Capítulo 23: Perdendo você

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Emma me encarava fixamente, esperando por minha reação. Não iria fraquejar em sua frente, me manteria forte mesmo que isso custasse todo o meu emocional. Engoli em seco e olhei para o chão antes de voltar a encará-la.

— Você pode tentar fazer disso um jogo, me manipular, me chantagear, mas eu não vou ceder. Meu marido não vai ser preso, eu e minha filha vamos passar todos os nossos dias com ele. Aceite isso de uma vez. — retruquei firmemente.

Para qualquer um, eu parecia certa de minhas palavras. Mas em meu interior, só Deus sabia o que se passava. Medo e insegurança eram sentimentos constantes. Tudo o que me restava agora, era ter fé e deixar o Senhor no controle.

— Acho que você ainda não entendeu a gravidade de toda essa situação. O Thomas está nas minhas mãos, Manuela.

— Thomas está nas mãos do Senhor, e ninguém mais.

— Sua religião não pode te salvar! — gritou.

— Preciso ir, minha filha está me esperando em casa.

— Mantenho minhas palavras anteriores, espero que tome a decisão certa dentro de uma semana. Não vou ser paciente.

Virei de costas e iniciei meu caminho, meu olhar estava fixo no nada. Enquanto me afastava de Emma, respirei o mais fundo que pude, quando finalmente virei a rua, minhas pernas falharam e eu apenas desabei de uma só vez.

Não tive forças para me levantar, e ao perceber isso, uma mulher imediatamente correu em minha direção. Com sua ajuda, me levantei. Eu estava fraca mentalmente e fisicamente, e fingir que não, só piorava minha situação.

— Ei ei, você está bem? — a mulher, perguntou.

— Me desculpe e obrigada! Eu estou bem.

— Tem certeza?

— Sim, eu só tropecei.. Obrigada por isso.

— Por nada. Fique bem! — a mulher, exclamou.

Encostei minhas costas na parede de uma loja, apoiando todo o meu peso na estrutura. Tudo ao meu redor girava, e eu sentia minhas pernas tremerem. Fiquei ali por alguns minutos, afim de recuperar o meu bem estar perdido.

Assim que me senti melhor, voltei minha caminhada até o ponto de táxi. O céu que já estava nublado, trouxe a chuva. Os pingos gélidos chegavam à minha pele, fazendo-me levar meu olhar para cima. Mais uma vez, parei de caminhar.

As pessoas na rua já começavam a correr para esconder-se da chuva, enquanto eu, paralisei. Meus olhos analisavam as nuvens que vagarosamente liberavam as pequenas gotas e eu as observava cair. Havia me esquecido de tal beleza.

O céu estava chorando. Saber disso, me fez questionar do porquê estava segurando minhas lágrimas, se nem mesmo o céu na sua imensidão, conseguia suportar sua dor. Meu choro iniciou-se ali mesmo, em uma calçada qualquer.

Não me preocupou estar em um local público, não me importei com o fato de estar sendo encharcada pela chuva. Tudo o que eu queria era colocar para fora o que sentia. Aquela angústia... Eu queria que a chuva a levasse.

Aleatoriamente, a música Só Deus Sabe da Bruna Karla, veio à minha mente. Não ouvi esse louvor muitas vezes, mas sua letra veio inteiramente em minha cabeça. Sozinha ali e já quase toda ensopada, comecei a sussurrar tal canção:

No silêncio, quando eu estou orando
Deus ouve o que estou falando,
Mesmo humano e imperfeito como sou.

No caminho a vida me pregou mais uma peça,
Não está sendo fácil superar,
Mesmo assim não deixarei de confiar.

O Milagre: LembrançasWhere stories live. Discover now