XXVI - Entre chamas e fotos

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Não era tão agradável precisar me despedir de parte da família de Adam. Era difícil, depois de arrumar as mochilas, ter que voltar a sala, encarar Olga, Tom e Peter e dizer tchau. Após poucos dias, era como se os conhecesse a anos.

Adam estava conversando com Peter enquanto arrumava as coisas na caminhonete. Os dois estavam felizes e, vez ou outra, Peter soltava uma gargalhada enquanto Adam fazia uma careta. Ou vice-versa.

Eu ainda estava perto da porta, abraçando a mochila xadrez –que alternava entre tons de vermelho e preto–. Meus olhos acompanhavam silenciosamente tudo a volta, enquanto eu tentava decorar tudo. Os movimentos das folhas das árvores, o curso que o rio seguia, o cheiro dos pãezinhos de Tom...

Talvez eu pudesse voltar ali logo, mas ultimamente as coisas vem se tornando um pouco vagas, complicadas demais de entender e rápidas demais para poder acompanhar como elas mudavam. Minha vida era uma montanha russa maluca.

— Querida? — Dona Olga chamou.

Olhei por cima do ombro, provavelmente parecendo infantil enquanto abraçava uma mochila e tinha um olhar de cachorrinho que ficou para trás na mudança.

Olga sorriu e aproximou-se devagar, encostando ao meu lado na porta. Cruzou os braços, observando os netos discutirem entre si qual era a melhor forma de cortar a lenha. Eu ficava admirada com como eles mudavam de assunto tão rápido.

— Adam é um bom garoto. Um garoto incrível, na verdade. Ele é doce como o Tom, mas tem uma força linda... — Olga sorriu. — Ele gosta mesmo de você, dá para ver nos olhos dele.

Olhei para Olga. Era possível que ela não soubesse de como o coração de Adam havia sido machucado. Também era difícil que Adam tivesse dito a Olga que eu o havia feito ver as coisas de um jeito melhor. Ela teria percebido isso por si mesma?

— Da última vez que ele veio aqui, estava meio triste. — Contou Olga, como se lesse meus pensamentos, mas ainda quisesse me deixar na dúvida. — Perguntamos e perguntamos, mas ele não disse. Agora ele está feliz.

Sorri fraco, um tanto quanto satisfeita comigo mesma. Olhei para Adam e Peter novamente, mas dessa vez Adam já parecia pronto. Ele sorriu e fez um sinal para que eu me aproximasse, mandando um beijo para a avó logo em seguida.

— Eu gosto mesmo do Adam, dona Olga. — falei, baixinho, quase que sussurrando.

— Eu sei. — Olga disse, mandando um beijo para Adam. — Dá para ver nos seus olhos também.

Nós nos despedimos de Olga, Tom e Peter diversas vezes. Demorou para que criássemos vergonha em nossas caras e entrássemos na caminhonete, decididos a partir de volta para Everwood.

Concordamos que voltar de manhã seria o melhor a se fazer. Chegaríamos em Everwood quase no finzinho da tarde, quando o sol estaria se pondo e estaríamos seguros contra incidentes como o da nossa vinda.

E de fato, estava sendo melhor viajar durante a manhã. A música Versace on the floor, do Bruno Mars, tocava na rádio e Adam e eu cantávamos em conjunto com a música, só que mais baixinho, como se estivéssemos com preguiça. E estávamos.

Algumas vezes, eu deixava de cantar para bocejar e acabava esquecendo a letra. O mesmo acontecia com Adam, com a pequena diferença de que seus bocejos eram mais longos.

Soltei um suspiro após finalmente deixar apenas a belíssima voz de Bruno Mars recair sobre nós. Adam passou a intercalar apenas entre bocejos altos e bocejos baixos, esperando silenciosamente a próxima música.

Cansada, deitei a cabeça no ombro de Adam e fechei os olhos, apoiando a mão em seu braço. Mesmo sem ver, eu podia arriscar que ele estava sorrindo.

Quero voltar para casa Where stories live. Discover now