso.

Arte & GuerraWhere stories live. Discover now