— É sua primeira vez em Paris?
Meus olhos ainda o observavam, e sua pergunta de certa forma, deprimiu-me. Não era a primeira vez que visitava aquela cidade, mas era a única que eu lembrava. Aos poucos, o homem levou sua atenção ao meu rosto.
— Na verdade não. — respondi.
Juntei meus braços frente ao meu corpo e entrelacei meus dedos uns aos outros, vendo que a expressão do rapaz à minha frente se tornava um tanto confusa com minha resposta. E apesar disso, evitei dar explicações sobre.
— É que você parece uma turista.
Levantei minhas sobrancelhas e sorri com seu comentário. Era impossível não achar graça daquela situação. Porque, de fato, a forma como eu encarava abobada aquele muro, deixaria claro à qualquer um que eu não morava por ali.
— E tem razão. Eu sou uma turista, visitando a cidade pela segunda vez. Acontece que não conheci todos os pontos turísticos da outra vez que vim, mas estou corrigindo.
— Ah... Faz bem. É uma linda cidade. Mas depois de um tempo vivendo por aqui, todos se acostumam com isso.
— De onde você é? — perguntei.
— Texas, mas estava morando em Nova Iorque.
— Oh, bons lugares. — comentei.
— São sim. Às vezes sinto falta, na verdade, quase sempre. Não me adaptei em Paris, e também acho que nunca vou.
— Quando não nos sentimos bem em um lugar, só temos duas opções. Lutar para ser feliz, ou deixar para ser feliz. Se a primeira não deu certo, é melhor tentar a segunda.
O rapaz assentiu com a cabeça e esboçou um sorriso fraco, algo me dizia que aquele era um conselho que ele precisava. Seu rosto exalava preocupação e um certo desânimo, estava nítido que algo o estava machucando.
— Como você se chama?
— Mason Aldrich. E você?
— Manuela A... Hoston.
— Hoston? — perguntou.
— Isso mesmo. Por quê?
— Um bonito sobrenome.
— Sim.. É do meu esposo.
Por impulso, quase falei meu nome de solteira, esquecendo-me por um minuto de que agora, tudo era diferente. E de alguma forma, já não era tão estranho me ver como uma Hoston. Na verdade, era até agradável.
— Você me pareceu confusa ao falar seu sobrenome. Deixe-me adivinhar! Está em lua de mel, certo? Óbvio!
— Não, não. Eu vim reencontrar uma amiga, descobri que foi um pouco perda de tempo, mas tudo bem por mim.
— Que chato. O que aconteceu?
— Ela não é mais a mesma Grace White que eu conhecia. Se tornou algo que nunca imaginei que seria. É uma pena.
— Grace White? A famosa estilista? Ela realmente não pareceu ser uma pessoa muito legal nas vezes que eu a vi.
Por um descuido, acabei dizendo o nome todo de Grace. Não estava acostumada com a ideia da minha ex melhor amiga ser tão conhecida pelo mundo. Gostaria de consertar o que havia dito, mas já era tarde demais.
— Vocês eram amigas?
— Ah, sim... Éramos.
— Sinto muito por isso.
Respirei fundo e levei meu olhar novamente ao muro, gravando em minha memória todas aquelas declarações de amor, quais estavam espalhadas pelo mundo inteiro. Nunca pensei que algo tão simples, seria tão bonito.
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O Milagre: Lembranças
SpiritualContinuação da obra: O Milagre: Reencontro ❤ Depois de uma semana em coma, Manuela acorda sem ter lembranças de seu marido. A vida do casal se torna uma bagunça, e ambos tentam passar por cima das lutas que parecem não ter fim. Apesar da dificuldade...