- Inesperada -

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Algumas roupas estavam sobre a cama, espalhadas como se ele fosse escolher a qual vestir. Puxou um pullover azul e o enfiou na mala, a direita uma calça preta, com alguns cortes na altura da coxa, ele puxou essa também, mas a analisou como se não houvesse problema em admirar cada peças por alguns minutos, como se tivesse tempo o suficiente pra isso. Dobrou-a e a colocou na mala, e assim fez a metade das peças sobre a cama.

Separou um blazer bem cortado, negro, camisa e calça social e os sapatos lustrosos, e os deixou sobre a cadeira da escrivaninha.

Tudo pronto.

Dirigiu-se ao banheiro, despindo-se vagarosamente, deixando as roupas jogadas pelo caminho. Entrou no box, cantarolando alguma coisa em seu mundinho próprio e quase perfeito.

Seus pensamentos o transportavam para um mundo paralelo, o passado.

— Vem aqui — a voz grave do homem de cabelos loiros e fez tirar a atenção do televisor e sorrir ao ver uma grande caixa embalada com papel colorido onde alguns carros vermelhos e azuis cruzavam uma trilha cheia de pássaros e árvores de tronco amarelo e folhas em um tom vivo de verde.

As mãos ligeiras do garotinho passaram sobre o laço vermelho e o puxou com força, perdendo o equilíbrio e tombando para trás. O homem loiro o segurou.

— Calma, rapazinho — sorria. Havia mesmo felicidade naqueles olhos claros como uma tarde ensolarada de primavera.

Retirando o embrulho, o garoto se deparou com uma caixa enorme e transparente, que guardava um lindo avião, duas enormes turbinas abaixo das cumpridas asas cinzentas, o bico pintado em vermelho-sangue e as iniciais “ZM” em preto. Os olhos do garotinho brilhavam com o aeromodelo, abriu a caixa rapidamente, retirando de lá seu presente, estonteante.

Sua boca projetava um grande “O”, mal poderia acreditar no que via.

— Não vai me dá um abraço? — sibilou o homem loiro.

O garotinho correu para abraçar o homem, os braços abertos, um segurava o avião desajeitadamente, mas com a mão livre agarrou o pescoço do homem, enterrando seu rosto em seu peito.

— Gostou? Mandei fazer especialmente para você — murmurou afagando os cabelos curtos do garotinho.

— Humhum — o garoto não vai a hora de brincar com o novo presente.

— Diga obrigado ao papai, filho — a mulher de madeixas de cor chocolate adentrou a sala, o sorriso nos olhos deixava escapar a felicidade de ver o marido a muito sumido, oh, o trabalho. Essas coisas sempre separaram a família.

— Obrigado papai — os olhos amendoados com nuances claras como mel passeavam sobre as asas do avião. Correu pela casa imitando o bagulho e o trajeto que o mesmo fazia, deixando assim os pais sozinhos.

Era uma boa lembrança.

Zayn pegou a toalha dependurada na porta do box e a passou pelo corpo, rapidamente. Enrolou o pano felpudo e branco na altura da cintura e saiu do banheiro. A pequena caixa de cigarros estava sobre a bancada ao lado da porta, ele puxou o pequeno tubo e encontrou, logo ali, o isqueiro com o desenho de um dragão vermelho; aquele pequeno objeto é tudo o que lhe sobrou de quando James o chamava mesmo de filho e o tratava como tal. O que o sangue impede?

Zayn acendeu o cigarro, logo o levando a boca, tragou, profundamente, inalando, para instantes depois deixar escapar, aquela fumaça de odor inolvidável.

Suspirou.

Apanhou uma cueca negra na gaveta da cômoda e a vestiu sem grande cerimônia. Vestiu as calças, a camisa bem passada e branca como nuvens de algodão. Calçou as meias e os sapatos inacreditavelmente brilhantes, olhou de relance, para seu reflexo estampado no espelho emoldurado e grudado a parede de cor mais clara que o marfim. Esta, sem dúvida alguma, muito bonito. Pôs o terno dobrado com muito cuidado estendido e pende em seu antebraço direito, puxou a haste da mala e a arrastou até o final do corredor, deixando a mesma em frente ao elevador.

MORE THAN WRONGWhere stories live. Discover now