Capítulo XVII

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Acordei com Jonathan me ligando. Antes de atender, lembrei que dia era hoje e senti o desânimo tomar conta de mim: ele iria para longe de mim, para a guerra.

- Bom dia. – ele cumprimentou.

Sentei na cama. Pisquei várias vezes para acostumar meus olhos com a claridade proveniente das janelas.

- Por que está acordado antes das nove da manhã? – brinquei, olhando para o relógio.

- Estou ansioso... – ele bocejou. – E minha mãe não me deixa dormir.

Levantei da cama, olhei pela janela e vi as pessoas na rua. Quantas delas estariam se despedindo de pessoas queridas hoje?

- Sabe se a Julie irá até a estação nos dar tchau? – Jonathan perguntou.

- Acho que não. – fui até o espelho e ajeitei meu cabelo. Depois da festa, não se falaram mais. Julie me contou que durante aquela conversa, só perguntou como as coisas estavam na vida dele e que esperava que ele fosse feliz.

- Uma pena.

Fiz um barulho de concordância e Jonathan bocejou de novo.

- Você vem para o almoço? – ele perguntou.

A família dele tinha marcado uma despedida e pediram para que eu participasse.

- É claro. – concordei.

Despedimo-nos. Soltei um suspiro, encarando meu rosto triste no espelho. Forcei um sorriso antes de ir para a cozinha.

Meus pais me receberam com um café da manhã especial, repleto das minhas comidas favoritas. Claramente, tentavam fazer com que eu me sentisse melhor. Puxaram conversa, falando de vários assuntos bobos, tentando me animar. Não adiantou muito, mas sorri e fingi estar melhor.

Quando a refeição terminou, mamãe me chamou para o shopping, disse que poderíamos comprar alguns itens de pintura. Recusei educadamente porque tinha completa noção de que, mesmo que eu tentasse, não conseguiria prestar atenção em nada e meus pensamentos sempre voltariam para Jonathan.

Voltei para o meu quarto e deitei na cama, encarando o teto. Meu amor estava indo para longe, sem um prazo certo de retorno (isso se sobrevivesse para voltar). Não tinha um jeito de encarar aquela situação de maneira positiva.

Acabei me lembrando dos dias em que estávamos na escola, sem preocupações, enquanto eu ia até os treinos do time de hóquei e íamos em festas de noite. Pensei nos encontros que tivemos e em como sorria para mim... Céus, como eu sentiria falta daquele sorriso bobo. Comecei a chorar, e tive certeza que meus pais ouviram meus soluços, mas me deixaram sozinha e não pude estar mais agradecida. A última coisa que eu queria no momento era que alguém me visse daquele jeito.

Revirei na cama, tentando parar de chorar. Ele nem tinha ido embora ainda e eu já estava arrasada.

Não sei quanto tempo se passou até que eu tivesse ânimo para me levantar. Peguei uma tela de pintura e comecei a trabalhar, tentando desesperadamente esvaziar minha mente. Pintei uma paisagem meio borrada, sem muitos traços. Os detalhes de uma obra variavam de acordo com a quantidade de tempo que eu empregava nela.

Coloquei o quadro em um canto do quarto, para que secasse completamente. Olhei para o relógio. Estava quase na hora do almoço na casa de Jonathan. Suspirei antes de começar a me arrumar. Tomei banho, coloquei um vestido preto - a cor favorita dele - e escolhi alguns acessórios prateados para combinar. Na hora da maquiagem, pedi ajuda para minha mãe, já que eu não era muito boa com isso e Julie ainda não tinha dado sinal de vida.

- Vou colocar bastante base e corretivo perto dos olhos para disfarçar... – ela disse, gentil. Não terminou a frase, mas entendi que tentaria cobrir os vestígios de que chorei como um bebê.

Arte & GuerraWhere stories live. Discover now