Capítulo 10: Prazo de validade

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— Só um minuto. — pedi.

Ouvi um tudo bem do outro lado da chamada e deixei o telefone sobre a mesa antes de me levantar e subir a escada, indo direto ao quarto, onde Thomas estava sentado confortavelmente na cama tendo o notebook em seu colo. Demorou alguns segundos até que o mesmo percebesse minha presença, e quando deu-se por si que eu estava parada em frente a porta, me encarou confuso.

— Tem uma pessoa querendo falar com você.

— Uma pessoa? Quem é? — perguntou.

— Emma... Eu não sei exatamente quem ela é.

Eu não estava me sentindo totalmente confortável com a situação. Mas de maneira alguma demonstraria isso. Afinal de contas, não deveria ser importante para que me sentisse daquela forma boba. Talvez, o que mais tenha me incomodado foi o fato de não fazer a mínima ideia de quem era a pessoa que estava querendo falar com ele e o porquê eu não fui cumprimentada devidamente por ela.

— Ah, é minha assistente. — concluiu, levantando-se imediatamente e saindo do quarto em passos rápidos.

Bufei, jogando-me na cama e ali onde estava, permaneci. Não queria descer, tampouco sair do quarto para nada. Lola estava dormindo, e não havia nada que eu pudesse fazer. Deixei que meus pensamentos me levassem a todos os momentos que havia perdido, perguntando-me em silêncio quando eu os recuperaria e se tudo voltaria a ser como era antes... Pelo menos, era isso o que eu queria.

Não entendia muito bem a função de assistente. Telefonemas aconteciam dessa forma? Era triste saber que já havia outra pessoa fazendo o que antes era meu trabalho. Independentemente da minha memória, eu já não estava mais indo à empresa por conta de Lola. Mesmo que o acidente não tivesse ocorrido, eu permaneceria com a mesma opinião. Minha filha é muito mais importante.

Eu queria participar de cada segundo de sua infância, aproveitar cada momento e estar sempre ali para ela. Nenhuma profissão seria melhor do que isso. Lola era minha prioriedade. Não a queria sendo criada por outra pessoa além de mim, e se quisesse realmente manter o meu trabalho, isso seria necessário. Não foi preciso pensar muito à respeito. Nunca houveram outras opções para mim.

Era incrível como meu sentimento por Lola havia crescido. Foi como se parte de mim, fosse uma parte dela e vice-versa. Apesar de tudo, aquela pequena não parecia ser alguém estranho. Toda vez que a pego no colo ou mesmo coloco meus olhos nos seus, sinto que há um elo inabalável entre nós. E com Thomas, era tudo diferente. Cada coisa era nova, boa e apavorante. Uma confusão.

Cansada de encarar o teto, levantei-me e segui para fora do quarto. Chegando na metade da escada, escutei que Thomas ainda falava ao telefone, mas não atentei meus ouvidos para o que dizia. Saí de casa e sentei-me na varanda. Não demorou muito até que Lily corresse ao meu encontro, sentando-se ao meu lado com seus fortes e bonitos olhos azuis, abanando o rabinho alegremente.

— Oi, garota! — cumprimentei-a.

Ouvi a porta atrás de mim ser aberta e Thomas logo sentou-se ao meu lado, encarando a rua com um sorriso sereno em seu rosto. Desde a nossa ida à praia, ele parecia mais feliz e isso me alegrava. As coisas pareciam estar melhorando entre nós, pelo menos, era o que estava acontecendo. Levei meu olhar confuso ao seu e quando nossos olhos se encontraram, acabei soltando um breve suspiro.

— Charlotte virá te visitar hoje. — avisou.

— Tudo bem! Ficarei feliz por conhecer mais alguém.

— Ela gosta muito de você, sabe? — sorriu.

Encarei a rua, segurando as palavras que pensei em dizer. Já haviam me falado de Charlotte, a noiva de Kieran, meu ex chefe. Segundo as palavras de Claire, era uma boa amiga. Eu não tinha dúvidas que todas as pessoas que me cercavam eram excepcionais. O ruim era que toda vez que eu me dava conta disso, deprimia-me por não conhecê-las como deveria. Nenhuma pessoa merecia ser esquecida.

O Milagre: LembrançasWhere stories live. Discover now