XXX - Back to home

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Desci do carro de mamãe apertando a mochila contra meu corpo, temendo o choque que estava prestes a tomar.

Deparar-me com minha própria casa nunca foi tão estranho. Não me lembrava de ser tudo não grande, desde a casa incrivelmente linda e majestosa, até o muitíssimo bem cuidado jardim, que não ficava nem um pouco para trás em relação ao tamanho. Os detalhes, que agora eram nítidos, haviam escapado sutilmente de minha memória. Era como se eu estivesse descobrindo um lugar totalmente novo.

Enquanto Verônica caminhava tranquilamente para dentro de casa, segui a passos mais lentos. Eu observava cada canto, cada pequeno detalhe do jardim, inclusive as flores vermelhas que mamãe e eu tanto gostamos. Parecia um animalzinho encurralado.

O mais surpreendente foi, em pouco tempo, perceber que eu estava me sentindo estranha na minha própria casa. Dezessete anos vivendo ali e apenas alguns dias haviam mudado totalmente minha concepção das coisas.

Era impossível não comparar o silêncio estrondoso da casa com o barulho constante do orfanato. Ali, era até possível ouvir o barulho dos sapatos de minha mãe. No orfanato, era impossível você passar o dia sem ouvir pelo menos uma risada alta.

Mamãe me olhou.

— Você não vem, Vee? — Perguntou.

Ergui as sobrancelhas e a olhei, afirmando com a cabeça e tratando rapidamente de acelerar os passos.

Me surpreendi mais ainda ao entrar em casa, o que foi basicamente como entrar em um planeta diferente. Não era a madeira do orfanato, não haviam os quadros com fotos das crianças. Era tudo sofisticado, a decoração combinando e os móveis muito mais organizados, tudo seguindo um único contexto feito uma paleta de cores.

Não que eu esteja reclamando, porque, de fato, esse tipo de conforto é maravilhoso. Estava um pouco... Desacostumada. Ultimamente, aconchegante tinha um significado meio diferente para mim.

Sarah, nossa cozinheira, e Bartolomeu (chamamos ele de Bart), nosso jardineiro, estavam na sala. Os dois estavam um do lado do outro e ambos arregalaram os olhos ao me ver. Sarah até deu um passo em minha direção, mas mudou de ideia.

Franzi a testa. Se isso fosse antes, eu não me importaria. Mas agora, eu fazia questão de esclarecer aquilo. Se eu estava de volta, era para ser uma pessoa melhor.

Sorri para os dois e dei uma corridinha graciosa pelo tapete da sala, puxando ambos para um abraço.

Sarah e Bart pareceram surpresos, mas, aos poucos, retribuíram o abraço. Talvez achassem que eu tivesse sido abduzida por alienígenas e que eles teriam mexido na minha cabeça, ou sequestrada por cientistas, que usaram meu cérebro em pesquisas científicas e colocado um falso no lugar.

— Senti saudades de vocês. — Suspirei, apertando-os. — Saudades de verdade...

Assim que os soltei, Sarah sorriu fraco para mim e tocou meu rosto com as duas as mãos, colocando cuidadosamente os fios em seus devidos lugares.

— Estamos felizes que você voltou para casa. — Ela disse. — Não sei pelo que você passou, querida, mas agora está aqui.

— Você seguiu à risca o conselho. — Disse Bart. O olhei, confusa. Ele acrescentou: — Não importa o que aconteça, você sempre vai dar um jeito de voltar para casa.

Sorri fraco para Sarah e Bart. Tive vontade de chorar, confesso, mas precisei reprimi-la bem lá no fundo do meu ser. Já havia chorado demais. Agora eu precisava apenas seguir meu barquinho rumo a felicidade.

Mesmo que fosse difícil.

Despedi-me por hora de Sarah e Bart. Estava com saudades de meu quarto e, acima de tudo, cansada. Após um assalto, um final de semana incrível, decepções, ser presa e solta em questão de minutos... Tudo que eu precisava era descansar. E bastante.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now