Quero tê-la de volta.

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PIETRO MONTELLATO

Quando voltamos para o quarto de Maria eu não conseguia fingir que estava tudo bem, eu não consegui mascarar a dor e a frustração que eu estava sentindo, eu fiquei tão feliz por ver que minha menina estava bem mas toda essa felicidade acabou quando aqueles mesmos lábios que disseram que me amar, disseram não se lembrar de mim. Eu não conseguia acreditar que demorei tanto para vivenciar um sentimento tão puro e envolvente como o amor, para então perdê-lo em questão de horas.

Tudo isso aconteceu a três dias atrás, eu sai daquele quarto de hospital enfurecido e me arrependo por ter tomado aquela atitude, mesmo que não se lembrasse mim eu não queria assustar Maria e não queria causar uma má impressão. Depois que sai do quarto não demorou muito e Simone veio atrás de mim tentando me acalmar e conversar comigo, em meio as suas palavras ela acabou me convencendo a ir para casa e tentar me acalmar, acabei concordando porque infelizmente eu não podia fazer nada por Maria, para ela eu era praticamente um estranho e a única pessoa que ela confiaria no momento seria sua mãe.

Voltei para casa me sentindo completamente quebrado e nem consegui dormir a noite, na manhã seguinte acordei bem cedo e quando estava quase pronto para sair de casa recebi uma ligação de Simone dizendo que Maria já havia recebido alta, mas que ela levaria Maria para sua casa porque a mesma disse que se sentiria mais confortável lá, eu entendo totalmente o que Maria estava pensando quando disse isso, mas ainda assim doeu muito quando ouvi.

Me levantei da cama e segui até o banheiro, o despertador nem havia tocado mas por passar a noite toda em claro eu não fazia questão de passar mais tempo na cama. Eu estou tão irritado, odiei dormir sem ter Maria entre meus braços, a cama parece tão grande e vazia, eu a quero a todo instante do meu dia, mas ela não se lembra do que eu significo pra ela. Me afundei no trabalho desde então e todo dia eu ligo para Simone e falo um pouco com Maria para saber como ela está, mas são sempre conversas rápidas e superficiais.

Tomei um banho bem quente e demorado, sou o dono da empresa e não estou com nenhuma vontade de ser pontual hoje. Desliguei o chuveiro e sai do box me secando e enrolando a toalha ao redor da cintura, andei até meu closet e escolhi um terno qualquer para trabalhar e comecei a me vestir.

O silêncio da casa e o vazio pareciam corroer minha alma, toda manhã fazíamos nossa rotina juntos, e agora me vejo sozinho como nos velhos tempos.

[...]

-Eu tenho mais de 50 milhões para investir em sua nova empresa, mas estão em uma conta na Europa, em alguns dias posso fazer a transferência.- Disse um dos negociadores.

-Senhor Howard, eu sou muito cauteloso antes de fechar algum negócio, peço que envie toda a papelada necessária para minha secretária e então falaremos sobre sua proposta.- Vejo o homem a minha frente fechar a cara.

-Eu entrarei em contato!- Respondeu levantando-se de sua cadeira e abotoando o blazer.

-Foi ótimo conversar com você Howard!- trocamos um aperto de mãos e ele se retirou da minha sala.

Coloquei meus óculos de leitura e voltei analisar o relatório, esses investidores pensam que podem me enganar, são iguais aqueles alunos preguiçosos que fazem trabalho em grupo e não ajudam em nada mas querem ter o nome na capa.

Entre uma ligação e outra, uma reunião aqui, uma conferência ali, assinatura de contratos e documentos, as horas foram passando e quando me dei conta já havia escurecido e nem almoçado eu tinha, eu não estava com fome e se eu parasse de trabalhar eu perderia o foco e voltaria a pensar em Maria. A maioria dos funcionários já haviam ido embora e eu era o único em meu andar.

De repente o telefone fixo que tenho em meu escritório começou a tocar e logo me assustei porque apenas duas pessoas tem esse número, minha filha e Maria. Engoli seco na expectativa de atender a ligação, respirei fundo e peguei o telefone.

/LIGAÇÃO ON/

-Alô?

-Pai? Você tá bem? Te liguei várias vezes e não tive retorno.

-Ah...Oi filha, eu estou bem! Apenas ocupado com o trabalho.

-Pai já passou da hora de você ir pra casa, você comeu?

-Não...

-Pai!!

-Filha não precisa se preocupar comigo, eu sei me cuidar!

-Passando horas no trabalho, sem comer absolutamente nada?!

-Por acaso nós invertemos os papéis de pai e filha?

-Desculpa pai...Eu estou a quilômetros de distância, e você e a Maria estão passando por um momento difícil, eu odeio me sentir impotente e não poder ajudar em nada.

-Eu sei minha princesa, obrigado por se preocupar mas aos poucos as coisas vão se ajeitando.

-Me diz pai como você realmente está se sentindo?

-Eu estou destruído por dentro, não sei como lidar com essa situação.

-Obrigada por se abrir comigo pai, queria te dar um abraço.

-Eu também filha, sinto saudades muitas mesmo!

-No seu aniversário estarei aí.

-Isso vai ser ótimo.

/LIGAÇÃO OFF/

Minha filha e eu ficamos conversando por mais alguns minutos e isso me ajudou a me distrair um pouco, assim que encerramos a ligação decidi arrumar minhas coisas e ir embora para casa já eram 20:40 da noite e para quem chegou as sete meia da manhã já está bem tarde.

No caminho para o meu apartamento, quanto mais próximo eu estava mais eu sentia vontade de ir para qualquer outro lugar, não queria chegar lá e mais uma vez encontrar o vazio e a escuridão, queria encontrar minha menina me esperando, quero tê-la de volta.

Destranquei a porta do apartamento e entrei, não acendi nenhuma luz apenas tirei os sapatos e fui andando direto para o meu quarto, eu queria dormir para esquecer meus problemas, tirei o blazer e afrouxei a gravata e me lancei sobre a cama, da forma que eu caí ali eu fiquei e adormeci.

Acordei em um sobressalto ao ouvir batidas na porta de casa, eu estava exausto e não queria me levantar da cama, as noites sem dormir finalmente pesaram sobre meu corpo, decidi ignorar mas as batidas se intensificaram o que me causou extrema irritação. Me levantei da cama enfurecido, quem será que está batendo em minha porta? Nem o som do interfone eu ouvi. Peguei meu celular e eram 00:17. Quem será uma horas dessas?

Andei pelo apartamento com passos pesados, eu não me importava com minha aparência acabada e cansada, não me importava com meu mau humor, tudo o que eu queria era enxotar a pessoa da minha porta o mais rápido possível.

Destranquei a porta e a abri bruscamente, meu coração errou a batida com visão que tive.

-Maria?- Sussurei seu nome ainda sem acreditar que ela estava ali a minha frente.

Ela levantou a cabeça e me encarou com os olhinhos vermelhos cheios de lágrimas.



Quem poderia ImaginarWhere stories live. Discover now