Capítulo 4

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Anne enxugou uma lágrima e perguntou se agora ele acreditava e dando um gole na sua cerveja ele disse que sim.

"Isso é inacreditável! Prometo pesquisar mais, okay?" e ela balançou a cabeça em afirmativa.

"Agora só preciso digerir todas essas informações" murmurou respirando fundo. "Melhor não comentar com ninguém sobre isso!" aconselhou.

"Sim.. Não o farei" ela respondeu. "Mas obrigada por enquanto, foi bom ver minha casa" disse emocionada.

Robert assentiu e decidiu mostrar a TV pra ela se distrair, não queria ver ela chorando e triste. Então ela sentou no sofá ao lado dele e ele explicou que filmes e séries eram como livros, mas ao invés de ler, ela poderia assistir.

"Wow! Podemos ver algum agora?" ela pediu e ele procurou algum mais inocente para ela não ficar muito chocada.

"Já comeu pipoca?" ele perguntou e ela disse que não. Então ele preparou um pacote no micro-ondas e ela amou.

Comeram e assistiram o filme todo. Ela mal piscava, sorria, batia palmas e dava gritinhos. Robert a observava sem ela perceber e sorria carinhosamente dela.

"Como isso foi acontecer comigo?!" ele pensou suspirando "Ainda bem que não a deixei sozinha, parece que eu estava sentindo que ela precisava de ajuda".

........

No outro dia Robert mostrou o trabalho que ela faria, ele guardava os produtos de limpeza na casa dele, que era uma edícula no final do jardim. Ela não tinha percebido que tinha esse cômodo a mais na casa e ele a convidou para entrar.

Tinha um espaço para cozinha, um quarto e um banheiro. Era pequeno, para os padrões dela, e estava bem bagunçado. Ele sorriu e pediu desculpas por aquilo dando de ombros.

"Isso realmente está precisando de um toque feminino!" ela pensou mas achou rude comentar.

Anotou como a máquina de lavar funcionava, os nomes de produtos e suas funções e partiu para seu primeiro dia de trabalho.

"Minha mãe ficaria horrorizada se me visse assim!" pensou divertida. Ela nunca precisou fazer nada, sempre teve empregados.

Enquanto isso Robert ficou na edícula trabalhando em seu computador. Em um certo momento olhou ao redor e sentiu vergonha "Ela vai me achar um porco" murmurou e resolveu dar um jeito naquela bagunça.

Se olhou no espelho e viu sua imagem desleixada. Tinha cabelos ruivos enrolados, que ele decidiu aparar. Sua barba crescia, mas ele deixou, as mulheres gostavam. Ele era alto e atlético. Levantou a camisa e observou o abdômen "Não sou de se jogar fora" murmurou dando tapinhas na barriga cheia de gominhos. Sorriu e continuou a arrumar a casa.

Fez o melhor que pôde e em seguida Anne bateu na porta, levava o balde com os produtos para guardar.

"Foi tudo bem? Você não me chamou nenhuma vez" Robert observou.

"Foi sim.. Você pode olhar, por favor, se fiz tudo corretamente?" ela pediu e ele assentiu.

"Sim.. claro, vamos lá" e saíram para dentro da casa. Robert estava admirado pelo comprometimento dela. Ela havia sido uma jovem rica, vitoriana. Ele achou que ela não conseguiria, mas estava errado.

"Está tudo certo Anne.. Muito bom" disse sorrindo e ela ficou muito feliz. "Nunca fiz nada parecido, como sabe.. Mas vou me esforçar para me adaptar e trabalhar com dignidade" disse como se fizesse um discurso e sorriu. Robert sorriu de volta e disse:

"Amanhã teremos um novo hóspede, você pode me acompanhar quando eu mostrar a casa e explicar as regras, assim pode aprender."

"Claro, adoraria.. mas vou me recolher agora, estou muito cansada" disse passando as mãos pela testa.

"Não vai querer jantar?" ele perguntou preocupado. "Talvez seja melhor fazer as coisas aos poucos". Ele não queria forçar ela a trabalhar pesado sendo que ela não estava acostumada.

"Estou com muita fome, na verdade" disse sorrindo "Mas o cansaço é maior".

"Levarei em seu quarto então, okay?" sugeriu.

"Oh.. não precisa senhor Robert!" disse corando.

"Faço questão, não quero que durma sem se alimentar. Vai descansar, que vou preparar algo para você comer".

Ela assentiu agradecendo e saiu. Ele fechou sua edícula e foi para cozinha. Preparou uma sopa, cortou algumas fatias de pão, arrumou a bandeja e subiu.

Anne tomou um banho e estava quase cochilando quando Robert chegou.

"Possa entrar?" disse batendo na porta, equilibrando a bandeja em um braço só.

Ela levantou da cama e abriu para ele. Sentaram na cama e enquanto ela comia eles conversaram.

"Anne.. Você tem mesmo 18 anos?" ele perguntou desconfiado.

"Não.. mas irei completar a maioridade em um mês" disse se desculpando por mentir.

"Bom.. Você terá que mentir para fazermos seus novos documentos, senão te levarão daqui."

"Não! Por favor.. Não deixa ninguém me levar!" ela implorou segurando sua mão. Em seguida largou se desculpando.

"Não deixarei.. não se preocupe. Come sossegada, que mais tarde eu passo aqui para pegar a bandeja".

Ela assentiu e após comer, caiu no sono exausta.

No outro dia cedo, saíram para providenciar os documentos e colocaram a mesma data de nascimento, mudando somente o ano.

Ela olhava para seu cartão de identificação feliz, agora se sentia como se fizesse mais parte do século XXI.

........

Em casa, esperaram os novos hóspedes. Era um casal, da Austrália. Anne nunca havia conhecido tantas pessoas de outros países, como naquela semana. Estava super animada, não sabia que a língua Inglesa tinha tantas variações de sotaques.

Robert entregou um papel para o casal, onde continha as regras da casa. Entre elas, não poder levar acompanhantes, manter a limpeza e segurança da casa.

Mostrou como funcionava as áreas comuns da casa e entregou uma chave a eles desejando boas vindas.

"Você perdeu um quarto, comigo aqui, não é?" perguntou sentindo-se culpada.

"Não se preocupe com isso. Eu não ofereceria se não pudesse".

"Está certo, obrigada" assentiu. "Pensei em caminhar pela vizinhança, já que estou com o tempo livre" disse pensativa.

"Mmm.. Não sei se é uma boa idéia .. Tenho medo que se perca ou se atrapalhe para atravessar a rua" ele disse preocupado e ela concordou cabisbaixa. "Não sei o que fazer em meu tempo livre Robert" murmurou.

"Posso ir com você hoje, e se sentir mais confiança, poderá sair sozinha nos outros dias, tudo bem assim?" sugeriu e ela agradeceu feliz.

Feliz foi pegar um casaco, estava um outono frio e aquele dia se encontrava úmido e nublado.

Andaram ao redor e ela reconheceu algumas construções, agora parecendo velha. Pediu para ir até a casa Pusset e ele gostou da idéia. Estava curioso.

Ele já havia passado por ali diversas vezes, mas nunca imaginou qual seria sua história. A casa agora era um centro cultural e era aberta para o público.

Assim que entraram Anne apertou a mão dele, emocionada. "Prefere vir algum outro dia?" ele perguntou.

"Não.. Vamos entrar agora, por favor" ela pediu e ele assentiu.

London London III - Uma Vitoriana no Século XXI Onde as histórias ganham vida. Descobre agora