VII - Pequeno acidente

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O dia anterior havia sido tranquilizador, como um calmante para acalmar meu coração e meus pensamentos, pelo menos por um tempo. Naquela noite, eu dormi bem e sonhei com morangos coloridos voando pelo espaço e cantando Criminal, da Britney Spears.

Mais rápido do que devia ser normal, eu acordei e fitei o teto branco com um ventilador de teto meio danificado. Eu tinha medo que aquilo alguma hora caísse, mas o único defeito visível dele era não fazer tanto vento.

O que naquela manhã acabou me servindo, porque o frio estava mais do que óbvio, mesmo com a janela fechada. Fiquei de pé rápido e troquei de roupa as pressas, lembrando de vestir meu casaco vermelho. Vai que dá sorte ou algo assim.

Era hoje. O dia de ajudar Olívia e o tal Austin na biblioteca para ganhar uns trocados, trocados esses que me ajudariam a voltar para casa.

Encontrei Adam na frente do orfanato, aceitando humildemente as piadinhas dele sobre meu primeiro dia de trabalho. Ele, ao contrário de mim, parecia muito feliz com o lance da biblioteca.

Não que eu estivesse reclamando de receber dinheiro, mas eu ia arrumar livros e cadernos para isso. Eu não vim ao mundo com esse tipo de propósito, mas acho que posso aturá-lo.

— Parece que você dormiu bem. — Adam observou, mas eu permaneci em silêncio. — Teve bons sonhos, capitã cheia da grana?

— Capitã cheia da grana? — eu repeti, franzindo o nariz.

Ele deu de ombros, com uma risadinha, o que definitivamente não me arrancou nenhum sorriso. Acho que Adam estava começando a se acostumar com isso: fazer as piadas apenas para me ver estreitar os olhos, franzir o nariz e manda-lo calar a boca.

Nós chegamos na biblioteca e eu achei que Adam fosse voltar para o orfanato, mas ele me acompanhou lá para dentro. O lugar era muito bonito, tinha um ar simples e confortável, com uma lâmpada de luz meio amarelada, que iluminava apenas o suficiente. Imaginei que fosse confortável para os leitores, já que as poucas janelas estavam escondidas atrás das cortinas marrons.

Olívia, a irmã gêmea de Owen, passou por nós segurando uma caixa cheia de livros. Ela sorriu gentilmente, se virando para Adam e eu.

— Quem bom que vocês chegaram. — disse ela. — Austin está lá atrás, vocês podem ir lá. Daqui a pouco ele vem aqui me ajudar.

Adam se virou para ir lá para trás, mas parou ao perceber que eu ainda não havia dado sequer um passo. Ele ergueu uma das sobrancelhas, mas eu indiquei as estantes com a cabeça e Adam suspirou, voltando a andar e me deixando sozinha com Olívia.

— Você vai perguntar porque decidimos ajudar você. — Olívia sugeriu sutilmente, colocando a caixa sobre uma das mesas.

— Não. — respondi rapidamente, mas franzi a testa. — Na verdade, eu ia... — suspirei. — Mas agora eu só quero agradecer, eu acho. Por me ajudar.

Isso, pelo menos, eu tinha consciência que eu devia fazer. Você não pode deixar as pessoas ajudarem você de todas as formas sem dizer nem um pequeno "obrigada". Brad faria algo assim.

Meu rosto se contorceu em uma careta ao lembrar de Brad e suas mentiras, mas Olívia não reparou. Ou decidiu que apreciar meu agradecimento era mais importante.

— Todos aqui precisaram de ajuda um dia, Vênus. Eu e o Owen, o Adam, Emma e Jordan... — Olívia sorriu fraco. — Nós sabemos que sem ajuda ninguém consegue o que quer. Você merece essa ajuda.

Eu não sabia se eu merecia mesmo essa ajuda, porque eu não era nenhum anjo, mas decidi que não era hora de contestar Olívia. Então apenas sorri e acenei com a cabeça, seguindo meu caminho.

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