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Célia estava cansada da claustrofóbica sensação que a prendia naquela caixa escura que era a sala onde Crown a levou. A seu lado, um homem analisava uma estátua amarelada de um anjo com apenas uma asa. Notava-se que a asa havia sido quebrada quando o anjo fora transportado, descuidadamente.

Por algum motivo incerto, os olhos vazios da estatueta fizeram Célia se lembrar de Zayn. De como o rapaz olhava para o mundo com uma contemplação incrível, com olhos famintos por desbrava-lo e, claro, continuar seu caminho mesmo que esse seja o lado mais errado para se escolher, mas mesmo assim ele parecia cego. Cego por não notar todo o sentimentos de Célia, cego por pensar que seus “parentes” moveriam um dedo para salvá-lo – eles mesmos o colocaram em risco. Cego ver, mas não querer enxergar.

Uma avassaladora vontade de ter aquele garoto para si invadiu-a, anulando o sentimento de cansaço e desconforto que seu corpo insistia em tomar. Célia queria abraçá-lo tão forte, tão firme...

Olhando pelas janelas, Célia percebeu que o dia morria, outra vez. Um sol crepitante num canto do céu, nuvens sombrias ameaçando impedi-lo de continuar brilhando parecem perturbar a ordem natural das coisas. Ela suspirou.

Havia uma coisa adentrando em seu peito, fazendo seu coração parar, espremendo-o em mãos grosserias e medonhas. Célia soltou um grunhido, roubando a atenção de alguns dos homens para si. Simplesmente não podia evitar aqueles olhares lambendo sua pele.

– Não está quente em baixo de todo esse vestido? – um homem se aproximou, ele veste smocking em um tom escuro de cinza e seus cabelos embalados em gel estão perfeitamente alinhadas para trás.

Célia o deixou sozinho, negando com a cabeça. Caminhando em círculos no meio da sala.

– Vai furar um buraco desse jeito. Acho que Crown não precisa de outra piscina! – aquele mesmo homem se aproximou, um sorriso branco nos lábios e os olhos fincados em Célia, como se ela fosse a ovelha que se perdeu do bando, e ele era o lobo faminto.

Célia segurou aquele olhar por meio segundo antes de desviar sua atenção para a porta. Poderia ter um corpo depois daquelas escadas, o corpo de qualquer um deles... Rezava para não ser o de Zayn.

– Uma coisa não está certa – ela comprimiu os lábios, pondo as pontas dos dedos na maçaneta. – Onde está Harry? – ponderou sobre Crown ter dito que iria resolver o assunto entre os dois rapazes. – Zayn...

Não pode negar que seus sentimentos por Zayn crescem a medida que ele se mete em armações. As revelações parecem mover Célia a querer ajudá-lo – mesmo depois de descobrir sobre o tráfico de drogas e agora de garotas, ainda assim Célia estava pronta para ajudá-lo de qualquer forma que pudesse.

Ela abriu a porta com relutância e observou o corredor vazio e escuro por dois segundos antes de decidir sair. Todo aquele vestido a deixando atordoada. Célia se sente como a princesa presa na torre, vagando pelos comodos a procura do príncipe encantado, que, à propósito, está a lutar contra o mais temível dos dragões. Não há como esse ser o final feliz, não há como emoldurar a última página com um pomposo Para Sempre, não se Zayn não estiver lá, não se ele... Balançou a cabeça, atordoada. Lágrimas inundando seus olhos a cada passo nos silenciosos corredores.

Célia desceu uma pequena leva de escadas composta por quatro ou cinco degraus, e observou outro corredor. Esta vazio. Silêncio.

Correndo na ponta de seus pés descalços, tentando não tropeçar no vestido e cair, Célia logo chegou a temida sala. Tentou não olhar para aquele aquário maldito, passando pela porta entreaberta.

MORE THAN WRONGWhere stories live. Discover now