Capítulo 4: Europa

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— Paris? — perguntou, com total surpresa em sua voz.

Respirei o mais que pude e encarei meus pés, em busca de palavras que explicassem minha decisão. Não esperava que aquilo fosse fácil, tudo na minha vida agora, parecia ser complicado. Quando levantei meu olhar, Thomas me fitou.

— Eu sei o que está parecendo...

— Tem certeza que você sabe? — retrucou.

— Sim. Eu preciso que entenda...

Thomas suspirou, e com isso, fiquei em silêncio outra vez. Com tudo o que ouvi sobre ele, esperava que nossa conversa seguisse um rumo diferente. Um lado meu, tinha esperanças de ser ao menos compreendida, pelo homem que um dia, eu amei.

— O que você quer que eu entenda?

— Há muitas coisas na minha vida que eu não reconheço. As pessoas mais próximas que eu me lembro são os meus pais. Eu tenho amigos que nem conheço. Tenho lembranças de uma pessoa muito importante pra mim e mesmo que ela seja diferente agora, ou que nossa relação de antes já não exista mais, eu quero vê-la porque eu preciso disso. Na minha memória de agora, minha amizade com a Grace não tem um ponto final.

— Acha que precisa dar um fim?

— Eu sinto que sim. Não quero ficar sentindo falta de alguém ou guardando as memórias de uma pessoa que nem sequer existe mais. Não quero manter todas as essas lembranças. Minha vida mudou, eu sei que preciso aceitar e esse é o início. Pode não ser da maneira que todos esperavam, mas é do jeito que acho necessário. Se for um erro, está tudo bem por mim. Todos fazemos escolhas erradas às vezes, e eu aprendo com elas.

— Como eu poderia te impedir de ir?

Um sorriso de canto se instalou em seu rosto, e em seguida, acabei sorrindo. Não foi preciso as palavras mais exatas para saber que havia sido compreendida. Eu poderia não ter o apoio de todos, mas tendo o dele, já era o suficiente para mim.

{...}

Após o almoço, eu me sentei no chão da sala com Lola e juntas ficamos montando alguns bloquinhos de brinquedo enquanto Thomas falava com o piloto no telefone, iríamos em seu jatinho particular, então não foi preciso comprar passagens.

— Eu costumava vigiar nesse jatinho? — perguntei.

— Claro, sempre que viajamos é assim que vamos.

— Parece que sou nova nisso, outra vez. — brinquei.

A estilo de vida que tínhamos também era algo completamente novo pra mim. Não que antes minha situação com meus pais eram ruins, mas casada, era tudo diferente. Em momento algum pensei que meu marido teria seu próprio jato particular.

Eu não fazia ideia de como seria meu encontro com Grace. Tudo o que eu podia esperar era que não fosse tão mau. Pra mim aquela ainda era a minha melhor amiga, e talvez fosse uma decepção vê-la de outra forma, mas também seria libertador.

Não conseguia acreditar que havia me tornado o tipo de mulher que deixava um assunto inacabado. Segundo me disseram, nunca mais a procurei, e nem falei a respeito da nossa situação. Eu simplesmente a deixei ir. Mas, acho que não tive opção.

Apesar de não ter a experiência que uma mulher da minha idade deveria ter, eu sabia bem que não poderia segurar alguém que desejar ir embora. Você não pode forçar uma pessoa a permanecer na sua vida, por mais que doa, temos que deixar ir.

Grace agora era uma estilista, e uma bem reconhecida. Tinha uma boa condição, e vivia em uma bela e enorme casa. Sem relacionamentos amorosos. Sua vida era focada em sua carreira, em noites confusas e amizades vazias. É, parece outra pessoa.

O Milagre: LembrançasWhere stories live. Discover now