II - A ressaca e o esquilo

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        Ressaca: B infrm. mal-estar causado pela ingestão de bebidas alcoólicas. fig. inconstância, volubilidade.



Acordei com a pior ressaca da minha vida. Tentei levantar a cabeça, mas doía tanto que senti ela pender de um lado para o outro e meu corpo quase foi junto. Era como se uma luta acontecesse dentro de minha cabeça, mas o único alvo era a própria, os lutadores socando e socando meu cérebro até cansarem.

E o pior de tudo: eu não lembrava de nada. Minha mente chegava até o ponto em que eu entrava na festa com as meninas, apenas. Depois disso, era um apagão total, como se a única coisa que tivesse acontecido fosse as pessoas me encarando na festa. E então, eu estava ali. Mas como?

Eu estava em cima de algo fofinho e confortável, então devia estar em casa. Alguém, espero eu que minhas amigas, devia ter me trazido.

Infelizmente, eu ainda não conseguia garantir que eu estava mesmo em minha cama. Qualquer indício de abrir os olhos e meu cérebro acordava, os lutadores gritando e voltando a socar. Com os olhos fechados ainda doía, mas se eu os abrisse, os lutadores provavelmente ficariam bravos e fariam um estrago pior.

Então eu esperei um tempo. Fiquei em silêncio, tentando lembrar de alguma coisa, qualquer coisa que fosse. Mas meu cérebro parecia querer me contrariar e quanto mais eu tentava lembrar, mais eu esquecia.

Poucos minutos, pelo que concluí, bastaram para que eu conseguisse abrir os olhos. Foi a pior ideia que já tive.

Arregalei os olhos, e, soltando um grito provavelmente desnecessário, levantei rápido a cabeça. Outra ideia ruim. Não estava na minha glória.

Bati com a cabeça em uma árvore e soltei um grunhido de dor, levando as mãos a cabeça. A sensação era de que minha cabeça havia explodido e aquilo ali em cima do meu pescoço era outra coisa. Eu não sei o que, mas minha cabeça não devia mais estar no lugar.

Eu estava em uma floresta. Árvores, árvores e mais árvores a minha volta. Tudo que eu via, para meu pavor, era mato. Era difícil até encontrar palavras para explicar mais alguma coisa, porque eu não estava entendendo absolutamente nada.

Soltei o ar devagar, segurando a esperança de que ainda não era hora de entrar em pânico. Eu não devia estar tão longe, podia ligar para alguém. Brad, meus pais, Eva ou Cindy. O sinal devia pegar ali.

Sorrindo para mim mesma e tendo certeza que tudo estava bem, coloquei a mão no bolso de meu amado casaco vermelho. Foi nesse momento, nesse exato momento, que senti que fosse desmaiar ou, sei lá, ter um ataque cardíaco.

Parei de sorrir ao perceber que meu celular não estava em meu bolso. Engoli em seco, verificando o bolso do outro lado. Sorri novamente, mas dessa vez de nervoso. Tipo, muito nervoso. Muito mesmo.

Eu não estava com meu celular e não havia sequer um centavo em meus bolsos. Vasculhei em tudo, até em meu sutiã, mas eu não tinha nada que pudesse me ajudar a chegar em casa.

Agora sim era hora de entrar em pânico.

Olhei em volta e a dor de cabeça mortal pareceu a menor das minhas preocupações. Se haviam florestas em Aspen, eu não sabia. E se eu não estava em Aspen, pelo amor de Deus, onde eu estava?

Até comecei a chorar, mas o choro ficou preso em minha garganta quando ouvi o barulho. Eu poderia ficar feliz por ser um sinal de civilização, mas eu estava no meio do mato, sozinha e sem celular. O sinal de civilização podia me matar.

Devagar, eu me abaixei e peguei a maior pedra que consegui encontrar. Não mataria ninguém, mas já era alguma coisa. Não que eu quisesse matar alguém –não hoje–, mas é bom estar preparada.

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