Capítulo 42

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Os dias se passaram e Robert marcou o casamento para dali, mais ou menos, um mês e meio. Ele e Anne se falavam todos os dias por vídeo, mesmo nos dias em que se viam. 

A noite da leitura do poema tinha chegado e ela passou um tempão treinando. Estava nervosa mas ao mesmo tempo animada em poder trazer um pouco do seu tempo para o século XXI. 

A noite estava um pouco fria, e tinha archotes de fogo espalhado pelo jardim, iluminando e aquecendo os convidados, que para a surpresa de Anne, eram muitos. 

Ficou de repente com a garganta seca e tremendo. Robert a abraçou sorrindo e prometeu que estaria por perto. "Olha só pra mim, se isso te fizer sentir mais confiante" ele sugeriu e ela assentiu suspirando. 

Debbie a chamou e ela foi até o gramado. As pessoas pararam de falar e ela se apresentou. 

"Olá, é um imenso prazer estar aqui hoje com vocês trazendo o melhor da Era Vitoriana" ela começou nervosa. Respirou fundo e continuou.

"Sabemos que foi uma época complicada em vários sentidos, mas não podemos negar que a arte foi importantíssima e tem características próprias de sua época, que eu vou tentar reproduzir aqui" disse procurando Robert, quando o encontrou ele assentiu dando forças pra ela continuar. 

"Meu nome é Anne Birdwhistle e meus ancestrais tiveram ligações com a família que construiu essa casa, a família Pusset. Então é com essa aura familiar do passado que leio esse livro que encontrei aqui, na biblioteca".

Pigarreou e começou. 

Inverno: meu segredo

Devo contar meu segredo? Não, de fato;

Um dia, talvez, quem o saberá?

Hoje não: ele congela, assopra, e neva,

É tu, tão curioso: calado!

Queres ouvi-lo? Bem:

Mas é meu segredo, não conto a ninguém.

Ou talvez, enfim, não há nenhum:

Suponha não ter nenhum, entretanto,

Só minha diversão.

Hoje, dia frisante, dia cortante;

Um em que se quer um manto;

Um véu, agasalho ou capa:

Não posso abrir a todo que bata,

E deixar os debuxos soarem em meu recanto;

Vinde a confinar e cercar-me

Vinde assombrar e surrar-me

A beliscar e tosar todos os meus mantos.

Mascaro-me p’ra aquecer: há quem revelesSeu

nariz nas russas neves

Para ser bicado por toda a brisa que corres?

Não irias tu bicar? Agradeço-te pela boa vontade

Credes, mas deves deixar improvada a verdade.

A primavera é expansiva: ainda duvido

Março a poeira se faz montículo

Nem abril e os arco-íris de suas rápidas chuvas,

Nem mesmo maio, cujas floradas

Podem murchar-se, no escuro das geadas.

Talvez em algum dia de verão indolente,

London London III - Uma Vitoriana no Século XXI Where stories live. Discover now