Capítulo XXXV

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Os dias após o enterro de Seth foram difíceis. Precisei dividir meus dias entre ficar com Bendyk, Jonathan ou Maxwell. Os três estavam arrasados, então eu os obrigava a comer quando não tinham fome, assistia filmes que os deixavam menos tristes e oferecia meu ombro para que pudessem chorar.

A única coisa boa que aconteceu nesses dias foi que Julie conseguiu conversar novamente com Ryan. Ele estava bem e explicou que a base teve alguns imprevistos, por isso não conseguiu manter contato. Todavia, prometeu para minha melhor amiga que tudo melhoraria a partir daquele ponto da guerra.

Hoje fazia uma semana da morte de Seth. Julie, Max e eu estávamos juntos assistindo ao noticiário local. Os dados da perícia sobre a causa do incêndio no domo finalmente foram divulgados: um curto circuito.

- Não acredito que algo assim custou a vida de Seth. – os olhos de Max encheram de lágrimas. – Por que justo ele quando existem tantas pessoas ruins no mundo?

Não falei nada.

- Por que essas coisas acontecem? – o tom de Max se tornava mais raivoso a cada palavra. – É injusto!

Ele levantou e começou a andar de um lado para o outro.

- O que ele fez para merecer isso? – Max praticamente gritava.

De repente, ele virou para a parede e começou a desferir socos nela. Troquei um olhar assustado com Julie. Como as coisas saíram do controle tão rápido?

- Max! – Julie pediu. – Pare!

Ele a ignorou e continuou gritando sobre como o fim de Seth não foi justo. Decidimos segurá-lo antes que quebrasse a mão ou abrisse um buraco na parede. Por sorte, meus pais não estavam em casa e não presenciaram aquilo. Minha mãe não gostaria de ver o garoto batendo na sala recém decorada dela, independente de qual fosse o motivo.

Max soltou um soluço e caiu de joelhos. Seus olhos estavam arregalados e cheios de lágrimas.

- Sabemos que é injusto. – Julie se abaixou e segurou o rosto dele com as mãos. – Mas isso não vai trazê-lo de volta.

Sentei no chão, ao lado dele.

- Acha que Seth ia querer que você se machucasse assim? – peguei as mãos dele, os nós dos dedos vermelhos.

Max soltou outro soluço, sua respiração acelerou e ele abaixou a cabeça, tremendo. Seu esforço para segurar a raiva e as lágrimas era nítido. Não imaginei que a ligação que ele e Seth construíram tinha sido tão forte assim.

Ficamos ao lado dele, sentadas no chão, até que ele se acalmasse.

- Desculpem... – Max disse, depois de um tempão. – Não queria perder o controle.

- Sabemos que é difícil, mas descontar nas paredes não é solução. – falei.

- Tive uma ideia. – Julie sorriu para ele. – Você fica aqui enquanto a Liz e eu vamos comprar sorvete.

Ele concordou com a cabeça. Seus olhos cinzas pareciam o céu durante uma tempestade. Perguntei-me se isso acontecia sempre que ficava triste.

Julie e eu subimos no carro e dirigi até o supermercado mais próximo. Pegamos o sabor favorito de Max e colocamos na cesta de compras. Passamos pelo corredor de chocolates e Julie escolheu alguns.

- Ele está precisando. – justificou. – Não é fácil ter o coração partido assim.

Voltamos para casa e Max estava deitado na minha cama. Mostramos as sacolas com as compras e ele se sentou lentamente, abrindo um pequeno sorriso, o primeiro desde a morte de Seth. Até havia me esquecido que ele tinha covinhas quando sorria.

Arte & GuerraWhere stories live. Discover now