IV - O anjo Mercedes

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Depois que Jordan foi levar Emma para descansar e também para interroga-la sobre ter sido presa e ter feito uma amiga na cadeia, Adam foi me levar para conhecer Mercedes, a dona do orfanato.

Eu o acompanhei pelos corredores, sem conseguir esconder a careta. Não fedia nem nada do tipo, mas a diferença desse lugar e dos lugares que estou acostumava me incomodava um pouco. Estava sentindo falta dos lustres, do barulho dos sapatos altos e dos quadros caros nas paredes.

— Eu não sei de onde você vem, riquinha — Adam disse de repente, chamando minha atenção —, mas se continuar olhando assim para as coisas e para as pessoas, vou ter que te enxotar daqui.

Foi nesse exato momento em que toda simpatia que eu tinha por Adam desapareceu. Assim que me virei para ele, o garoto estava me encarando com uma tranquilidade absurda, como quem tivesse acabado de me dar bom dia e não ameaçado de me botar para fora.

Riquinha? Você nem me conhece! — disparei, irritada.

Adam me deu um sorriso extremamente cínico, desinteressado em minha opinião. Eu abri a boca para dizer mais alguma coisa, mas não deu tempo, porque Adam abriu uma porta de repente, sinalizando para que eu entrasse.

— Devia abaixar a guarda, donzela, dona Mercedes não é um dragão que você precisa enfrentar. — Adam disse, piscando para mim.

Eu revirei os olhos e entrei na sala, fechando a porta sem nem me importar com a reação de Adam. Quanto menos eu tivesse que lidar com ele, melhor.

Ao me virar, me deparei com uma senhorinha baixinha bochechuda, que ergueu as sobrancelhas ao me ver praticamente bater a porta. Ela não era gorda e nem baixinha demais, mas a palavra alta seria um exagero. Os olhos castanhos eram calorosos e ela parecia ser simpática.

— Você deve ser a menina nova. — Mercedes disse, ficando de pé.

Ergui as sobrancelhas e fiz que não com a cabeça, tirando o casaco.

— Ah, não. Quero dizer, eu não sou daqui, mas não posso ficar. — respondi, um pouco rápido e talvez soando mais indelicada do que pretendia. — Preciso ir para casa.

Mercedes pareceu surpresa com minha resposta. Ela deu um sorriso confuso e afirmou devagar com a cabeça, se apoiando na mesa e colocando as mãos sobre a mesma, de forma descontraída.

— Pode me contar o que aconteceu com você? Seu nome, de onde você vem, o que precisa exatamente... Só assim posso ver como ajuda-la. — Mercedes disse.

Precisar contar toda a história outra vez me desanimou tanto que precisei me sentar na poltrona, relaxando as costas no encosto. Sorri fraco para Mercedes que, sem parecer surpresa com meu comportamento, devolveu o sorriso.

— Meu nome é Vênus Marshall e fui a uma festa, mas não sei o que aconteceu, eu não lembro de nada. — contei. — E quando eu acordei, hoje cedo, eu estava no meio da floresta, sem celular e nem dinheiro.

Mercedes franziu a testa, interessada.

— Quando cheguei na cidade, eu fui até o mercado, porque queria comer, então escondi comida no casaco... Não foi certo, eu sei. — eu lembrei, suspirando. — Mas aí a comida caiu, o dono do mercado chamou a polícia e eu fui presa. Foi aí que eu conheci a Emma.

— E de onde você vem? — Mercedes perguntou.

— Aspen. — respondi, determinada. — Venho de Aspen, não sei como vim parar aqui. Não sei como voltar para casa e não tenho onde ficar.

Mercedes, por um tempo, ficou em silêncio. Apenas quando mencionei Aspen ela pareceu diferente, surpresa, mas não disse nada. Ficou apenas pensando, encarando o vazio a sua frente, como se houvesse uma fonte da sabedoria ali.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now