Capítulo 9: Tudo em ordem?

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Especial dois capítulos.


— Co-Como assim? — indaguei.

Ouvi passos atrás de mim e olhando de canto, vi Thomas parar ao meu lado, em seguida, sua mão foi depositada sobre meu ombro. Voltei com meu olhar para Grace que sorriu meio sem jeito, ainda com uma triste expressão.

— Estarei no quarto, caso precise de mim. — Thomas disse baixinho, e logo ouvi seus passos rápidos se afastarem.

Eu não sabia bem como reagir aquilo. Quero dizer, eu só havia me preparado emocionalmente para a perda de uma amiga. Não esperava que depois daquela conversa e de todas as mudanças, ela aparecesse em minha porta.

— Eu errei, Manu. Isso tudo aconteceu quando eu me mudei para Paris! Não enxerguei o que estava acontecendo comigo. Tudo ao meu redor ia me consumindo e me transformando em alguém que eu não sou. — desabafou.

Suas palavras eram sinceras, e ao perceber isso, meus olhos imediatamente se encheram de lágrimas. Grace parecia estar carregando uma dor gigantesca, um peso que nunca deveria ter sido colocado sobre suas costas.

— Entre! Está tudo bem. — sussurrei, abraçando-a.

Grace e eu entramos em casa, levei-a até a cozinha, e abrindo a geladeira, peguei uma caixa de suco, derramando um pouco da bebida em um copo. Grace suspirou, e fitei seu rosto entristecido com certo pesar.

— Me desculpe... Acho que fui dura com você. — falei.

— Não! Jamais! Eu mereci. — disse, firme. — Eu precisava que alguém que dissesse tais coisas. Ninguém nunca teve coragem... Nem meus pais. Acho que ouvir isso da minha melhor amiga era necessário, de verdade. — concluiu.

— Quer falar mais sobre o assunto?

— Quando cheguei à Paris, eu percebi que era um mundo completamente diferente do nosso. Eu tentei me encaixar com as pessoas que eu era obrigada a conviver. E nisso, acabei perdendo a mim mesma. Porque quando eu estava com aquelas meninas, eu não podia ser eu. Eu tinha que ser outra pessoa para ser aceita por elas e de maneira nenhuma, eu queria ficar sozinha lá. Por conta disso, andava sempre com essas pessoas. E, toda vez que eu tinha de andar com elas, era preciso usar uma máscara, até que chegou o dia em que eu não soube mais como tirá-la. — confessou, deixando algumas lágrimas caírem.

— Por que não conversou comigo?

— Eu pensei que conseguiria lidar com aquela situação. Tinha certeza que separaria as coisas. Mas quando comecei a deixar de orar, tudo desandou. Os dias eram muito apertados, as festas, as pessoas.. Tudo! — exclamou.

— Você sempre foi especial e amada, Grace. — falei.

Suas lágrimas desceram ainda mais rápido e Grace abaixou a cabeça. Ela estava envergonhada. Aproximei-me e abracei-a forte. Seus braços me apertaram com toda força e pude ouvir seus soluços intensos e dolorosos.

— É uma pena que ninguém tenha visto a pessoa incrível que você é. Não era você quem estava perdendo! Algumas pessoas não sabem apreciar certas virtudes, mas nunca deve esquentar a sua cabecinha por conta disso... Deus te ama do jeito que você é, Grace. E aquela pessoa não era você. Não deixe que te digam quem você deve ser! Apenas seja você! Mesmo que para elas seu jeito pareça louco, bizarro ou estranho, seja você! Seja o que quiser ser.

— Eu me sinto péssima, Manu. Você nem faz ideia. Eu perdi o único garoto que amei. Deixei minha família, meus amigos e o meu Deus de lado. Como eu posso me desculpar? — perguntou em lágrimas. — Eu nunca vou conseguir curar as feridas das pessoas que feri. Como vou olhar para os meus pais? Como vou me ajoelhar e pedir perdão ao Senhor por tudo o que fiz? Não acredito que eu fui tão fraca! Eu não mereço o perdão de ninguém.

O Milagre: LembrançasKde žijí příběhy. Začni objevovat