Capítulo II

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Recebemos alta na manhã de segunda-feira, quando o hospital constatou que não tínhamos nenhum trauma e poderíamos voltar a viver nossas vidas. Eu não precisaria mais dos curativos, já que só sofri uma pancada e alguns arranhões; Jonathan ficaria algum tempo com o braço engessado. Segundo a previsão do médico, em poucas semanas poderia tirar o gesso.

Quando voltamos para a escola, todos os nossos colegas de classe queriam saber como estávamos e o que tinha acontecido. Jonathan e eu não aguentávamos mais responder essas mesmas perguntas.

Começamos a conversar com frequência, já que nos víamos todos os dias nos corredores da escola e na sala. Trocávamos mensagens, também. Jonathan era um cara legal e inteligente, e sempre me fazia sorrir ao me chamar de "Lizzy".

Ele ainda estava com o braço engessado duas semanas depois do acidente.

Comentou, triste, que ainda não podia jogar. O campeonato de hóquei entre as escolas da cidade estava na reta final, e como eu sabia o quão importante isso era para Jonathan, decidi aparecer durante um dos treinos abertos ao público.

JoJo estava sentado na arquibancada, perto do banco de reservas. Notei que vestia sua camiseta do time, mesmo que não pudesse jogar. Gritava para os companheiros que patinavam, motivando-os.

- Ei, JoJo! – chamei.

Ele se virou e me lançou aquele sorriso bobo. Tentei não reparar como ficava bonito vestindo o verde do time.

- Oi Lizzy. – respondeu.

Sentei-me ao lado dele e observei o treino. Localizei Benny, concentrado no gol. Já assisti jogos do time o bastante para saber que ele seria um goleiro famoso um dia.

- Lamento que você não possa jogar. – olhei para Jonathan.

Silêncio.

- Talvez eu me sentisse melhor se você me pintasse de novo. – ele comentou, de repente.

- Por quê? – estranhei.

- Porque você tem talento. – ele respondeu. – Você faz com que eu pareça bonito nelas. Gosto disso.

Jonathan me lançou um sorriso tímido e voltou a olhar para o jogo. Era estranho vê-lo assim, já que era uma das estrelas do time e sempre parecia confiante. Lembrei de como Julie costumava dizer que quando garotos ficam tímidos, é porque gostam de você. Isso só prova como ela não entende nada.

O treinador tinha parado o jogo e conversava com os jogadores.

- Jonathan! – alguém gritou, atrás de nós.

Uma garota vinha na nossa direção. Eu a conhecia de alguma aula, mas não lembrava seu nome. Sorriu para mim e pediu licença. Levantei e ela se sentou no meu lugar, ao lado dele. A expressão de Jonathan congelou em um sorriso amarelo.

Ela começou a falar sobre como estava chateada por Jonathan estar machucado, que amava vê-lo jogar e blábláblá. A garota falava rápido demais, atropelando as próprias palavras. Não consegui entender nada, então só sentei ao lado deles e esperei que a falação terminasse. Mas não parecia ter fim. O rosto de Jonathan começou a se transformar em uma careta de irritação.

Finalmente, depois de muito blábláblá, ela revelou o verdadeiro motivo de tudo aquilo:

- Eu estava pensando se você não quer ir ao cinema comigo amanhã depois da aula. – abriu um sorriso para ele. – Acho que seria bom para te animar, sabe?

Jonathan coçou a cabeça por um segundo e me lançou um olhar, como se não soubesse o que responder. Dei de ombros. Será que Jonathan tinha que lidar com essas fãs o tempo todo? Isso me lembrou de Benny e como as janelas dos nossos quartos eram nas laterais das casas, de frente uma para outra, e das vezes em que precisei fechar as cortinas para não vê-lo com as garotas.

Arte & GuerraWhere stories live. Discover now