Capítulo XVIII

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Realmente desejei não ter acordado de madrugada. Tudo parece se tornar mais deprimente depois da meia noite. Rolei na cama pelo que pareceu uma eternidade, tentando voltar a dormir, mas meus pensamentos sempre acabavam em Jonathan. Será que já tinha chegado na base militar? Ele estava bem? Também sentia a saudade corroendo seu coração?

Acendi a lâmpada do quarto e precisei segurar o choro. Havia me esquecido que estava vestindo o uniforme verde do time de hóquei que Jonathan me dera antes de partir. Encarei-me no espelho. Jonathan usava aquela camiseta por cima de vários equipamentos de segurança, então ela era realmente grande, mas eu não me importava. Ainda estava impregnada com o cheiro dele. Fechei os olhos e as lembranças dos inúmeros treinos do time que assisti tomaram conta de mim.

Peguei uma das telas em branco, procurei meus pincéis e comecei a misturar as cores das tintas. Desde que eu era pequena, pintar era uma espécie de refúgio e terapia. Sempre que eu precisava, a arte ajudava a esvaziar minha mente e me acalmar.

Comecei a pintar o rosto de Jonathan: seus olhos castanhos, as feições gentis, o sorriso bobo... Conforme as pinceladas tomavam forma, lágrimas surgiam. Passei a mão no rosto diversas vezes, tentando contê-las, mas elas eram teimosas. Entrei em uma espécie de transe, onde nada mais existia além de mim, minha arte e meu choro silencioso. Só voltei para a realidade quando ouvi meus pais no corredor, saindo para trabalhar. Fiquei em silêncio até ouvir a porta da frente fechando. Eles sempre me davam um sermão sobre como passar a noite pintando seria ruim para a minha saúde.

Encarei meu trabalho. Jonathan adoraria aquele quadro se pudesse vê-lo. Comentaria que eu sempre "deixava ele mais bonito", então eu diria o quão lindo ele de fato é, JoJo riria e nos beijaríamos. Mas ele não estava aqui comigo, e não chegaria tão cedo.

Levantei e me espreguicei, ignorando a dor nas costas. É óbvio que tanto tempo sentada em frente a um quadro não faria bem para minha coluna.

Tomei um susto quando meu celular começou a tocar. Julie estava me ligando.

- Não consegui dormir, estou sentindo tanta falta dele. – ela informou, antes que eu pudesse falar qualquer coisa.

- Eu também. – respondi, triste.

- Max e eu estamos indo aí. – ela falou. – Acho que vai ser bom ficarmos entre amigos agora.

- Maxwell? – não escondi minha confusão. Por que ele viria?

- Natally está ligando e mandando mensagens desde ontem sem parar. – Julie resumiu. – Explicamos melhor quando chegarmos. Estamos pegando o ônibus. Tchau.

E desligou.

Fui para a sala de estar e liguei a televisão, esperando os dois chegarem. Não demorou muito até a porta se abrir. Como sempre, ela usou a cópia que tinha para entrar. Não hesitou em sentar ao meu lado e colocar os pés na mesinha de centro. Típico da Julie.

- Meu bem, o que aconteceu com o seu rosto? – Max questionou.

- Acontece sempre que ela fica entretida pintando. – Julie deu de ombros.

Arqueei as sobrancelhas sem entender. Ela pegou um espelho que sempre carregava consigo e colocou na minha frente. Meu rosto estava cheio de manchas coloridas, resultado das vezes que tentei limpar as lágrimas de madrugada.

- Pareço um palhaço triste. – constatei, todavia, não fiz o menor esforço para tirar a tinta.

- Bem-vinda ao clube. – Max soltou uma risada.

Fui até a cozinha fazer chocolate quente. Ele começou a contar o motivo de Natally estar ligando sem parar. Gritava para que eu pudesse ouvir tudo do outro cômodo:

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