Capítulo 3: Uma amiga cega

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Quando amanheceu, abri meus olhos e percebi que a chuva já havia cessado. Sem ter noção alguma de que horas eram, me levantei com um pouco de dificuldade e fui sem demora para o quarto de Lola, encontrando seu berço completamente vazio.

Não consegui pensar direito, então, tudo o que fiz foi correr pela escada, e ao chegar na sala, encontrei com a pequena sentada no tapete, assistindo algum desenho na televisão enquanto bebiscava contente uma bebida escura na mamadeira.

— Você está aqui! — exclamei.

— Bom dia. — ouvi a voz de Thomas e rapidamente me virei em sua direção, encontrando-o atrás do balcão da cozinha.

— Me perdoe, eu não te vi.

— Não se preocupe.. Dormiu bem? — perguntou.

— Sim, me sinto descansada.

— Que bom. — abriu um sorriso e logo virou-se de costas, voltando a mexer na frigideira antes de apagar o fogo.

— O que preparou? — indaguei.

Aproximei-me do fogão e vi os ovos mexidos, em seguida, direcionei meu olhar à Thomas. Ele parecia estar se esforçando, e com isso, acabei soltando um sorriso. Depois de alguns segundos em silêncio, busquei a cadeira mais próxima para me sentar.

— Hoje você recebe visita.

— Huh, quem?

— Sua melhor amiga.

— Grace não está em Paris?

— Me referi à Claire.

— É... Me esqueço disso.

Era difícil acreditar que minha amizade com Grace tivesse acabado. Quero dizer, de todas as mudanças na minha vida, aquela era definitivamente a mais louca de todas. Nossa amizade sempre fora inabalável, e eu nunca a teria abandonado.

— É de outro mundo dizer que deixei nossa amizade se esvair.

— Não havia mais nada que pudesse fazer. — retrucou.

— Eu nunca fui do tipo de desistir de alguém que eu gostasse.

Thomas fez uma careta e levantou as sobrancelhas, me deixando confusa. Não consegui entender o que ele quis dizer, mas sabia que aquilo significava alguma coisa. Bufei comigo mesma e enchi os copos com o suco de caixinha que estava sobre o balcão.

— Claire esteve muito ansiosa pra te ver, assim como o Julian. Então, se puder, eu te peço que seja paciente com ela, por favor.

— Esse Julian vai vir também?

— Não, não. Combinamos que faríamos as coisas devagar. Todos nós entendemos o quanto isso pode ser exaustante pra você.

Assenti em resposta e bebisquei meu suco. O assunto terminou quando iniciamos o café da manhã, não estava com muita fome, então não comi muita coisa. Assim que terminamos de comer, fomos para a sala, fazer companhia à Lola que brincava no tapete.

Thomas parecia ser um ótimo pai, brincava e falava com a filha, mesmo que não entendesse bem sua conversinha aleatória. E Lola sem dúvidas era muito apegada à ele, e de um jeitinho especial, seus olhinhos brilhavam quando ouvia sua voz.

O Milagre: LembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora