- Amedrontada -

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A garganta estava seca, o incômodo das mãos do Zayn, misturado às palavras sussurradas bruscamente ao seu ouvido, não deixaram Célia dormir. Agora, ali, novamente na sala de aula, olhando os dedos da senhora Belize movimentarem-se rápidos como fleshes de luz, Célia não consegue mais compreender o que faz vivendo. Nuances de culpa sempre voltam a sua mente de forma abusiva, querendo arrancar as migalhas de felicidade que restaram espalhadas por seu corpo e mente - se é mesmo que existem.

As palavras de ódio que já consegue ouvir Hillary declamando recusam ficarem apenas em sua mente, parece que ecoam por todos os quatro cantos do mundo, ribombando, criando força, para só então atingir Célia em cheio, direto na alma, ultrapassando a carne, o coração... E ela está bem à seu lado, com óculos escuros para cobrir as olheiras ainda mais escuras.

Célia sabe que a culpa não foi inteiramente sua. Zayn não ama a amiga como dito, o tom em sua voz parece impor o ardor fúnebre de ódio eterno pelo mundo.

Por Deus, ele disse que não liga para as palavras de Hillary! Como poderiam amá-lá?

"Mas há olhos por onde eu passo", o que ele quis dizer com isso? - se perguntou, olhando para o teto branco da sala de aula. - Porque tanta raiva? Se ele não quer ser julgado e taxado de sabe-se-lá-o-que não é preciso jurar-me de morte. Por Deus, não, nem era preciso avisar para não contar, nunca contaria nada. O mundo não quer saber se eu perdi minha ingenuidade ou não - gritou internamente.

Os olhos, pesados e inchados, a todo tempo se enchem de lágrimas, ainda não entende o por quê de tudo ter acontecido tão rapidamente. Como pode deixar uma coisa dessas acontecer? E as regalias? E as leis da Igreja? E as ordens da mãe? O que fizera com tudo isso? Porque não usou nada disso? Como foi perder a cabeça assim?

Oh, sim, ninguém saberia respondê-la, nem mesmo o Zayn. Zayn. Outra vez o Zayn bagunçando sua mente sem pedir licença.

O que esse garoto tem?

Não é possível que aqueles olhos luminosos e o morder de lábios estejam fazendo Célia suspirar! Não, não pode! O que sua mãe diria ao vê-la com um garoto desse tipo? O que Hillary acharia da a idéia maluca de dividir seu namorado com a melhor amiga? Divertido, não? Não mesmo! Nem mesmo um pouco!

- Senhorita Montês, está prestando atenção? - Célia estava realmente em outro mundo, um mundo tão distante que a voz de Belize tornou-se um sopro. - Senhorita Montês!

- Sim? - enfim conseguiu se apagar a voz estridente da professora de espanhol.

Todos os olhos caiam por sobre seus ombros, Célia bem sabe.

- A chamada querida, a chamada.

- Me desculpe - disse enferma - Presente.

A professora a observou passar as mãos sobre as bochechas e a testa, a enxaqueca parecia se aflorar no final das contas e subir até o centro dos olhos - onde mais dói.

- Está tudo bem? - a professora se esticou para frente, sussurrando, lhe apontando a caneta rosa-fluorescente.

Célia balançou a cabeça, não para negar, sim para tentar expulsar a dor e, mais importante, os sussurros que ecoam por seus ouvidos. Sussurros de prazer e medo.

- É só... Só uma dor de cabeça, vai passar - forçou um sorriso.

- Tem mesmo certeza?

Célia confirmou.

- Ótimo - a professora sorriu e voltou a chamada, nomes e mais nomes. A chamada dura normalmente trinta minutos, quem mandou estudar na sala mais populosa?

MORE THAN WRONGWhere stories live. Discover now