- Entorpecida -

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Célia sentiu-se um grão de areia, diminuta, ao lado dos dois. Mas obrigou-se a erguer a cabeça, tentando não parecer anormal. Pôs-se a sorrir, como se visse aquilo todos os dias, tardes e noites.

Não, o namorando de sua melhor amiga não a quis beijar. Não, isso foi apenas efeito dos traços luminosos, vermelhos e roxos. Não, não, não – assim obrigava-se a pensar.

Oh – emitiu após uma eternidade vagando pelos piores pensamentos que poderia ter –, que maravilha. Era isso que tinha a me contar? – faz parecer totalmente interessada. Mas, sinceramente, não conseguia.

Não, quer dizer, também... Mas – a amiga abaixou a cabeça como se procurasse o que iria dizer por sob os pés. – Zayn, pode nos deixar a sós? – Hillary sorriu para ele, erguendo as sobrancelhas como se o assunto fosse de suma importância. Célia supôs que era mesmo muitíssimo importante.

Já sei, já sei – Zayn pôs as mãos nos bolsos de trás do jeans –, assuntos de garotas; meninos não são bem vindos – deu um passo para trás, mas antes de ir embora, curvou-se sobre Hillary e beijou o alto de sua cabeça.

Pela primeira vez, Célia notou as diversas tatuagens expostas nos braços e punhos nus do rapaz. Tremeu.

Hillary se virou, com ar de sonhadora, para Célia. Não deveria ter o feito. Zayn fez sinal, com dois dedos sobre os lábios, lançando um beijo junto a uma piscadela para Célia. A garota corou, e grudou seus olhos na piscina.

Voava entre os insultos que iria fazer para com o novo namoradinho de Hillary.

Eu estou grávida, Célia.

Assim, de súbito, como se não significasse nada, como balões de ar jogados ao vento, como fumaça saindo após o fogo, a amiga resolveu contar-lhe o que deveria ser um segredo, guardado a todas as chaves e portões blindados existentes por todo o universo.

Célia pôs as mãos sobre os lábios, olhando, perplexa, para o rosto congelado no tempo e o garoto que se decipava a passos largos, deixando para trás um caminho de fumaça.

Engoliu em seco, a visão tornou-se turva como se o filho estivesse em sua barriga, não na da Hillary.

C-como?

Eu não sei. Estávamos juntos, na noite de despedida do Liam. Me levou ao quarto e... Aconteceu ali mesmo, com todo o barulho da festa e toda a algazarra – com as mãos passeando por todo o rosto, Hillary contava a sinuosa noite de amor. – Henry estava lá, bêbado, pela primeira vez. Não sei o que me deu.

E você já o conhecia tão bem assim? – sussurrou Célia, estava com os nervos a flor da pele, sentindo uma pequena chama de agonia evoluir em seu peito.

Não, nem mesmo sabia seu nome. Estávamos bêbados... Merda! Foi a pior coisa que já fiz na vida! – sentou-se na beira da piscina, retirando os saltos altíssimos e os pondo ao seu lado. Os membros trêmulos e cada um dos, sabe-se lá quantos, pelos, espalhados por todo o seu corpo, arrepiados.

O Henry sabe? – Célia quis saber, estreitando os olhos para a amiga.

O som alto agora fazia questão de ser apenas a música de fundo, um tanto serena de mais.

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