Capítulo 6: Apenas uma lágrima

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Apressei-me a tomar um remédio para dor de cabeça, e em seguida, terminei de me vestir. Estava finalizando meu penteado quando Thomas entrou no quarto, avisando que o motorista já estava a nossa espera.

Não demorei nada, assim que fiquei pronta, saímos juntos do quarto. No caminho, Thomas entrelaçou sua mão à minha, e eu amava aquele gesto. Chegamos ao carro e no momento em que a porta foi aberta, entrei.

O frio na minha barriga começava a aparecer. Eu não fazia ideia de como seria esse reencontro. Sim, era assustador, mas necessário. Se eu tinha de aceitar essa nova vida, eu deveria deixar algumas coisas para trás.

Eu tinha muitas coisas a me dedicar, um marido maravilhoso e uma filha incrível. Eles mereciam todo o meu esforço e dedicação, e eu estava mais do que disposta a lutar por todas essas coisas que já eram minhas.

Senhor, cá estou eu. Para ser sincera, não sei se deveria mesmo estar fazendo o que estou a fazer, mas, foi o que senti em meu coração. Me ajude a buscar palavras, sei que elas podem faltar. Tudo está diferente... Menos eu. Ainda me sinto como uma menina, apesar de já ser uma mulher. Então eu imploro, me guie pelo caminho certo. Não deixe-me perder aquilo que eu tenho de ser, por favor.

Pedi em pensamentos, e senti minha mão ser apertada por Thomas. Mesmo sem palavras, ele deixava claro que eu não estava sozinha e por conta disso, sorri fraco. A partir daquele dia, minha vida mudaria drasticamente.

Olhei pela janela, buscando toda coragem que faltava. Estive tão certa, mas agora, estando a um passo de concluir o que precisava, tinha vontade de fugir. De alguma forma, eu me decepcionaria pela segunda vez.

Casas altas e prédios maiores ainda. Paris era outro mundo. Tudo ali gritava que estávamos em território francês. Mas de longe isso era uma coisa ruim, era ótimo ver lugares tão distintos do meu pacato costume.

O carro estacionou em frente à uma casa e rapidamente nós saímos do veículo. Senti meu coração acelerar, mas estava decidida a fazer aquilo. Thomas me lançou um olhar de confiança, e assim, toquei a campainha.

— Fica tranquila. — sussurrou, e assenti com a cabeça.

A porta não demorou a se abrir, e o rosto surpreso de Grace apareceu em minha frente. De blusa branca com uma frase em francês, calça jeans e um lindo salto alto, lá estava ela, incrédula ao me ver. Minha ex melhor amiga.

A maquiagem em seu rosto, me dava a impressão de que Grace estava prestes a sair. Ela estava diferente, mas eu já sabia disso. Não era mais a mesma aparência de minha última memória. Grace parecia madura. Mais velha.

— Manuela... O que faz aqui?

— Eu vim te visitar, eu acho.

"Manuela", raramente ouvia isso da boca de Grace. Sempre me chamava pelo apelido, ou de qualquer outra forma carinhosa. Não era preciso de muito tempo para perceber que ela não era a mesma pessoa de que eu me lembrava.

— Oh... Entrem, por favor. — pediu, abrindo um pouco mais a porta e dando espaço para que nós passássemos.

Fizemos como Grace mandou. Thomas e eu observamos o lugar que era muito bem decorado com mobílias visualmente caras. Haviam alguns quadros pelas paredes, e em nenhum deles tinha uma foto de seus pais.

— Eu fiquei sabendo do que aconteceu. Como vocês estão? Querem beber alguma coisa? Podem se sentar, por favor.

— Na verdade, — Thomas tossiu. — vou deixá-las sozinhas, acho que não vou ser de muita ajuda. Então, Manu, se precisar de mim, estarei aqui fora. — concluiu.

O Milagre: LembrançasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora