Quem poderia Imaginar

Você não ligou...

PIETRO MONTELLATO

Fiquei paralisado olhando para aquela pequena figura que apareceu de modo repentino em meu apartamento. Eu só poderia estar sonhando, o que Maria faria aqui a essas horas da noite? Ainda mais estando de recuperação por conta acidente. Fechei meus olhos com força e os abri novamente notando que Maria realmente estava ali em minha frente. Os machucados em seu rosto já estava cicatrizando, mas o curativo em sua testa e a tipóia em seu braço ainda estavam ali.

-Maria o que faz aqui a essas horas? É perigoso sair na rua tão tarde.- A repreendi quando processei o que realmente estava acontecendo.

Ela não disse nenhuma palavra, seus olhos ficaram ainda mais vermelhos e eu presenciei quando as lágrimas rolaram pelos seus olhos.

-Você não ligou.- Ela respondeu com a voz trêmula.

Franzi o cenho sem entender ao que ela se referia, me aproximei dela e passei os braços sobre seus ombros e a trouxe para dentro do apartamento. Notei que ela estava abraçada com uma mochila e então a tirei de suas mãos e pendurei perto da porta, a conduzi até o sofá e ela se sentou, me ajoelhei a sua frente.

-Me explica o que está acontecendo meu anjo.- por um impulso toquei seu rosto mas logo me afastei ao me lembrar que Maria não se recorda dos sentimentos que tinha por mim.

-Você me liga todos os dias desde que sai do hospital, mas hoje você não ligou.- Explicou secando as lágrimas.

-Me desculpe eu me distrai com o trabalho e cheguei muito cansado em casa.- Falei sentindo-me verdadeiramente culpado, me afundei tanto no trabalho para me esquecer que a mulher que eu amo não se lembra de mim que a deixei de lado.

-Não precisa se desculpar, isso foi bom pra mim.

-Como assim foi bom?- Perguntei confuso e então ela abriu um sorriso lindo.

-Eu passei o dia todo com um pressentimento estranho, uma angústia no peito com a sensação de que estava me faltando algo, quando me dei conta já era tarde da noite e você não tinha me ligado como sempre faz. - Meu coração começou a bater acelerado no peito conforme minha ansiedade aumentava.- o fato de você não ligar me deixou muito triste e uma saudade começou a crescer dentro do peito, e foi então que eu senti uma dor de cabeça muito forte e desmaiei, acordei no hospital.

-O quê? Como assim amor? Por que sua mãe não me ligou?- Perguntei tão preocupado que a chamei de amor.

Maria pareceu se divertir com meu desespero pois seu sorriso aumentou, eu não estava entendendo seu comportamento e isso me deixava aflito.

-Eu pedi a ela que não te ligasse.- Me distanciei um pouco e encarei sem entender.- Eu me lembrei amor...

Meu coração errou a batida quando eu ouvi sua voz doce e suave me chamando de amor, eu nem conseguia acreditar, segurei sua pequena mão entre as minhas.

-V-vo...Você se lembra? Se lembra de tudo?- Questionei me sentindo tenso.

-Eu me lembro de cada detalhe dos dias que passei com você, eu me lembro de tudo. -Ela respondeu segurando meu rosto com as duas mãos, fazendo-me olhar em seus olhos perfeitamente azuis.- Eu me lembrei que te amo.