- Claustrofóbica -

3.4K 292 185
                                    

Desviando dos meninos de piercings e tatuagens exageradas, Célia caminhou rente à piscina. Os olhares estavam todos em suas costas, ela podia sentir.

Olhou para seu moletom deitado sobre o braço e rapidamente o vestiu, anulando assim os olhares para seu vestido cor de rosa à moda Festa do Chá. Percebeu que dentro d'água duas garotas se olhavam e tocavam com tamanha intimidade que ela achou que eram irmãs, até seus lábios se tocarem e as duas afundarem com os "uuuuh" que os garotos de sunga emitiam na borda da piscina.

Desviou o olhar para os próprios pés, tentando se afastar rapidamente. Finalmente encorajou-se a olhar para frente, seus olhos encontraram olhos castanhos e faiscantes feito as pequenas luzes sobre o telhado, portas e janelas da pequena casa azul. Ele sorriu de canto erguendo uma das sobrancelhas, a deixando encabulada e trêmula. Rapidamente, Célia tentou desgrudar seus olhares, pondo toda a sua atenção sobre a garota que dançava descontrolada.

Passou por a cortina de luzinhas coloridas — e pelo garoto de olhos faiscantes –, como se fossem treinados, todos os olhos caíram por sobre ela, deixando a garota ainda mais assustada.

Célia! – ouviu o grito, a voz vinha de algum lugar atrás das garrafas de vodka e whisky.

Hillary logo ergueu a cabeça, junto a um copo transparente preenchido com o líquido rosa que um dia viu sua tia Calista consumir com um único gole quando, de súbito, sua mãe chegava na cozinha.

Você veio mesmo! – gritava por sobre a música alta. – Gente, essa é a primeira festa dela, um viva para a Célia!

O viva soou em uníssono, mais alto que qualquer música. As paredes pareceram tremer assim como as pernas de Célia, seu coração deu voltas e avermelhou-se o rosto, ela sentiu-se quente de maneira que, se encostasse em alguém, com certeza o queimaria.

Então é sua primeira festa? – uma voz rouca e melódica soou seguido de um sorriso baixo e atordoante, apaixonante. – Ótimo, então precisa se divertir como nunca! – ela olhou para trás, procurava o dono da voz, o dono da gargalhada que lhe fez palpitar.

Encontrou os olhos faiscantes. O garoto que a encarara antes de entrar.

Tem razão – Hillary puxou-a pelo braço, e a balançou como se assim a fizesse dançar. As luzes apagaram e centenas de riscos vermelhos e roxos passaram a iluminar o teto e o chão da casa de piscina.

Corpos se esbarravam no seu, Célia estava perdida, balançando com os movimentos frenéticos que a amiga fazia em seus braços.

O toque de Hillary se afastou, a agonia atingiu Célia como um tapa. Por que viera?, seu cérebro gritava. Mal podia pensar, sentiu-se claustrofóbica, apertada, espremida em meio a uma multidão de estranhos.

Hillary! – gritou, mas nem mesmo ela conseguia se escutar.

Vem, vamos sair daqui – uma voz abafada, por conta da música, gritou ao seu ouvido. Sem permitir, foi arrastada para fora. Não reclamou, adorou a idéia de sair daquele pandemônio.

Atravessou a multidão, adentrando um pouco mais a casa da piscina, batendo-se em móveis e sentindo mãos gélidas tocarem a pouca parte exposta de seu corpo.

Ouviu uma porta se abrir, a luz tênue de uma luminária a fez voltar a enxergar, e sua primeira visão roubou seu fôlego.

Pronto, aqui está mais calmo – não precisou gritar, a música passou a ser apenas o som de fundo.

Obrigada, eu... Eu estava me sentindo como uma folha em baixo de uma pedra gigantesca – suspirou, recuperando o fôlego que os olhos do rapaz tirara dela.

MORE THAN WRONGWhere stories live. Discover now