XXIII - Surpresa! (Por favor, não atire)

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Tudo aconteceu tão rápido que quase pude ver os anjos me recebendo nos céus.

O menino do cabelo colorido grunhiu nada graciosamente, batendo de costas contra a porta da caminhonete e deixando a arma escorregar de seus dedos.

Adam começou a gritar enquanto freava o carro. Não duvido que ele tenha falado uma outra língua enquanto berrava xingamentos e palavras confusas, provavelmente noventa e nove por cento delas me chamando de louca.

Gritei para que Adam parasse de gritar e berrei assim que a caminhonete finalmente freou. Me estiquei o máximo que pude, balançando os braços para que o garoto não conseguisse completar o meu objetivo antes de mim.

Qual era o meu objetivo?

Boa pergunta.

Agarrei a arma com tanta determinação que o pânico por ela poder disparar acidentalmente só veio depois. Prestes a soltar a arma e implorar por perdão, eu percebi uma coisa. O detalhe mais importante da minha vida.

A arma não tinha sequer uma bala.

O garoto esticou o corpo esguio sobre mim, tentando puxar a arma de minhas mãos. Todo mundo gritava, mas eu só me concentrava em arranjar um jeito de não deixar que ninguém tirasse aquela arma de mim.

— Chega! — Gritei, empurrando o garoto contra a porta novamente. — Eu vou atirar em você!

Não, eu não ia. Nem se a arma estivesse carregada.

O garoto me olhou com um certo desprezo, os olhos fervilhando de raiva. Ele certamente estava interessado em arrancar-me da caminhonete, mas aparentemente permanecer em silêncio se tornou uma opção melhor.

— Você vai descer do carro. — Falei, apertando firme a arma em minhas mãos. — E vai para o hospital cuidar desse nariz, certo?

Sem me olhar diretamente nos olhos, o garoto afirmou com a cabeça. Não fez questão de pedir a arma de volta, não abriu a boca para absolutamente nada. Em silêncio, desceu da caminhonete e fechou a porta, deixando-nos sozinhos.

Adam não estava olhando para mim. Tinha os olhos fixos no espaço a nossa frente, observando vagamente as árvores escuras.

Mesmo que ainda não tivesse gritado que sou louca, eu sentia que algo perto disso poderia acontecer a qualquer momento. Seus olhos evitavam tudo que não se encontrasse exatamente a sua frente.

— Você não tem ideia do quanto eu queria esganar você agora, Vênus. — Disse ele. Apenas.

— Adam, eu... — Comecei.

— Você o que?! — Adam disparou. — Você enlouqueceu, certo? Você podia estar morta agora, Vênus! Isso foi uma loucura!

— Mas eu não estou! — tentei argumentar, mesmo sabendo que podia estar errada. — A arma não tem bala nenhuma e...

— Podia ter, Vênus! — Adam esbravejou, virando-se para mim. — E se tivesse, hum? Ele ia atirar em você, ia atirar em mim! Estaríamos todos mortos!

Percebi que era melhor deixar Adam falar. Eu deixaria que ele falasse, falasse e falasse até que toda a raiva e adrenalina do susto passassem. Não o interromperia, porque sabia que em parte –ou totalmente– ele tinha razão. Eu havia feito uma loucura que nos colocara em um risco extremo.

— Não pode arriscar sua vida desse jeito, não entende? Sua vida não é um copo que dá para trocar quando quebrar ou der vontade! Você é... — Mesmo irritado, ele parou para pensar. Nunca havia visto Adam desse jeito. — Inconsequente! Inconsequente, maluca, impulsiva e...

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